Em: 10/03/17 - 16:29
Fonte:
Correio da Bahia
Editoria:
Saúde
Segundo análise comandada pelo médico infectologista Antônio Bandeira, Síndrome de Haff é o nome da 'doença misteriosa' que assustou a Bahia
O mistério da doença da urina preta parece ter chegado ao fim. Após quatro meses de suspense, a enfermidade que causa dores fortes pelo corpo e pode deixar a urina escura foi identificada por um grupo de pesquisadores independentes. A análise aponta que se trata da Doença de Haff. A pesquisa foi feita por um grupo de doze pesquisadores independentes e foi encaminhado para publicação a publicações acadêmicas internacionais na área de saúde.
O médico infectologista Antônio Bandeira, que comandou os estudos, explica que nos 15 casos analisados na pesquisa não houve nenhum sintoma de infecção por vírus, como febre ou problemas respiratórios. “Na investigação vimos que a relação era muito maior com a ingesta de peixe. Temos hoje fechado que se trata da Síndrome de Haff”, revela.
A doença de Haff já havia tido surtos anteriores na Europa e no Brasil. Em 2008, por exemplo, 27 pacientes foram diagnosticados com a enfermidade em Manaus. “Outra coisa importante é o surto que não é só restrito Bahia, o Ceará notificou vários casos, inclusive nós temos uma pessoa da Bahia que foi pro Ceará e ficou doente lá”, descreve.
A literatura médica aponta que a Síndrome de Haff foi identificada pela primeira vez em 1924, na Europa. Há também casos registrados na China e nos Estados Unidos. Os sintomas são dor súbita na cervical e por todo o corpo, contratura muscular e urina da cor de café.
Os pacientes diagnosticados com a síndrome relatam ter ingerido pescado nas últimas 24 horas antes de apresentarem os primeiros sinais, segundo aponta o estudo "Doença de Haff complicada por falência de múltiplos órgãos após ingestão de lagostim: estudo de caso" publicado por pesquisadores chineses na Revista Brasileira de Terapia Intensiva. Em casos raros, a enfermidade pode levar à morte, mas geralmente a recuperação do paciente é rápida.
Ainda não há nenhum caso de mortes em Salvador causados pela doença misteriosa, segundo informa a Secretaria Municipal de Saúde. "Um óbito que ocorreu em Salvador e estava sob investigação, se descartou que a morte tenha sido por Mialgia Aguda. O paciente tinha outros problemas de saúde e foram esses fatores que levaram ao falecimento", explica Cristiane Cardozo, coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde.
Investigação
Apesar da descoberta, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informa que este novo diagnóstico não é reconhecido pelo órgão, por não se tratar de um estudo feito pela instituição. Por meio de nota, a assessoria de comunicação da instituição explica que aguarda o resultado das amostras encaminhadas pela pasta para pesquisa.
A Sesab enviou o material para análise na Fiocruz, no Rio de Janeiro, no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, para a Universidade Federal do ABC, em Santo André-SP, e para um laboratório nos Estados Unidos.
Também continua em investigação a hipótese da ligação da Mialgia Aguda com um vírus, pesquisa comandada pelo médico Gúbio Soares, da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Desde 14 de dezembro de 2016 até 5 de março de 2017, já foram informados 71 casos de Mialgia Aguda à Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Desses, 66 foram registrados em Salvador, um em Vera Cruz, um em Dias D’Àvila, um em Camacã, um em Feira de Santana e um em Alcobaça.
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