Ministro da Economia, Paulo Guedes, é dono de uma offshore com fundos milionários (Foto: Reprodução)
Imagine a situação: você é dono de uma fábrica de farinha de trigo, mas é segredo. Você também é dono de uma padaria e todo mundo sabe disso. De olho no próprio lucro você decide aumentar o valor do pão, mas, se você apenas aumentar o valor do pão as pessoas vão deixar de comprar. Então você decide aumentar o preço da farinha de trigo e ainda coloca a culpa no agricultor, na qualidade do trigo e no caminhoneiro que faz a entrega. No fim das contas, você ganha duas vezes e ainda sai como vítima. Imaginou? É mais ou menos isso que Paulo Guedes está no Ministério da Economia.
De acordo com o revelado pelo projeto Pandora Papers, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), o Ministro da Economia, Paulo Guedes, é dono de uma offshore com fundos milionários. Essa empresa se beneficia diretamente das políticas econômicas implementadas por Guedes, principalmente da alta do dólar. O presidente do Banco Central também está na lista de brasileiros que mantém recursos em paraísos fiscais, enquanto beneficiam diretamente as suas empresas com seus cargos públicos.
Ilegal e imoral
Abrir uma offshore ou manter contas no exterior, de forma geral, não é ilegal, desde que o saldo seja declarado à Receita Federal e ao Banco Central. A regra, no entanto, tem uma exceção: o artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal, válido desde o ano 2000, proíbe funcionários do alto escalão de manter aplicações financeiras, no Brasil ou no exterior, que possam ser beneficiadas pelas políticas governamentais sobre as quais “a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função”. Em um português mais popular, a lei proíbe a raposa e morar no galinheiro.
Ministro da Economia desde 2019, Paulo Gudes se limitou a dizer que os investimentos no exterior foram anteriores ao cargo. Não explicou, no entanto porque aceitou o cargo ou porque segue fazendo terrorismo econômico e implementando políticas de Estado que beneficiam a ele mesmo e a outros magnatas financeiros.
Para se ter uma ideia, de acordo com a revista Piauí, uma das participantes do Pandora Papers, em 2014, quando Guedes, então sócio da gestora de recursos Bozano Investimentos, fundou a Dreadnoughts International, uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas (paraíso fiscal no Caribe) e investiu a quantia de 9,55 milhões de dólares, ele teria, caso decidisse repatriar os fundos, o equivalente a 23 milhões de reais. Hoje, com a cotação atual do dólar - que não para de subir - o valor corresponde a 51 milhões de reais.
Na época, o mercado financeiro estava cada vez mais agitado diante da iminência da reeleição de Dilma Rousseff (PT) e o Banco Central, ainda seguindo as diretrizes econômicas da gestão petista, interveio para conter a alta do dólar. Foi no dia seguinte à essa intervenção, que Guedes tomou uma providência para manter parte da sua fortuna longe das turbulências da economia brasileira. Agora, Ministro e braço direito de Bolsonaro, ele é quem dá o tom que mais lhe agrada e engorda os bolsos.
Medo de nada, só de pobre
Um fato curioso: a tradução do nome da empresa de Guedes "encouraçado". Mas, como é comum usar duas palavras para formar um nome de empresa, pesquisamos também as tradução do termo "dread noughts": em tradução livre, "não temer nada". Notadamente, Guedes não teme a lei nem as críticas da imprensa, ambas o tratando de maneira suave.
Mas, há uma coisa que ele aparentemente teme e muito: "pobre". Enquanto amplia seu patrimônio às custas da caristia generalizada, da alta da inflação e do aumento da fome, Guedes, ao longo dos últimos anos, deixou muito com quem se importa.
"Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada."
"Pobre tem que comer as sobras da classe média."
"O arroz está caro porque a vida do pobre melhorou."
"O Fies bancou universidade para filho de porteiro que zerou o vestibular."
"As domésticas estão fazendo festa na Disney."
Todas essas foram afirmações do ministro.
Em fevereiro de 2020, em entrevista a Leandro Sakamoto, o psicanalista Christian Dunker avaliou com precisão o motivo de Paulo Guedes atacar tanto a população mais vulnerável: "Com o emprego que não cresce e seus projetos polêmicos no Congresso, Guedes tem que desviar a atenção para alguma coisa. Caso contrário, começam a aparecer suas anáguas." Agora, mais de um ano depois, não só as anáguas como 'as nádegas' também começam a aparecer.
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