Jair Bolsonaro e Mário Fernandes (Foto: Agência Brasil/Brasil 247)
Os novos áudios revelados pela Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022 tornam cada vez mais difícil negar a existência de uma trama golpista articulada por integrantes das Forças Armadas e do governo Bolsonaro. As gravações, divulgadas pelo programa "Fantástico", da TV Globo, mostram conversas entre militares e civis que discutiam abertamente estratégias para reverter o resultado eleitoral e deslegitimar o processo democrático.
A gravidade das falas reforça a tese apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) na denúncia contra Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Entre os denunciados, estão figuras-chave como Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Se a Primeira Turma do STF aceitar a denúncia, todos se tornarão réus e passarão a responder criminalmente pelos atos.
Os áudios reforçam a participação ativa de membros das Forças Armadas na incitação dos acampamentos golpistas que culminaram nos atos violentos de 8 de janeiro de 2023. Em uma das gravações, Mauro Cid revela a infiltração de agentes aliados em diversas frentes para monitorar e instigar as manifestações: "A gente tem cara infiltrado em todo lugar, monitorando e passando para a gente as informações, refutando ou ajudando a instigar, digamos assim."
O general da reserva Mario Fernandes aparece em dois momentos-chave. Em um áudio, ele sugere que um decreto golpista teria sido "despachado ontem com o presidente". Em outro, ele relata que Bolsonaro considerava qualquer momento até 31 de dezembro de 2022 válido para agir contra a diplomação de Lula: "Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que, pô, o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro."
O tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida expõe a estratégia de tentar justificar um possível golpe como resposta a supostas irregularidades cometidas por seus adversários: "Os caras estão desde cedo armando várias coisas. [...] O Exército fez alguma? Pô, tá cometendo ilegalidades? As Forças Armadas? Pô, os caras tão fazendo desde o início. [...] Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair [das quatro linhas] ou então eles vão continuar dominando a gente."
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, engenheiro e dono do Instituto Voto Legal, tenta sustentar a tese de fraude nas urnas por meio de suposições estatísticas questionáveis, sugerindo manipulação na distribuição das urnas eletrônicas: "Eu descobri que tem mais informação lá que eu estava ignorando no dado original do TSE. [...] Eu fui ver se existem locais de votação mistos. [...] Isso realmente enfraquece a crença de ter fraude e o TSE ter cometido o erro de misturar urnas honestas e desonestas dentro do processo eleitoral."
As falas demonstram que a tentativa de ruptura institucional não foi uma ideia isolada de radicais inconsequentes, mas um plano articulado dentro do governo Bolsonaro, envolvendo militares de alta patente e figuras influentes. Cada nova prova dificulta ainda mais a defesa dos envolvidos e evidencia a gravidade do que ocorreu: uma tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito. O julgamento do STF será decisivo para mostrar se o Brasil será capaz de responsabilizar aqueles que atentaram contra sua democracia ou se deixará impune, como no passado, abrindo margem para novas ameaças no futuro.
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