O currículo impressiona: segunda maior baía do mundo (atrás apenas do Golfo de Bengala, na Ásia), 56 ilhas e 18 municípios ao redor. A Baía de Todos os Santos (BTS) é cheia de títulos – inclusive, é apontada como a origem do desenvolvimento econômico do Brasil e é considerada até a sede da chamada Amazônia Azul.
Mas ela quer mais: agora, a campanha é para que ela seja aceita no seleto clube das mais belas baías do mundo (The Most Beautiful Bays in the World). O grupo, formado por 37 baías espalhadas por todos os continentes, foi fundado em 2002 e é uma espécie de rede de relacionamentos para discutir problemas e soluções. Esta semana, uma comissão técnica do clube chegou a Salvador para avaliar a BTS, cuja candidatura foi proposta em fevereiro deste ano, em um evento nas Filipinas.
“Fomos para o clube porque, onde tem baía, tem negócio. O encantamento é forte e tem a beleza natural, mas não é só isso. A beleza insinua tudo, inclusive negócios”, explica Eduardo Athayde, diretor da Associação Comercial da Bahia (ACB). A entidade é uma das que apoiam a candidatura.
Hoje, os representantes do clube, que incluem o presidente eleito da entidade, o canadense Michel Bujold, e o vice-presidente para a América Latina, o argentino Henrique Litman, vão fazer um passeio para conhecer a BTS. Segundo a presidente da Fundação Baía Viva, Isabela Suarez, o roteiro inclui pontos como Ilha dos Frades e Ilha de Cajaíba, em São Francisco do Conde. “Em seguida, faremos a contracosta de Itaparica, estação ecológica da Ilha do Medo e ilhas do Paraguaçu”.
O resultado — se a baía vai fazer parte ou não do grupo — deve sair ainda este mês, segundo Michel Bujold. “A primeira impressão é que existe muito apoio à candidatura da BTS e isso é muito importante”, diz o presidente eleito, afirmando também que o apoio local à candidatura é um dos critérios de admissão na entidade. O certificado final só será entregue à BTS em novembro, no México.
Tem um ‘quê’ a mais
Outro dos critérios de seleção é ter um diferencial, algo que se destaque. Mas isso não é problema, na opinião do professor titular do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jailson Andrade, coordenador do Instituto Kirimurê, que estuda a BTS.
Segundo ele, o desenvolvimento econômico do Brasil se moldou a partir dela, desde os engenhos até o desenvolvimento industrial que envolve a Base Naval de Aratu e o Polo Industrial de Camaçari. “A nossa baía é um caso de amor para os baianos. É um local extremamente agradável: tem as ilhas, que são destinos turísticos importantes e com praias de água morna”.
A BTS também está no centro do litoral brasileiro. Ou melhor: da Amazônia Azul, conceito criado pela Marinha há mais de dez anos. Hoje, compreende uma faixa de 3,6 milhões de km² no oceano que o Brasil tem jurisdição e direito de explorar - também é o chamado “território molhado”. Em 2014, a ACB declarou que a BTS seria a sede da Amazônia Azul.
Oficialmente, a Marinha não dá esse título à baía, segundo o capitão de fragata Flávio Almeida, assessor do 2º Distrito Naval. “O conceito de Amazônia Azul é todo o território brasileiro. Mas iniciativas como a da associação são bem-vindas, porque contribuem para dar à sociedade a imagem da relevância desse patrimônio”, diz.
Modelo de gestão
A partir da participação do clube e de iniciativas como a Amazônia Azul, a ACB espera chegar a um novo modelo de gestão para a baía. “A ACB começou a fazer um trabalho de buscar uma nova governança para a BTS e a proposta de criação de uma agência de gestão. Por isso vem juntando atores nacionais e internacionais abrindo o debate”, diz Athayde. O modelo pode ser inspirado, inclusive, na Baía de São Francisco, na Califórnia, que tem uma agência de gestão composta por entes federais, estaduais, municipais e não governamentais.
Para o presidente da ACB, Luiz Fernando Queiroz, a participação no clube deve trazer visibilidade e atrair investimentos. Já o comodoro do Yacht Clube da Bahia, Marcelo Sacramento, afirmou que é preciso “juntar esforços de forma ampla para que esse tesouro (a baía) seja contemplado de forma que venha a gerar emprego, renda e visibilidade”.
Para o diretor da Bahia Marina, Reynaldo Loureiro, também é preciso discutir o desenvolvimento das cidades da BTS. “Se você não criar riquezas em terra, não adianta falar do mar. A Bahia Marina teve viabilidade porque está dentro de uma cidade que a terra tem ocupação”.
Fórum debate formas de gestão das baías
Para debater novas formas de governança de baías, além do potencial de desenvolvimento econômico sustentável da Baía de Todos os Santos (BTS), o CORREIO, a Associação Comercial da Bahia (ACB) e o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) promovem, na próxima quarta-feira, o II Fórum Internacional sobre Gestão de Baías, como parte da Semana do Meio Ambiente. Com início previsto para as 14h, o evento vai acontecer na sede da ACB, na Praça Conde dos Arcos, no Comércio.
Entre os palestrantes, estão o gestor da Baía de Guanabara, Guido Gelli, e o da Baía de Chesapeake (Estados Unidos), Robert Summers. Do painel sobre investimento sustentável na BTS participam os secretários de Turismo do estado, Nelson Pellegrino, e de Salvador, Érico Mendonça. “A BTS é a maior baía tropical do mundo, mas temos duas entre as três maiores do Brasil. Por isso, estamos pensando também em propor a Baía de Camamu (para o clube)”, disse Pellegrino. Mendonça defende um trabalho articulado entre as cidades. “Queremos uma governança com todos os municípios”, diz.
O evento é gratuito, mas as vagas são limitadas. Para se inscrever, é preciso enviar um e-mail para
Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
. Mais informações pelo telefone (71) 3203-1480.
< Anterior | Próximo > |
---|