Geraldo Alckmin (PSDB) é entrevistado no Jornal Nacional (Foto: Reprodução)
O candidato do PSDB à Presidência foi entrevistado ao vivo, na bancada do JN, por William Bonner e Renata Vasconcellos.
William Bonner: E nós começamos, então, convidando o candidato Geraldo Alckmin a entrar no estúdio. Para a nossa entrevista, a terceira entrevista da semana.
Renata Vasconcellos: Por favor, candidato. Boa noite, seja muito bem-vindo.
Geraldo Alckmin: Boa noite. Obrigado.
William Bonner: Bem-vindo, candidato. Obrigado pela sua presença. O senhor pode tomar assento aqui. Muito bem... O Jornal Nacional nesta quarta-feira (29) está dando sequência à série de entrevistas, ao vivo, com os principais candidatos à Presidência da República mais bem colocados na última pesquisa Datafolha de intenção de votos.
Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, aparece em primeiro lugar na pesquisa, mas o ex-presidente não pode dar entrevistas por determinação da Justiça. Ele está preso em Curitiba, condenado por corrupção passiva e por lavagem de dinheiro.
A ordem dessas entrevistas foi determinada em sorteio, com a presença dos assessores dos candidatos. Na segunda-feira (27) esteve aqui Ciro Gomes, do PDT. Na terça-feira (28), Jair Bolsonaro, do PSL. Nesta quarta-feira (29) é a vez de Geraldo Alckmin, do PSDB, como dissemos. E, nesta quinta-feira (30), Marina Silva, da Rede.
Nas entrevistas, o Jornal Nacional aborda os temas que marcam cada uma das candidaturas, questiona assuntos polêmicos e trata da viabilidade de alguns pontos dos programas de governo.
Na semana de 17 a 21 de setembro, os candidatos mais bem pontuados pela pesquisa Ibope ou Datafolha mais recente da ocasião também vão estar no Jornal da Globo.
O tempo total desta entrevista é de 27 minutos. Esse tempo não pode ser ultrapassado porque foi esse o tempo dado a Ciro Gomes e a Jair Bolsonaro, nas entrevistas de segunda-feira e terça-feira. Ao fim, o candidato terá mais um minuto para dizer que Brasil ele quer para o futuro.
E o tempo começa a ser contado a partir de agora, Renata.
Renata Vasconcellos: Boa noite novamente, candidato.
Geraldo Alckmin: Boa noite, Renata, Bonner, a todos os telespectadores.
William Bonner: Boa noite.
Renata Vasconcellos: Eu vou começar essa entrevista falando de alianças políticas. Nessa campanha, o senhor fez aliança com partidos do chamado centrão, que os críticos acusam de fazer o famoso “toma lá, dá cá”. Partidos esses que têm 41 investigados pela Lava Jato. Quarenta e um investigados, candidato. Como é que o senhor explica isso para os eleitores quando as pesquisas mostram justamente que eles querem formas mais republicanas de se fazer política e apoiam o combate à corrupção?
Geraldo Alckmin: Olha, Renata, primeiro é importante: todos os partidos têm bons quadros. Então, eu fui buscar no Progressista, que é um dos partidos que nos apoiam, a mais respeitada mulher senadora da República, a Ana Amélia. Nós temos bons quadros em vários partidos e precisamos ter maioria para fazer as mudanças que o Brasil precisa. Quem prometer mudanças sem construir maioria é conversa fiada. Ou nós vamos continuar nesse marasmo que está o Brasil ou nós precisamos fazer reformas. O Brasil precisa das reformas. E eu estou explicitando o que eu vou fazer. Reforma política, exatamente para não ter 35 partidos. Reduzir o número de partidos, reduzir voto facultativo é importante, o voto distrital, proibir coligação proporcional.
Renata Vasconcellos: Candidato, a gente está falando dos investigados...
Geraldo Alckmin: Mas os partidos têm bons quadros. Quem é investigado vai responder por isso. Eu vou dar um exemplo para você. Em São Paulo, o PTB, que foi meu aliado, o secretário da Justiça é do PTB. Quem é o secretário da Justiça? Márcio Elias Rosa, membro do Ministério Público, o ex-procurador-geral do Ministério Público de São Paulo. Todos os partidos têm bons quadros.
Renata Vasconcellos: Mas então eu vou também dar um outro exemplo para o senhor...
Geraldo Alckmin: Nós vamos... Pois, não.
Renata Vasconcellos: Por exemplo, falando, um dos seus aliados nessa eleição é Fernando Collor de Mello, do PTC. Eu vou ler o histórico dele aqui: já sofreu um impeachment por denúncia de corrupção, todos os brasileiros sabem bem. Na Lava Jato, ele é réu por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele ainda é investigado em mais quatro inquéritos. Em uma entrevista que o senhor deu no Bom Dia Brasil…
Geraldo Alckmin: Renata, o PTC…
Renata Vasconcellos: Deixa eu só terminar, perdão. Em uma entrevista que o senhor concedeu, até para mim mesmo, no Bom Dia Brasil, em 2006, quando o senhor foi candidato à Presidência da República pela primeira vez, o senhor disse para mim o seguinte: “Na política é importante”... “Em política é importante”, palavras suas, “Diga-me com quem andas e eu direi quem és”. O senhor repetiria hoje essa frase tendo ao lado Fernando Collor de Mello, por exemplo?
Geraldo Alckmin: O PTC não me apoia, ele apoia outro candidato. A coligação do PTC não é com o PSDB. A minha coligação tem oito partidos, não está o PTC. Então, não me apoia, não está na minha coligação. A coligação, ela é importante porque o Brasil tem pressa. Quem assumir em janeiro, em 1º de janeiro, precisa ser rápido, aproveitar a força do voto, a força do povo, para fazer as reformas rapidamente.
Renata Vasconcellos: Mas, então, o que o senhor tem a dizer sobre esses investigados que eu mencionei, os 41 investigados na Lava Jato?
Geraldo Alckmin: O que a sociedade, o que quem está nos assistindo quer? Quer que haja investigação, transparência, puna quem precisar ser punido e absolva quem deve ser inocentado. É isso que precisa ser. O Brasil, o governo funcionar, o país crescer, defendo a Lava Jato, defendo as investigações, então é importantíssimo que elas ocorram, e a sociedade vai amadurecer. Nós vamos sair desse episódio melhor. Mas quero dizer aqui o que disse o diretor-geral da Polícia Federal: “Se não mudar o sistema político, não vai melhorar”. Há um princípio em medicina que diz: “Suprima a causa que o efeito cessa”. O sistema político nosso faliu, não pode funcionar com 35 partidos. Por isso, a primeira reforma que vou fazer é a Reforma Política, e vou ter maioria, porque o presidente é o líder. Ele tem que...
Renata Vasconcellos: O senhor volta a repetir a tal frase, né?
Geraldo Alckmin: Volto a repetir. E vou governar, Renata, com os melhores quadros de todos os partidos que estiverem conosco.
William Bonner: Mas então, candidato, o senhor tem dentro do seu próprio partido - ‘diga-me com quem andas, e te direi quem és’ - dentro do seu partido o senhor tem Aécio Neves e tem Eduardo Azeredo. Ambos com envolvimento em casos de corrupção. Eduardo Azeredo condenado, cumprindo pena. Aécio Neves tem contra ele uns vídeos muito eloquentes, muito explícitos, não é. O senhor tem dito que é a favor da Lava Jato, o senhor é a favor do combate à corrupção. Como presidente do PSDB, por que é que o senhor não pediu, não propôs até agora, a expulsão desses dois elementos do seu partido?
Geraldo Alckmin: Olha, Bonner, primeiro, o Aécio não foi condenado, ele está sendo investigado e vai responder para a Justiça. Nós não passamos a mão na cabeça de ninguém. Quem errou, paga pelo erro. Quem foi absolvido, será absolvido. O Eduardo Azeredo, ele já está afastado da política há muito tempo...
William Bonner: Mas ele continua integrando o partido… E o senhor é o presidente do partido.
Geraldo Alckmin: É, mas já está afastado da política. Aliás, ele vai sair do PSDB, não precisa nem expulsar.
William Bonner: Mas candidato, candidato... Não há nenhum incômodo, nenhum constrangimento de manter Eduardo Azeredo dentro do PSDB?
Geraldo Alckmin: Ô, Bonner...
William Bonner: Eu tenho que perguntar o senhor o seguinte: a ética que o PSDB defende com tanta veemência e cobra com tanta veemência de partidos adversários não vale para os próprios tucanos do PSDB?
Geraldo Alckmin: Vale, vale e nós não vamos para a porta de penitenciária para contestar a Justiça, não transformamos réu em vítima, não desmoralizamos as instituições.
William Bonner: E não expulsam um condenado como Eduardo Azeredo...
Geraldo Alckmin: O Aécio Neves era o presidente do partido, ele foi afastado da presidência do partido, nunca me passou pela cabeça ser presidente do PSDB. Eu só fui eleito presidente do PSDB porque ele foi afastado. O partido fez o que tinha que ser feito. Afastou, fez nova eleição, elegeu uma nova direção partidária e o Aécio responde na Justiça.
William Bonner: E Eduardo Azeredo, candidato?
Geraldo Alckmin: O Eduardo Azeredo já está afastado da vida pública há quase dez anos.
William Bonner: O senhor está dizendo, então, como presidente do PSDB, que nem passa pela sua cabeça tomar a iniciativa de...
Geraldo Alckmin: Não, ele vai…
William Bonner: Pedir a desfiliação, o desligamento dele do seu partido.
Geraldo Alckmin: Bonner, ele vai pedir, ele vai pedir o seu desligamento. Mas eu queria dar uma palavrinha sobre ética, que acho que essa é uma questão central. Eu fui deputado estadual, duas vezes deputado federal, poderia estar aposentado, recebendo como deputado desde os 50 anos de idade. Não recebo um centavo.
William Bonner: Sim, candidato, mas...
Geraldo Alckmin: A lei, só para concluir...
William Bonner: Me perdoe. É porque senão vira discurso, candidato…
Geraldo Alckmin: A lei permite, a lei permite, nem tudo que é legal é ético, e política é uma atividade essencialmente ética. Quem não tem compromisso com a ética tem que estar fora da política.
William Bonner: A ética vai permear diversas questões aqui nessa entrevista, né?
Geraldo Alckmin: Perfeito.
Renata Vasconcellos: Pois é. Até a propósito disso, três delatores de uma empreiteira narram pagamento de caixa 2 para campanhas do senhor em 2010 e 2014. Um dos delatores, inclusive, dá detalhes de um encontro onde teria sido acertado esse dinheiro ilegal. Ele diz que o senhor entregou a ele um cartão do seu cunhado, recomendando que tudo poderia ser acertado entre os dois. Entre o delator e o seu cunhado. Quando confrontado com isso, o senhor sempre diz que não é verdade. Mas o PSDB dá crédito às delações contra políticos de partidos adversários. Por que que ela seria falsa para o senhor, com relação ao senhor, e verdadeira para opositores do senhor?
Geraldo Alckmin: Olha, Renata, primeiro, total transparência, total compromisso com a investigação. Isso é mentira, as minhas campanhas sempre foram feitas de maneira simples e rigorosamente dentro da lei. Nunca teve cartão nenhum, aliás, a própria pessoa que fez essa delação, ela nem participou da reunião, ela mesmo diz. A minha família, ninguém participa de governo, a minha mulher trabalha comigo há quase 40 anos como voluntária, voluntária. Então é importante separar o joio do trigo. Há uma tendência de misturar tudo e não é correto, e não é verdade.
Renata Vasconcellos: Os três delatores nesse caso contam a mesma história, inclusive um deles dá detalhes, disse que o seu cunhado recebeu pessoalmente o dinheiro.
Geraldo Alckmin: Pois é, e já...
Renata Vasconcellos: O senhor diz, então, que é mentira.
Geraldo Alckmin: É mentira, é mentira, estou dizendo.
Renata Vasconcellos: E por que seria verdade delações contra integrantes de partidos opositores ao senhor?
Geraldo Alckmin: Não, não...
Renata Vasconcellos: O seu partido, às vezes, endossa isso.
Geraldo Alckmin: Renata, não sou eu que estou dizendo que é verdade, é a Justiça que está dizendo. Nós temos que respeitar a Justiça. Não sou eu que estou dizendo se é verdade ou não é verdade. O que que a sociedade quer?
William Bonner: O seu partido não aguardou julgamentos, candidato
Geraldo Alckmin: A sociedade quer, a sociedade quer que as investigações ocorram, que haja transparência, que quem seja inocente seja inocentado, quem seja culpado pague pelo seu erro. É isso que nós queremos para o Brasil.
William Bonner: É uma prudência que, para os tucanos o PSDB tem, e não foi tão prudente assim quando os acusados ou delatados eram de outros partidos. Tenho que dizer, mas gostaria de avançar na discussão.
Geraldo Alckmin: Não, nós sempre respeitamos a Justiça, sempre respeitamos a Justiça e defendemos a investigação.
William Bonner: Nós vamos permanecer nesse terreno da corrupção, porque é um tema que no Brasil… Infelizmente, no Brasil, hoje, é um tema que se impõe muito. O seu secretário de Transporte, Laurence Casagrande, está preso. Ele é suspeito de fraude em licitação na obra do Rodoanel. Em própria defesa, ele diz que tentou evitar o aumento do valor da obra pleiteado pelas empreiteiras envolvidas, porque elas alegavam que havia surgido rochas enormes que dificultavam o trabalho delas. Laurence Casagrande diz, então, que o pagamento desse a maior no contrato, contra o qual ele havia se insurgido, esse pagamento acabou sendo determinado por um órgão terceiro, uma junta arbitral que estava prevista em contrato, uma junta de especialistas, que estava prevista em contrato para casos de mediação de conflitos entre as partes. Muito bem. Isso é o que diz Laurence Casagrande, que está preso. Mas, no inquérito da Operação Pedra no Caminho, o gerente de uma empreiteira disse que Laurence Casagrande teve uma reunião com diretores de empreiteiras para, segundo o relato dele, eu vou ler aqui as palavras dele, para “melhorar o valor do contrato de forma irregular”. Estamos falando da obra do Rodoanel. Laurence Casagrande, seu secretário de Transportes. Dizem, esse mesmo gerente e outros dois funcionários, que não havia nenhuma dificuldade extra que justificasse o aumento do valor dessa obra. Isso é criminoso, candidato. No entanto, e é preciso dizer, esse é o relato de testemunhas. Eles não são delatores. São testemunhas. Diante deste quadro, o senhor tem, reiteradamente, feito uma defesa enfática do seu secretário de Transportes, Laurence Casagrande. Esta defesa que o senhor faz é coerente com o seu discurso de combate à corrupção?
Geraldo Alckmin: Absolutamente coerente. Quero falar aqui com quem está nos assistindo. Eu assumi o governo em 2011, o governo do estado de São Paulo, nomeei o promotor de Justiça. Aliás, mais do que promotor, um procurador de Justiça do estado, para secretário de Logística e Transporte do estado. Ele escolheu Laurence Casagrande, que é um homem sério, correto, para presidente da Dersa. Ele foi o presidente da Dersa, fez uma belíssima obra. O Rodoanel está terminando, houve um questionamento ao longo da obra em relação a questão de rochas que apareceram, ele corretamente pediu para que o IPT se pronunciasse. Aí, o concessionário, a concessão não concordou. O contrato, essa obra é financiada pelo BID, prevê uma junta de arbitragem, a junta de arbitragem foi montada com três pessoas, professores da escola politécnica da Universidade de São Paulo, um indicado pela empresa, um pela Dersa e um independente. Os três decidiram que aquele volume de rochas não era previsível, que deveria ser pago. O BID concordou, eu acho que nós temos...
William Bonner: Testemunhas dizem outra coisa, candidato.
Geraldo Alckmin: Bonner, nós temos que ser justos. Eu acho que o Laurence está sendo injustiçado.
William Bonner: Bom…
Geraldo Alckmin: Espero que amanhã, quando ele for inocentado, tenha o mesmo espaço para fazer justiça a uma pessoa de vida simples, uma pessoa séria, uma pessoa correta, correta.
William Bonner: E se for...
Geraldo Alckmin: E que pode estar havendo uma grande injustiça, aliás nós...
William Bonner: Se ele for, candidato...
Geraldo Alckmin: Nós derrubamos o preço do Rodoanel através das desapropriações.
William Bonner: Veja, candidato, se ele for absolvido, certamente haverá espaço para isso. Se ele for condenado, o senhor terá endossado o comportamento dele e ficará numa situação delicada.
Geraldo Alckmin: Por todas as informações que eu tenho, todas, todas, todas, Bonner, não há nenhum, nenhum problema.
William Bonner: É apenas porque...
Geraldo Alckmin: Nem na obra e nem no comportamento dele.
William Bonner: Sim, eu tinha adiantado alguns pontos da defesa de Laurence Casagrande, o senhor os repetiu, mas o senhor omite esses relatos de testemunhas...
Geraldo Alckmin: Eu não tenho essas informações.
William Bonner: Elas constam no inquérito.
Geraldo Alckmin: Até porque estão em segredo de Justiça...
William Bonner: Não, constam do inquérito.
Geraldo Alckmin: Mas você é mais poderoso do que eu e consegue.
William Bonner: Mas, candidato, não é um fato isolado, em se tratando de Dersa e de Rodoanel, né? O Ministério Público acusa Paulo Vieira de ter escondido… Deixa eu ver o valor aqui: R$ 113 milhões. O correspondente a R$ 113 milhões fora do Brasil, no exterior. Quer dizer, quando se fala em Dersa, é muito dinheiro.
Geraldo Alckmin: Bonner, quando eu assumi o governo em 2011, ele já estava fora do governo, e se ele realmente tem, não precisa ser 130, pode ser R$ 130.
William Bonner: R$ 113 milhões, candidato.
Geraldo Alckmin: E não provar, deve responder por isso. Só que quando eu assumi o governo, o Rodoanel Sul estava inaugurado e ele não estava mais no governo.
Renata Vasconcellos: Bom, antes de passar para o próximo tema da nossa entrevista, eu só gostaria de deixar claro que o seu partido, PSDB, apoia, sim, Fernando Collor de Mello, do PTC, em Alagoas. Portanto, o seu palanque é com Fernando Collor de Mello.
Geraldo Alckmin: Não, não, Renata. Vamos clarear bem. O PTC não me apoia para presidente da República.
Renata Vasconcellos: O PSDB apoia Fernando…
Geraldo Alckmin: Lá em Alagoas...
Renata Vasconcellos: O seu partido apoia.
Geraldo Alckmin: Questão local, eu não sou candidato a presidente da República do senhor Fernando Collor de Mello, nem do PTC, e nem ele está na minha coligação.
William Bonner: O senhor…
Renata Vasconcellos: Então, sendo do seu partido, o senhor repete que "diga-me com quem andas, e eu direi quem és"?
Geraldo Alckmin: Claro que repito, claro, claro.
William Bonner: Os senhores abriram mão, o PSDB abriu mão de ter um candidato próprio em Alagoas.
Geraldo Alckmin: Como?
William Bonner: Em Alagoas.
Geraldo Alckmin: Não, mas não é só em Alagoas. O Brasil tem 27 estados com o Distrito Federal. Na metade dos estados do Brasil nós não temos candidato. O Brasil não tem um sistema…
William Bonner: Inclusive nas Alagoas de Fernando Collor...
Geraldo Alckmin: Não tem um sistema bipartidário…
Renata Vasconcellos: Bom, vamos passar então para o próximo tema…
Geraldo Alckmin: Nós temos o sistema multi, pluripartidário, e se nós não fizermos a reforma política, não vai melhorar.
Renata Vasconcellos: Eu vou pedir agora…
Geraldo Alckmin: Eu quero ser o presidente da mudança, das reformas para mudar o Brasil.
Renata Vasconcellos: Candidato, vamos falar agora de segurança pública, que é um tema que aflige muitos brasileiros. A maior facção criminosa do Brasil nasceu em São Paulo e se espalhou pelo país. Inclusive, atravessando fronteiras. Para fora, para outros países. Em que a sua política de segurança falhou?
Geraldo Alckmin: A política de segurança de São Paulo é um exemplo.
Renata Vasconcellos: Não há falhas, na sua opinião?
Geraldo Alckmin: Nós tínhamos, nós temos os melhores policiais do Brasil, a melhor polícia do Brasil, a melhor tecnologia do Brasil. Tínhamos, em 2001, 13 mil assassinatos por ano. Reduzimos para 12, 11,10, 9, 8, 7, 6, 5, 4…
Renata Vasconcellos: Mas muitos especialistas...
Geraldo Alckmin: No ano passado, 3.503 para 45,5 milhões de habitantes. São Paulo é maior que a Argentina.
Renata Vasconcellos: Mas o que que o senhor diz, então, sobre essa queda na taxa de homicídios, muitos especialistas que estudam o assunto dizem que ela se deve mais ao fato dessa facção criminosa ter eliminado os rivais, dominado o crime no estado, do que propriamente à ação da polícia. O senhor refuta essa análise?
Geraldo Alckmin: Mas é inacreditável alguém dizer que 10 mil pessoas deixam de ser mortas por ano e que a culpa disso, ou melhor, a proposta disso é o crime que fez. Ele não, é a polícia que fez.
Renata Vasconcellos: Mas o que o senhor tem, então… O senhor acha que não há falhas com relação ao surgimento dessa maior facção criminosa do país, candidato?
Geraldo Alckmin: Nós temos... Olha, quando o Fernandinho Beira-Mar, que é aqui do Rio de Janeiro, o governo federal não tinha onde colocá-lo, não tinha onde colocá-lo... Não existia penitenciária de segurança máxima no Brasil, Renata, nós já tínhamos em São Paulo três penitenciárias de segurança máxima. Ele foi para São Paulo para ficar 60 dias. Eu apanhei muito. A imprensa bateu em mim: “Poxa, não chegam os nossos aqui? Precisa trazer um de fora? ”. Ficou dois anos lá e desapareceu.
William Bonner: No entanto, candidato...
Geraldo Alckmin: E mais: eu vou liderar, Bonner, no Brasil inteiro a questão da segurança pública com tecnologia e inteligência.
William Bonner: Mas como é que o senhor… Eu queria falar disso. Eu queria falar disso. Veja. O PSDB esteve no poder estadual de São Paulo por 24 anos. Em 24 anos...
Geraldo Alckmin: E São Paulo é um exemplo, superávit primário, melhor saúde, melhor educação, melhores estradas. É um exemplo para o Brasil.
William Bonner: São Paulo poderá ser um exemplo a seu ver, mas para quem olha o que aconteceu com essa facção criminosa em São Paulo haverá de notar que, mesmo presos, líderes, chefes dessa facção continuaram a comandar o crime de dentro da cadeia, candidato. Se o PSDB...
Geraldo Alckmin: Um dos líderes do crime organizado ficou cinco anos em RDD. Você sabe o que é RDD? Ficar 22 anos na cana...
William Bonner: O crime não foi...
Geraldo Alckmin: Não toma nem sol, não tem visita íntima, em isolamento absoluto.
William Bonner: Candidato, o comando… O senhor está negando que o comando, o comando dessa facção criminosa continua de dentro da cadeia.
Geraldo Alckmin: Crime organizado...
Renata Vasconcellos: O senhor nega essa realidade?
Geraldo Alckmin: Claro, mas é óbvio, óbvio. Isso aí são coisas que vão sendo repetidas e acabam virando verdade. Explica para mim: como é que no Brasil tem 30 homicídios por 100 mil habitantes e, no mesmo país, no país que tem a maior população, tem oito homicídios por 100 mil habitantes? Porque é lá que eles trabalham.
William Bonner: A maior facção criminosa do Brasil, nascida em São Paulo, com seus líderes ou chefes presos em São Paulo, continuam operando, se expandindo pelo Brasil e fora do Brasil, e não tem comando de dentro das cadeias?
Geraldo Alckmin: Facção…
William Bonner: Sem bilhete apreendido, dentro de vaso sanitário, nada?
Geraldo Alckmin: Não tem, não tem, não tem. Nós temos scanner, nós temos controle, nós temos penitenciária de segurança máxima, antes do governo federal. Tem regime disciplinar diferenciado, isolamento absoluto, tanto é que nós reduzimos…
Renata Vasconcellos: Mas, então, o que o senhor diz de documentos públicos?
Geraldo Alckmin: Nós reduzimos…
Renata Vasconcellos: Como a própria polícia encontra bilhetes encontrados em vasos sanitários, escutas feitas pela própria polícia?
Geraldo Alckmin: Você sabe quantos presos nós temos em São Paulo? Duzentos e vinte e oito mil presos. Nós temos 22% da população brasileira, 35% da população carcerária. São Paulo prende, cana dura, e eu sendo presidente da República vou mudar a lei de execuções penais, acabar com essa saidinha toda hora e endurecer pena. Tecnologia, polícia de fronteira, combate. Qual o problema do Brasil? É droga. É tráfico de drogas e tráfico de armas. Os estados estão enxugando gelo e isso é tarefa federal. Tráfico de drogas e tráfico de armas. Nós vamos criar uma agência de inteligência.
William Bonner: Parece haver uma concordância geral de candidatos, já há algumas eleições, candidatos têm concordado com esta tese, o problema é executá-la. Mas enfim… Vamos...
Geraldo Alckmin: Claro. E vou executar. Como eu fiz em São Paulo, vou fazer no Brasil.
William Bonner: Vamos lá. Vamos ver ainda coisas que o senhor fez em São Paulo. Vamos falar de mobilidade urbana, transporte público. Isso interessa a milhões e milhões de brasileiros, não apenas de São Paulo. Nós vimos no projeto Brasil Que Eu Quero, certamente o senhor acompanhou, os brasileiros manifestando seus desejos, né? E eles reclamaram muito de obras abandonadas pelo país. Isso é uma queixa generalizada no nosso país. O seu governo deixou de entregar duas obras de mobilidade muito, muito importantes e de vulto. Uma delas, a Linha Ouro do metrô. Ela tinha previsão de entrega em 2014. A outra, já mencionamos aqui, o Rodoanel, que começou, o trecho fundamental dele.... É uma obra que começou no século passado, em 1998, e ainda não está concluído. Com esses atrasos, como é que o senhor vai convencer o eleitor de que o senhor vai botar nos trilhos a questão da mobilidade no país inteiro, candidato?
Geraldo Alckmin: Olha, primeiro, o Rodoanel foi entregue... O Rodoanel Oeste, interligando cinco autoestradas, o Rodoanel Sul, chegando ao porto de Santos, Anchieta e Imigrantes.
William Bonner: Vinte anos de obra, né, candidato?
Geraldo Alckmin: O Rodoanel Leste, chegando a saída aqui para o Rio de Janeiro. E o ano que vem entrega, finalmente, e termina os 180 quilômetros de anel metropolitano. Nós... Eu peguei o governo com 60 estações de metrô. Vai terminar o ano com 89. Em oito anos, em plena crise, sem um centavo de ninguém, nem de prefeitura, nem do governo federal. Sozinho, nós fizemos quase 50%. Aliás, quero dizer que depois de amanhã, sexta-feira, mais quatro estações de metrô vão ser inauguradas em São Paulo na Linha 5. Estação Hospital Servidor, Estação Hospital São Paulo, Estação Chácara Klabin e Estação Santa Cruz. Nós tocamos...
William Bonner: Então, o assunto agora é habitação, candidato.
Geraldo Alckmin: Nós pegamos simultaneamente todas as obras de trem e de metrô.
William Bonner: Ok. Vamos avançar para a gente poder abarcar o maior número de temas possível. Vamos falar de habitação. O último levantamento de déficit habitacional no estado de São Paulo revelou uma falta de 1,3 milhão de moradias. Em 2011, esse déficit era menor. Ele passava um pouco de 1 milhão de moradias. Ou seja, a situação se agravou durante o seu mandato como governador. Como é que o senhor vai convencer o eleitorado de que o senhor vai enfrentar o problema, a questão da moradia no Brasil inteiro, com eficiência, dada essa situação?
Geraldo Alckmin: Olha, primeiro, São Paulo é o único estado do Brasil que investe 1% do ICMS só para moradia. Nós entregamos 120 mil unidades habitacionais, único. Fizemos a primeira PPP do país de habitação para revitalizar o Centro de São Paulo, em frente à Sala São Paulo. Construções pelo CDHU, complementamos os recursos do Minha Casa, Minha Vida, através do Casa Paulista.
William Bonner: O déficit aumentou no seu governo, candidato.
Geraldo Alckmin: Não, mas não é só nem São Paulo, no Brasil inteiro. Alguém...
William Bonner: Sim, mas…
Geraldo Alckmin: Todo mundo sabe que o Brasil passou, nesses últimos anos, a maior crise da história. A maioria dos governos não paga nem salário, salário está atrasado. Nós, com todas as contas em dia, superávit primário, que é o que nós vamos fazer no Brasil, ajuste pelo lado da despesa e investimento, investimento. E confiança, trazer confiança para o Brasil voltar a crescer.
William Bonner: Esse ritmo de entrega de moradias que permitiu que o déficit habitacional do estado de São Paulo aumentasse ao longo do seu governo... Esse ritmo o satisfaz? O senhor não se sente frustrado? É esse o ritmo que o senhor quer implementar se o senhor for presidente da República para resolver o problema nacionalmente, candidato?
Geraldo Alckmin: Bonner, não tem nenhum estado que invista em habitação, quem investe é o Governo Federal, porque é ele que tem o dinheiro do Fundo de Garantia. O estado de São Paulo é o único que investe 1% do ICMS em moradia, por quê? É moradia para você, que ganha um salário, dois salários, poder ter acesso à casa própria e emprego na veia. Eu vou fazer um grande canteiro de obras, Bonner e Renata, estradas, ferrovia, rodovia, portos, aeroportos, água, esgoto, habitação, porque é emprego na veia. É isso que o Brasil precisa, emprego rápido.
Renata Vasconcellos: A gente falou de habitação, que é um tema importantíssimo, mas precisamos também falar de saúde pública. O senhor defende as OSs, as Organizações Sociais, como uma alternativa ao SUS. O senhor, inclusive, fez isso em São Paulo. E os resultados têm sido questionados pelo Tribunal de Contas do Estado. Como é que o senhor pretende evitar a repetição desse problema?
Geraldo Alckmin: Renata, as OSs são um modelo. O hospital mais bem avaliado do Brasil é o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, o ICESP. Eleito pelos usuários o melhor hospital do país, é uma OS. Aliás, essa é uma discussão que nós temos muito com o PT e com a esquerda radical, porque eles dizem: “Tem que ser estatal”. Nós dizemos: “Tem que ser público, gratuidade, equidade, universalidade”.
Renata Vasconcellos: Sim. É.
Geraldo Alckmin: E a gestão pode ser de OS, pode ser de OS.
Renata Vasconcellos: De fato, mas, por exemplo, o Tribunal de Contas do Estado diz que essas organizações receberam ao longo de cinco anos R$ 38 bilhões do governo, né, dinheiro público. O presidente do TCE diz, inclusive, que o governo falha na fiscalização e no controle, justamente para prevenir desvios, descumprimento de regras com esse dinheiro público que é tão importante. Mas, ainda assim, essas organizações todas receberam do governo do estado de São Paulo os valores integrais do contrato, sem cumprir as metas. É esse modelo que o senhor quer replicar nacionalmente?
Geraldo Alckmin: Renata, nós monitoramos e acompanhamos todas as OSs, nós temos as melhores OSs, é a Escola Paulista de Medicina...
Renata Vasconcellos: Mas o que o senhor diz sobre essa crítica do Tribunal de Contas?
Geraldo Alckmin: Não, o Tribunal de Contas aprovou por unanimidade todas as minhas contas. Sempre que ele aprova, ele tem recomendações, que só nos ajudam a governar melhor.
Renata Vasconcellos: Não dá para cumprir essas recomendações?
Geraldo Alckmin: Dá para cumprir, claro, as OSs são permanentemente monitoradas. Nós inauguramos, em oito anos, em plena crise, 16 hospitais novos, 23 AMEs. É meu dever, como médico, eu vou melhorar a saúde no Brasil.
William Bonner: Candidato, seu tempo.
Geraldo Alckmin: Reconheço que a saúde no Brasil precisa melhorar.
William Bonner: Bom, nós chegamos aos 27 minutos, eu estou vendo o reloginho, tenho que monitorar isso. Lamento ter que interromper, mas chegou aquele momento em que o senhor, como os demais candidatos, terá direito a um minuto para dizer qual é o Brasil que o senhor quer para o futuro.
Geraldo Alckmin: Olha, o Brasil que eu quero para o futuro é um país de oportunidade, oportunidade para todos. O Brasil tem pressa e o Brasil precisa mudar, e ele, para mudar, precisa de reformas. Nós vamos fazer rápido as reformas que o país precisa. Para quê? Para ter emprego. O seu filho, o seu neto, você trabalhador, trabalhadora, ter oportunidade. O Brasil voltar a ser um país de oportunidade para todos e não deixar ninguém para trás. Por isso, com humildade, peço o seu apoio.
William Bonner: Eu agradeço em nome de todo o Jornal Nacional, Renata, todos nós, agradeço a sua presença aqui, candidato. Muito obrigado.
Renata Vasconcellos: Obrigada.
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