Lula foi proibido de ser fotografado e filmado (algo impossível, como ficou patente, pois imagens e vídeos foi o que não faltou, claro), além de ser impedido de falar com as pessoas no percurso do velório
A liberação de Lula para comparecer aos funerais do neto Artur, falecido semana passada vítima de meningite meningocócica, deve significar um novo capítulo na luta pela libertação do ex-presidente. Foram muitos os fatos estranhos e condições absurdas impostos pela Justiça. A impressão que fica é de que, mesmo apanhando tanto, Lula sai desse doloroso episódio mais forte, no seu espírito e na alma do povo. Lula Livre é hoje um grito ainda mais forte e mais presente.
Tudo o que foi feito contra Lula foi respondido por ele com uma dignidade e uma coragem tão grandes que batem na cara dos seus algozes. Um tapa firme e sem luva de pelica. Para doer, como doeu. Mas, Lula deu o que tinha e que ainda não conseguiram tirar dele, que é, justamente, essa resistência incomum de um homem igualmente incomum. Um homem que cresce na mesma proporção da sordidez e da desumanidade dos que o querem aniquilar política e fisicamente.
A grandeza de Lula, e isto ficou demonstrado nesses dias, é inversamente proporcional à pequenez dos que não o querem vivo, mas não têm coragem de matá-lo; e que por isso tentam situações que provoquem e ampliem a sua dor e, pela constância, provoquem a sua morte. A dor maior tem sido deles, a trama tem sido em vão.
Da parte das autoridades parecia uma competição para ver quem cometia a arbitrariedade maior ou qual era o despropósito mais gritante. A começar pelo aparato armado desproporcional para escoltar e intimidar um senhor de 73 anos, desarmado e só, além de justificadamente abatido por uma tragédia (mais uma) pessoal. A desculpa de que a Polícia Federal sabia de um plano do PT para sequestrar Lula é ridícula. Seria risível, mas o nível do deboche é tamanho que não tem graça e ultrapassa os limites do absurdo.
Nesse aparato militar, um fato grave e que, não se tenha dúvida, será abafado pela PF e pelo governo. Como justificar a presença, na escolta de Lula, de um guarda pessoal do presidente da República? O agente Danilo Campetti, aquele do distintivo da Swatt de Miami pregado na farda, é quase que da família. Vem zelando pela segurança de Jair Bolsonaro desde a campanha eleitoral. Fanático pelo então candidato e pelo hoje presidente, orna sua rede social com palavras de ordem afetivamente favoráveis ao "mito" e odiosamente contrárias a Lula e ao PT.
Tudo é muito nebuloso no "Caso Campetti". A começar pela sua eficiência, que deve ser muito grande a ponto de Bolsonaro e família quererem sempre ele por perto. Nesse caso, fica meio estranho que ele tenha "falhado" justamente da facada contra o patrão, episódio mais grave e emblemático da campanha eleitoral, por muitos tido como o grande empurrão para a vitória de Bolsonaro. Fotos da época mostram Campetti ao lado do seu "protegido", bem na hora do atentado.
Ainda em relação à logística que levou Lula ao velório do neto, em São Paulo, e o devolveu de volta à carceragem da PF, em Curitiba, outra armação que, desta vez, não deu certo. Os bolsonautas tentarem plantar uma fakenews infame, com uma foto de Lula com a mão estendida e sem ter retorno do piloto do helicóptero. A imagem era acompanhada de uma carta, falsa, do piloto onde ele "justificava" por que não apertara a mão de um "condenado". A imagem era apenas um frame do filme onde Lula, na verdade, aperta a mão do piloto que foi profissional e afável com o ex-presidente.
Lula foi proibido de ser fotografado e filmado (algo impossível, como ficou patente, pois imagens e vídeos foi o que não faltou, claro), além de ser impedido de falar com as pessoas no percurso do velório. Uma das "regras" esdrúxulas impostas pela juíza Carolina Lebbos que o liberou para a viagem. Em São Paulo, Lula foi saudado pelas pessoas e, contrito, acenou de volta. Foi o bastante para um delegado dizer que ele "não devia ter feito aquilo". A resposta do ex-presidente foi moralmente inquestionável: "Você sabe que eu devia fazer".
O dia inteiro, a baixaria correu solta, nas redes sociais. Mas, fato mais baixo veio mesmo foi da família Bolsonaro, na triste figura do filho do meio do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Arreganhando os dentes e mostrando que educação doméstica não é mesmo uma de suas características, ele aproveitou o episódio para destilar seu ódio contra Lula, acusando o ex-presidente, um "larápio", de querer posar "de coitado" com a morte do neto. Nenhuma novidade no discurso insano de um dos "garotos' que têm manchado de lama o governo no qual têm a certeza de que mandam. E eles têm razão, pelo visto.
Toda essa misturada de horrores, mais impropérios, mais truculências jurídicas, mais canalhices, tudo foi encarado por Lula com as armas de que ele dispõe: seu olhar, sua fibra, seu destemor. A sua postura de estadista privado de seus direitos por uma justiça que julga e condena sem provas um inimigo político; o mesmo segmento judiciário que o retirou de uma campanha eleitoral da qual ele era favorito absoluto, provocando a vitória de um candidato de extrema-direita que leva o País a um caminho que ninguém sabe onde vai dar.
Tudo isto foi mostrado a todo o País e pelo mundo afora. E Lula sai com um saldo de ganhos e solidariedade muito maior que o de perdas e baixarias sofridas. Sai como realmente é: forte e com apoio popular. Um homem raro, cuja cabeça vão tentar por muito tempo e em muitas outras oportunidades. Não será fácil. Com Lula, não.
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Gilvandro Filho é Jornalista e compositor/letrista, tendo passado por veículos como Jornal do Commercio, O Globo e Jornal do Brasil, pela revista Veja e pela TV Globo, onde foi comentarista político. Ganhou três Prêmios Esso. Possui dois livros publicados: Bodas de Frevo e “Onde Está meu filho?”
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