Entre as características da mulher brasileira que sofre com a doença está a falta de planejamento da gravidez (Foto: Márcio Fernandes l Estadão Conteúdo)
"Ainda tem gente que diz que é frescura, coisa de mulher fraca. Que as mulheres do passado não tinham isso. Tinham sim. O problema é que elas não tinham a quem recorrer e tinha medo do preconceito caso falassem o que estavam sentindo", afirma uma mãe que teve depressão pós-parto. Recente pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), revelou que uma a cada quatro mulheres brasileiras sofre com sintoma da depressão pós-parto.
O trabalho foi liderado pela pesquisadora Mariza Theme, e apontou que, no Brasil, o índice de mulheres com sintomas é de 26,3%, número maior do que o registrado nos Estados Unidos, Austrália e em países da Europa.
Tamires Dalcol, operadora de telemarketing, conta que começou a ver a própria morte: "Vou morrer, mas pelo menos meus pais estão aí para cuidar e amar meu filho". "Desanimei pra vida. Choro demais, sofro por tudo, dói o peito, me sinto fraca, pressão sempre tá alta por causa das crises. Agora estou desempregada por não conseguir creche e não ter quem fique com ele, isso me faz ficar em casa e sinto que a crise está voltando", conclui Tamires.
"A mulher se sente incapaz, sem forças para reagir. Ela ama o filho, mas em alguns casos não quer vê-lo e nem tocá-lo. Noutros casos ela quer muito está com ele, mas tem medo de lhe fazer algum mal ou de não cuidar dele como deveria. Boa parte dessa aflição vem quando a mulher percebe que todas as ansiedades e expectativas durante a gestação de como seria após o parto são bem diferentes na realidade. Por isso é importante encarar a depressão como uma doença séria. E mais importante ainda, que a família, principalmente o marido, esteja ao lado dando forças para mulher realizar um tratamento e sair dessa. Mas, tudo com calma e paciência", conta um marido que ajudou a esposa a superar uma depressão.
A estudante universitária, Michelli Cristini de Oliveira, conta que hoje não consegue se imaginar sem a filha, mas que, na época, a situação foi diferente: "Vi como se minha vida estivesse acabando. Tive que trancar a faculdade e fui voltar quando ela estava com 5 anos. Quase morri no parto e ainda tive que ouvir da equipe médica que ela nasceu sem respirar porque fui mole. Acho que todos esses fatores ajudaram para eu entrar em depressão", disse.
É importante diferenciar tristeza de depressão pós-parto, como salienta a médica Cássia Rosário: "A tristeza é uma estado afetivo caracterizado pela falta de alegria, ou seja, ficamos tristes por não conseguirmos algo que queríamos, mas passa. Na depressão pós-parto, apesar de também ter a tristeza, os sintomas presentes são irritabilidade leve ou severa, ansiedade, oscilação de humor, fadiga e sentimento de abandono e vontade de prejudicar seus bebês", explica.
A depressão pós-parto pode se manifestar de diferentes formas. Alguns sintomas são sentidos pela maioria das mães após o parto, mas na depressão pós-parto eles são mais graves.
Sentir-se acabada e triste a maior parte do tempo, falta de concentração, ter pensamentos suicidas, sentir-se inútil e incapaz de desejar coisas e exaustão permanente (mesmo quando consegue descansar um pouco), são alguns dos sintomas que podem indicar a doença.
Para a psicóloga Brenda Rocco "é normal ter dias ruins. Mas, se a mulher está tendo esses sentimentos na maioria dos dias, e não parece estar melhorando, provavelmente está com depressão pós parto", alerta.
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