Ex-presidente Lula (Foto: Reprodução)
Quem acompanhou o desenrolar dos vários acontecimentos paralelos à operação Lava-jato certamente percebeu - e estranhou - a proximidade entre Sérgio Moro, Deltan Dellagnol e autoridades estrangeiras, em especial dos Estados Unidos e Suíça, com direito até a palestra de Moro em universidade estadunidense.
Pois bem. A fonte da conexão entre o juíz brasileiro, o procurador e as autoridades estrangeiras foi revelada pelo ex-presidente Lula, em entrevista concedida à TV 247, nesta quarta-feira (24). De acordo com Lula, para além de afastá-lo da disputa presidencial de 2016, a operação Lava-jato tinha como pano fundo criar o cenário ideal para desmonte da Petrobrás.
Perguntado sobre a majoração constante dos preços dos combustíveis, Lula revelou o estratagema. "Essa situação é resultado do golpe. O golpe foi feito para que as regras da Petrobrás, o resultado da Lei de Partilha, aquela história de a Petrobrás produzir o petróleo e o petróleo ser do povo brasileiro... Tudo isso incomodava as sete irmãs - as empresas que detêm o petróleo no mundo -, tudo isso incomodava o governo americano, tudo isso incomodava o chamado Mercado brasileiro, então era preciso dar um golpe para se assenhorarem da Petrobrás", iniciou Lula.
Ainda de acordo com o ex-presidente, todas as diretrizes adotadas pela Petrobrás, desde que Roberto Castelo Branco assumiu, por indicação de Bolsonaro, foram voltadas ao enfraquecimento da empresa. "Tudo isso foi feito de forma pensada. Era preciso que o mercado se assenhorasse da Petrobrás. Era preciso que a Petrobrás se transformasse numa empresa para atender aos interesses dos acionistas minoritários da Bolsa [de Valores] de Nova Yorque. Esse é o dado concreto", sentenciou Lula, citando como exemplos a adoção da política de preços internacionais, a redução do refinamento, o fechamento e venda das refinarias e as mudança no estatuto da empresa.
O grande engano
Na avaliação de Lula, a perseguição sofrida por ele foi essencial para concretizar o projeto. "É importante a gente dizer que, para fazer o que eles fizeram com a Petrobrás, eles precisaram construir uma mentira, vendendo um volume de corrupção de nunca existiu", apontou. "Se houvesse corrupção na Petrobrás, e certamente deve ter havido, você apura a corrupção, pune quem corrompeu e a empresa segue trabalhando normalmente. Isso vale para a Petrobras, para as empreiteiras, para a JBS, para os bancos, para a Volkswagen, no mundo inteiro é assim", prosseguiu o Lula.
"Acontece que eles resolveram contar uma mentira para enfraquecer, porque era necessário dizer que tinha que fazer todas as mudanças possíveis porque tinha muita corrupção na Petrobrás.", explicou.
Para dar a medida do tamanho do prejuízo que esse sistema de implosão da Petrobrás causou à empresa e, obviamente, ao Brasil, Lula apresentou a comparação do valor de mercado da empresa no final do seu governo com o valor atual.
"A Petrobrás era uma empresa que investia quase R$ 45 bilhões por ano. Quando eu deixei o governo, a Petrobrás valia R$ 217 bilhões, tornando-se a maior empresa do mundo em valor de mercado. No câmbio de quinta-feira (18/02) a Petrobrás foi anunciada e só valia R$ 70 bilhões e, com a especulação do mercado, terça-feira (23/02) o valor da empresa era de R$ 50 bilhões", relatou.
De volta ao passado
"A Petrobrás virou uma empresa exportadora de óleo cru e importadora de derivados", declarou Lula, sem fazer nenhuma referência ao passado. No entanto, a frase é, historicamente falando, mais do mesmo. A mesma frase foi repetida diversas vezes, durante os governos liberais.
Até mesmo a proposta de internacionalização da empresa é antiga. Em 1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, uma das ações para jogar a Petrobrás na Bolsa de Valores novaiorquina foi a tentativa natimorta de mudar a marca da empresa para PetroBrax.
Na época, o então presidente da estatal explicou o projeto e não apenas em meias palavras. "O objetivo [da mudança de nome] é unificar a marca e facilitar o seu processo de internacionalização", declarou Henri Philippe Reichstul à imprensa. No mesmo ano, o governo tucano preparou o lançamento de ações da petrolífera para serem negociadas na Bolsa de Nova Iorque. Como sempre, a iniciativa foi vendida como um importante passo para a empresa e para o país.
Em 1997, o governo de FHC promulgou a Lei 9.478/97 e iniciou, oficialmente a entrega da maior estatal brasileira a estrangeiros: abriu o capital da empresa para investidores externos. Com isso, ele não apenas reduziu a participação acionária do Estado, mas deu aos novos acionistas a doce possibilidade de dividir os lucros sem necessariamente fazer investimentos diretos.
Com o governo Lula, o projeto de desmonte foi interrompido e a Petrobrás passou a vivenciar crescimento exponencial, levando o Brasil junto. E foi exatamente aí que entrou a Lava-jato.
Dezanove anos depois de FHC e em meio à crise de imagem enfrentada pela Petrobrás, graças aos supostos esquemas fraudulentos expostos de forma sensacionalista pela operação Lava-jato, em 2016, durante o governo Temer - ou seja, logo após o golpe que destituiu Dilma Rousseff - a empresa começou um processo de saída de setores estratégicos, investimentos em setores de baixo lucro e início das privatizações. Tudo isso, mais uma vez, sob a tutela de um governo tucano e neoliberal.
O movimento de desmonte que está acontecendo durante a gestão de Bolsonaro, impulsionado pela Lava-jato, é a concretização de um projeto de favorecimento de investidores estrangeiros, a custo da soberania nacional. Um projeto que vem sendo executado homeopaticamente há décadas.
"E eles agora pretendem fazer o mesmo com a Eletrobrás", avisou Lula. "Nós acreditávamos que a Petrobrás seria o passaporte para o desenvolvimento e isso acabou. O mensalão e a Lava-jato foram as maiores mentiras contadas na história desse país", concluiu o ex-presidente.
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|