Vítimas foram baleadas por trio dentro de casa. 'Jovens de bem', afirma família
Menos de 24 horas depois de viver o pior momento da vida, o catador de material reciclável Guilherme Ferreira de Jesus, 64 anos, mantém firme a postura de um pai de sete que, para além do luto, tem pela frente mais uma difícil atribuição: viabilizar o enterro dos três filhos mais novos.
Sem dinheiro, Guilherme decidiu procurar antigos chefes e conhecidos para, com sorte, conseguir colaboração financeira e comprar os caixões de Evelin, 19, Élisson, 21, e Elenilton Santos de Jesus, 23 - assassinados a tiros dentro de casa, no final da manhã desta segunda-feira (23), no bairro de Sete de Abril, em Salvador.
No bairro em que a família já mora há mais de 30 anos, comenta ele, o nome do suposto autor dos assassinatos é especulado pelos vizinhos. Uma briga de Élisson com um outro morador, identificado apenas como Giovane, seria a motivação. A esposa do catador, mãe dos “meninos”, estava em casa quando os filhos foram surpreendidos e mortos.
Era meio-dia em ponto, Evelin tinha ido até a laje, onde os irmãos trabalhavam numa obra de extensão do imóvel, quando tudo aconteceu. O pai, que resolvia questões de um empréstimo no banco, acredita que a caçula e Elenilton não foram poupados porque serviriam de testemunhas do crime.
“Quando cheguei, encontrei já todos mortos. Meus filhos não eram bandidos, eles trabalhavam e estudavam, não eram drogados”, garante Guilherme, que, entre um apelo e outro aos conhecidos, por telefone, reitera a crueldade com que tiraram a vida dos três filhos.
‘Jovens de bem’
Além das vítimas, Guilherme e a esposa tiveram outros quatro filhos, todos já casados e fora de casa. Os únicos ainda sob o mesmo teto dos pais, Evelin, Élisson e Elenilton, destaca o catador, “não davam trabalho”.
A jovem, que estudava o último ano do ensino médio no Colégio Eraldo Tinoco, em Sete de Abril, andava pensando no que estudaria na faculdade, diz o pai. Já os meninos, costumavam, juntos, fazer bicos em obras de construção, completa Guilherme.
“Agora é isso, meus filhos, tão modernos, agora estão mortos. Não tem mais o que fazer”, conclui, na sala de espera do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, na manhã desta terça-feira (24), ainda sem estimativa de quando vai poder liberar, velar e enterrar os três.
Ao lado pai, a estudante de Pedagogia Eleni de Jesus, 24, conta que saiu de casa há um mês, após casar. Comenta que, caso estivesse no momento, também poderia estar morta.
“Tiraram a vida dos meus irmãos, assim, do nada. Minha irmã, tão jovem, estava pensando no que ia estudar, mas tiraram os sonhos dela, dos três, Evelin sonhava tanto”, lamenta, aos prantos.
Motivação
À reportagem, Eleni reforçou que o que os pais têm de informação sobre o triplo homicídio está atribuída aos boatos da briga do irmão, Élisson, com um outro jovem, também morador do bairro, no sábado (21). O motivo do desentendimento, contudo, não chegou ao conhecimento da família.
“A gente não sabe o que houve, mas todos os moradores lá viram a tal da briga. Soube que ele [Giovane] disse a Élisson: ‘O que é seu está guardado’. Só sei que eles [bandidos] chegaram, minha mãe tinha ido deitar porque tinha se sentido mal. Evelin foi na laje levar a comida dos meninos e foi nesse momento”.
À filha, a mãe relatou que viu pela janela quando os três homens, desconhecidos, deixaram a casa, sem dizer nada. Baleados em várias partes do corpo, todos morreram ainda no local, às vistas da matriarca.
De acordo com Eleni, os pais já foram ouvidos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mas ainda não tiveram novas informações. Ao CORREIO, a Polícia Civil informou que outras testemunhas estão convocadas e devem prestar depoimento nos próximos dias. A autoria e motivação do crime são investigadas pela Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM), sob a titularidade do delegado Odair Carneiro.
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