Em: 12/05/17 - 15:30
Fonte:
Agências
Editoria:
Política
O marqueteiro João Santana disse ao Ministério Público Federal (MPF), em sua delação premiada, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente cassada Dilma Rousseff sabiam de pagamentos oficiais e caixa 2 de despesas eleitorais. O petista tinha a “palavra final de chefe”.
Santana contou que tratou diversas vezes com Lula e Dilma quando necessitava fazer cobranças. “Nestas oportunidades, tanto Lula como Dilma se comprometeram a resolver o impasse e, de fato, os pagamentos voltavam a ocorrer. Tanto os pagamentos oficiais, quanto os recebimentos de valores através de caixa 2”, disse Santana. A Odebrecht, em conta no exterior, quitava os débitos das campanhas petistas, segundo o delator.
O marqueteiro relatou ainda que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, preso em Curitiba, dizia que decisões definitivas sobre pagamentos dependiam da “palavra final do chefe”, em referência a Lula. Em dois momentos da campanha de 2006, Santana disse ter ameaçado interromper os trabalhos em razão de inadimplência. Depois disso, Lula pressionou Palocci, que “colocou a empresa Odebrecht no circuito”, contou.
Em seu anexo de delação, a mulher de Santana, Mônica Moura, contou que acertou com Palocci, em 2006, os valores de caixa 1 e caixa 2. Na ocasião, o petista lhe informou que parte do dinheiro por fora seria desembolsado em espécie e parte pela Odebrecht. Ela contou que os serviços custaram R$ 24 milhões – R$ 10 milhões pagos por caixa 2.
Segundo Mônica, metade do valor foi entregue em espécie a ela própria por um assessor de Palocci, em várias ocasiões, nos anos de 2006 e 2007. O dinheiro era acondicionado em caixas de sapato e de roupas, e repassado em um shopping de São Paulo.
Conta de e-mail
João Santana e Mônica Moura revelaram que a presidente cassada Dilma Rousseff manteve o casal informado sobre a Operação Lava Jato entre 2014 e 2016. Eles eram avisados por telefone e e-mail sobre o andamento das investigações e, na véspera da 23ª fase da força-tarefa, a petista os alertou sobre os pedidos de prisão que atingiriam os dois.
Mônica disse aos procuradores que Dilma ligou para a República Dominicana, onde o casal estava, para avisar Santana que eles seriam presos. A ligação foi feita em 21 de fevereiro do ano passado. O casal foi alvo de operação no dia seguinte e preso no dia 23, ao chegar ao Brasil.
Segundo Mônica, Dilma tinha informações privilegiadas por meio do então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Com apoio de Giles Azevedo, assessor especial da petista, as duas criaram uma forma de comunicação para tratar de temas relacionados às investigações. O casal também falou sobre a preocupação de Dilma com o avanço das investigações. Esse trecho da delação foi incluído pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), no inquérito já em andamento no qual Dilma é investigada por suspeita de obstruir a Justiça.
De acordo com Mônica, a descoberta de uma conta do casal na Suíça, para Dilma, “a colocaria em perigo, porque sabia que a Odebrecht tinha realizado o pagamento de suas campanhas através de depósitos de propinas”. Segundo a empresária, Dilma disse: “Precisamos manter contato frequente de uma forma segura para que eu lhe avise sobre o andamento da operação, estou sendo informada de tudo frequentemente pelo José Eduardo Cardozo”.
A empresária então usou o notebook da então presidente para criar uma conta, com nome e dados fictícios, usando senha compartilhada entre as duas e Giles para tratar dos avanços da Lava Jato. As mensagens escritas pela petista ficariam na caixa de rascunhos, para não circular, e Mônica acessaria a conta. Como provas, a delatora entregou as contas de e-mail, passagem aérea e seu notebook. Santana disse ainda que Dilma recomendou que o casal permanecesse mais tempo no exterior.
A presidente cassada Dilma Rousseff disse ontem lamentar o que chamou de decisão “tardia” do Supremo Tribunal Federal de acabar com o sigilo dos depoimentos. “Não foi possível cotejar os depoimentos prestados pelo casal à Justiça Eleitoral e na Lava Jato”, afirmou o comunicado. Em nota, a assessoria de Dilma também afirmou que “João Santana e Mônica Moura prestaram falso testemunho”.
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que desconhece o teor das declarações do casal. A defesa de Lula alegou que “veículos de imprensa já denunciaram que a força-tarefa da Lava Jato tem exigido referências a Lula como condição para aceitar delações”.
O ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo disse que só recebia as informações da Lava Jato no momento em que era desencadeada a operação. “Acho essa história totalmente inverossímil. Um delator muitas vezes fala o que o investigador quer ouvir, na tentativa de atenuar sua pena”, afirmou.
O advogado do ex-ministro Antonio Palocci, José Roberto Batochio, afirmou que é “temerário comentar depoimento cujo teor ainda não se conhece em detalhes”.
Mônica: Maduro pagou caixa 2 em mãos
A mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura, afirmou, em acordo de delação premiada, que recebeu recursos em caixa dois diretamente das mãos do atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que era chanceler na ocasião do suposto repasse. Ela disse que os pagamentos ocorreram em virtude de serviços prestados para campanhas eleitorais.
“O então chanceler Nicolás Maduro – que viria a se tornar presidente depois da morte de [Hugo] Chávez –, exigiu que Mônica Moura recebesse quase todos os valores pagos pela campanha de reeleição do presidente Chávez (2012) por fora, através de pagamentos realizados pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez”, diz o documento.
Segundo Mônica, “parte desse valor não contabilizado foi paga em espécie, entregue em Caracas diretamente por Maduro, na própria sede da Chancelaria. Maduro recebia Mônica em seu gabinete, entregava-lhe pastas com dinheiro e providenciava escolta para lhe dar segurança”.
Mônica disse que recebeu de Nicolás Maduro pelo menos US$ 11 milhões “em espécie na própria sede da Chancelaria” e ainda restou “uma dívida de US$ 15 milhões, nunca saldada”.
Segundo Mônica, o ex-ministro José Dirceu “participou das primeiras reuniões políticas em Caracas, fazendo, a pedido do embaixador, um elo de ligação da equipe de estratégia política da empresa dela e a Venezuela.