PT passou 12 anos no poder sem investir no único remédio para curar esse mal: educação política (Foto: Reprodução)
A derrota do PT, na disputa pela prefeitura da capital baiana, já era esperada. Historicamente, o partido sempre se mantém distante do tão desejado posto. No entanto, perder todas as demais captais do país (acontecimento inédito na história), e mais Camaçari, Feira de Santana e Vitória da Conquista, entre várias outras cidades menores, crava um duro golpe contra a esquerda e pavimenta os caminhos da direita, capitaneada agora pelo DEM.
Mas, isso não é fruto da democracia, muito menos da vontade popular. A derrocada em curso do PT é fruto de uma série de fatores e, talvez, entre tantas mentiras apontadas como culpa do partido, figure essa triste verdade: a culpa é do PT.
Um dos fatores que pesa como uma bigorna, uma âncora jogada em mares profundos, é o personalismo: de Lula a Caetano, o PT é como as atuais seleções brasileiras de Futebol: apaga-se o brilho da constelação para favorecer uma estrela. Será ironia ou um recado, que o símbolo do partido seja uma estrela solitária?
Uma estrela só não é constelação
Qualquer um com mais de 30 anos, gostando ou não de futebol, vai lembrar de como eram as seleções brasileiras campeãs mundiais, até os anos 90: não havia um único nome que carregasse, sozinho, o ônus e o bônus de todos os feitos quase heroicos. Havia a Seleção Brasileira de Futebol.
Pelé até podia ser rei, mas não se falava no brilhantismo do time sem citar uma série de outros nomes - e novos nomes - que foram sendo criados ano a ano, Copa a Copa, jogo a jogo. Zagallo e Parreira, Branco, Bebeto e Romário, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldinho Fenômeno, Kaká. A Seleção Brasileira era um grupo, não uma pessoa só. E quando passou a ser "uma pessoa só", passou a sofrer contínuas derrotas. Hoje, continua sendo o "menino Ney" e continua perdendo.
O mesmo acontece com o PT, diminuído e conformado atrás de nomes fortes, que lideram em seus tempos e seus redutos – sem desmerecer o valor de cada: Luis Ignácio, Jaques Wagner, Luiz Caetano, Rui Costa... O partido de um nome só se apega à força articuladora de uma figura até que essa força se esgote de alguma maneira.
Luiza Maia, em Camaçari, é outro exemplo, bom exemplo: quem, hoje, representa a luta feminista dentro da legenda, com a disposição que ela demostrou? Não há.
Há quem diga, por dentro do partido, que fulano ou sicrano "tratora" a construção. Outros acreditam que haja um único grande líder a ser seguido, dentro da esfera que ocupa, seja municipal, estadual ou nacional. De um jeito ou de outro, há aí um erro que custa caro: o personalismo - seja por ação de uns ou omissão de vários – que impede o fortalecimento de outras lideranças e a solidificação que dê ao partido base para se sustentar enquanto ponta de lança de uma luta muito maior que ele.
Aliás, ponta de lança é uma analogia muito boa: uma lança só pode ser arremessada e atingir bem seu alvo se tiver uma haste compatível. Ponta afiada, sem haste firme, até pode ferir, mas não vai muito longe.
O personalismo petista, no entanto, não para nas disputas internas e no "fogo-amigo" (mais destrutivo que o do inimigo): para fora como é para dentro, o PT nunca conseguiu - se é que quis - aglutinar uma coalizão de esquerda capaz de, sem o poder da máquina pública, fazer frente ao poderio da direita.
A eleição de Bolsonaro mostrou isso e ninguém aprendeu. Perdeu novamente.
A direita é, atualmente, mais organizada e sabe reconhecer o passo mais importante de cada vez. Observe: os principais líderes dos partidos de direita nunca, nunca defenderam a pessoa de Jair Bolsonaro. A defesa sempre foi à eleição de Jair Bolsonaro, porque ela servia a um objetivo em comum: tirar o PT do poder. A direita se uniu em torno de um "idiota útil", porque esse era o caminho mais seguro para chegar ao lugar onde estão agora: sem o PT e com espaço para continuar avançando em solo fértil.
O PT, inegavelmente maior partido de esquerda do Brasil e detentor do poder de determinar os rumos da esquerda toda, nunca conseguiu fazer isso. Se é que quis.
Diz o ditado que "de boa vontade o inferno está cheio". A boa vontade petista, sozinha, não vence eleição. É preciso saber recuar e saber avançar.
Tudo tem seu preço
Agora junte tudo isso à força do poder econômico... Dentro do meio político, diz-se de que, quem ganha eleição é dinheiro. Uma alusão à fraca força da democracia ‘cheia de brecha’ brasileira. De um lado, há um sistema eleitoral estruturado para fortalecer quem está no poder: quociente eleitoral, quociente partidário, república federativa, parlamento: termos que a maioria da população não faz ideia do que sejam ou para que servem, que explicam um sistema feito para manter o poder nas mãos de quem sempre teve o poder.
Não é à toa que, mesmo depois da suposta retomada da democracia, o Brasil seguiu por décadas sendo governado pelos mesmos nomes da época da Ditadura Militar.
Em 2002, a chegada de Lula à presidência da República levou o Brasil a um novo patamar político. Era hora e lugar para educar a população, fortalecer a esquerda, alimentar novas lideranças e pavimentar o caminho para um futuro bom. Era hora de olhar mais longe que as próximas reeleições. Os resultados de agora provam que, se esse olhar existiu, foi marcado por sucessivos erros.
O maior deles? O Personalismo
Há quem diga, hoje, que Luiz Caetano deveria deixar o PT, em Camaçari. Em que pese o fato de isso, pelo menos por enquanto, ser um boato, convido o leitor a imaginar o cenário: quais seriam, hoje, os nomes do partido para, ainda que por enquanto apenas no campo da articulação, fazer frente ao DEM se Caetano deixasse o PT? Quais seriam os nomes, a nível estadual, se não houvesse Rui Costa e Jaques Wagner? Quais seriam os nomes, a nível nacional, se não houvesse Lula? Aqui, ali e acolá na agremiação esquerdista, despontam figuras estranhas ao ninho ‘principal’ como Marília Arraes e Flávio Dino, mas elas não são abraçadas e fortalecidas como algo que pertença ao partido com todo poder da palavra ‘pertencimento’.
São como os demais jogadores da seleção brasileira: bons, no mesmo time, mas apagados em prol de fazer Neymar brilhar mais – nesse caso, porém não mais brilhante.
Por falar em apagar nomes, eis outra face do personalismo petista, quiçá da esquerda inteira: o líder serve enquanto me serve. Acontece com Caetano em Camaçari, acontece com Lula no cenário nacional. Talvez esteja acontecendo com Jaques Wagner, no cenário nacional. A lógica é a mesma aplicada antes: exaurir a força aglutinadora de um líder, até que, por algum motivo, essa força se perca. Nesse momento, ao invés de fortalecer-se internamente e retroalimentar suas lideranças, enquanto constrói novos nomes, o PT os abandona e segue para a próxima pessoa (?).
O PT, no tocante ao ideal que o fez, tem sido como um prisioneiro medieval, daqueles que carregava uma pesada bola de ferro presa ao tornozelo: arrasta a bola e, enquanto podemos admirá-lo por sua capacidade de arrastá-la, tenha o peso que tiver, podemos também ver o peso dela o impedindo de avançar por ter deixado de exercitar os membros antes de qualquer movimento. Às vezes, é o líder quem arrasta o partido... para o brilhantismo. Outras vezes, o partido arrasta seus líderes para os porões da disputa política.
É o que está acontecendo agora, com Lula. Ele, que até antes de toda perseguição política que sofreu, era estandarte disputado em todos os palanques, agora, depois de conquistar sua liberdade social a duríssimas penas, vivenciou as eleições aprisionado no limbo político do seu próprio partido. O PT usou Lula enquanto este lhe serviu. E agora o deixa pela própria sorte.
Voltando à analogia do prisioneiro medieval, a bola de ferro do PT é o personalismo. Não só do próprio PT, mas da esquerda em si, haja vista, novamente, a eleição de Bolsonaro e a derrota de Haddad.
Em um país onde a população elege candidatos com base em valores pseudo-religiosos que deixaram Jesus Cristo corado de vergonha, que acredita em notícias falsas tão absurdas quanto a distribuição de mamadeiras com formato de pênis para crianças nas escolas públicas e defende pessoas que pregam publicamente o assassinado como medida de segurança, quem vence a eleição é, sem sombra de dúvidas, o dinheiro: quando não compra os votos diretamente, quando não paga boca-de-urna ilegal na cidade, quando não se vangloria de doar cestas básicas, compra o imaginário popular mexendo na fé, no medo e no coração do povo.
E o PT passou 12 anos no poder sem investir no único remédio para curar esse mal: educação política. A direita, ainda hoje, pratica a política do pão e circo, famosa e eficaz desde o Império Romano. O picadeiro agora são as redes sociais, e a desinformação solo sempre fértil para o uso desta ferramenta.
O PT, deu Bolsa Família, posto de saúde, casa, e até deu escola... deu também o peixe, mas não ensinou o povo a pescar. E agora, sem o dinheiro necessário para equilibrar a pescaria, cabisbaixo, paga a conta, a altíssima conta.
A culpa é do PT. Se resurge? Depende do PT...
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