Presidente da Câmara deu um nó na bancada de celerados da extrema direita que quer tirar os criminosos do 8 de Janeiro da cadeia. Pauta volta a perder força e tem muita gente furiosa. Créditos: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Os últimos dias foram de intensa gritaria por parte dos bolsonaristas no Congresso Nacional. Os escândalos e chiliques, com ameaças de obstruir completamente a pauta da Câmara, por exemplo, fizeram com que o Projeto de Lei da anistia para os criminosos golpistas do 8 de Janeiro de 2023 ganhasse força, mesmo contra a vontade do presidente da Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que por acordos com o governo não quer permitir que tal iniciativa vergonhosa siga em frente.
Após uma duríssima queda de braço, Motta finalmente passou a perna na bancada de celerados da extrema direita e impediu que a tal anistia fosse levada a votação em caráter de urgência, mesmo com o crescente (e aparente) fortalecimento da pauta na Câmara recentemente. O segredo para esse nó que o jovem parlamentar deu? Diálogo e uma tática que deixou os deputados bolsonaristas a ver navios.
O ruidoso grupo de parlamentares que segue fielmente Bolsonaro apresentou publicamente uma lista com 156 assinaturas de deputados favoráveis à anistia aos golpistas, sendo que 92 delas eram de nomes filiados ao PL. Na prática, apenas 64 nomes vieram de fora do partido controlado pelo ex-presidente. Para pautar a anistia diretamente em plenário, em regime de urgência, seriam necessárias 257, ou seja, um longo caminho a se percorrer cujo objetivo seria angariar mais 101 assinaturas.
Os bolsonaristas, então, fizeram o óbvio: partiram para cima das lideranças partidárias das legendas do Centrão, que habitualmente servem como satélites da extrema direita, caso do PP, Republicanos, Patriota, PSD e congêneres. No caso de a liderança aderir à lista, basta sua assinatura para que as assinaturas de todos os deputados do partido se incluam automaticamente. É claro que dessa forma seria muito mais fácil e simples para atingir os 256 ok’s necessários para pautar o tema.
Foi aí que entrou a manobra de Motta. Seguindo os passos de seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), que já fizera algo semelhante, o jovem presidente da Câmara se antecipou e, se reunindo individualmente com cada um dos líderes partidários, solicitou para que não aderissem à lista de assinaturas, deixando para que os deputados de suas siglas o fizessem de maneira individual, se julgassem assim coerente.
O resultado é que isso retarda e muito o andamento da lista de assinaturas proposta pelo bolsonarismo, dando tempo para Motta, para o governo e para que a vergonhosa pauta derreta sozinha. Também emulando Lira, Motta propôs aos extremistas que se instalasse uma comissão para debater o tema, algo que daria uma marcha lentíssima para a matéria. Os bolsonaristas rejeitaram furiosos, mas diante de um colapso que poderia resultar da paralisia institucional provocada por eles, agora falam em “obstruir a pauta de forma responsável”. O posicionamento soa mais como um choque de realidade para o grupo, que já notou que não tem esse apoio todo, muito menos na sociedade.
De grão em grão, ou seja, pegando assinatura por assinatura, a base de extrema direita de Jair Bolsonaro na Câmara levará muito tempo para conseguir as 257 assinaturas, se é que conseguirá. Até lá, o esperado é que o julgamento de Bolsonaro no STF tenha início e que o clima de rejeição ao líder golpista e seus violentos seguidores que destruíram Brasília apenas aumente.
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