Em delação premiada prestada no âmbito da Operação Lava Jato, o ex-presidente da Odebrecht Ambiental Fernando Reis revela o poder de influência que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu tinha sobre a empresa, mesmo após ter deixado o governo Lula em 2005 e ter sido condenado no processo do Mensalão em 2012.
No depoimento, Reis afirma que a Odebrecht fez doações, com recursos de caixa 2, para as campanhas à Câmara dos Deputados de Zeca Dirceu, filho do ex-ministro, nas disputas de 2010 e 2014. “Ele disse: ah o Zeca está apertado, veja se podem apoiar. E não pediu valor, mas a gente (doou) R$ 250 mil em 2010 e R$ 250 mil em 2014”, diz Reis.
Questionado sobre os interesses da empresa em fazer tais repasses, o ex-diretor considerou que Dirceu, apesar de fora do Palácio do Planalto, ainda poderia causar “danos” à Odebrecht. “Apoiando o Zeca Dirceu o que nós buscávamos era na verdade não ter o José Dirceu como inimigo… apoiar ao Zeca, ao filho dele, a gente considerava que era um apoio a ele.
E era não tê-lo como inimigo, porque ele mesmo fora do governo, a gente achava que ele podia causar dano. Ainda tinha muita influência na máquina e podia causar dano, ainda tinha seus tentáculos na máquina”, ressaltou Reis. “Ele tinha muita penetração nos Estados e em algumas prefeituras. Em algum momento, nós achávamos que até na Presidência da República.
Ele tinha seus contatos na Casa Civil. Às vezes, até podia saber de informações nossas e passar para ouras”, justificou. No depoimento, o ex-dirigente afirma, contudo, que nas negociações tinha o cuidado de não passar a ideia ao petista de que o interesse era de não serem alvos de uma possível represália de Dirceu. “Nunca passamos o recibo de que esse era o propósito”, ressaltou.