A fé verdadeira, somente lembrando, não se mede pelo número de cultos frequentados, tão pouco por suposta reflexão num dia de domingo, mas também... - Ilustração Goggle
O Brasil é um país que se diz cristão. Segundo dados do IBGE, de cada dez pessoas, oito se declaram católicas ou evangélicas. Mas basta olhar para os noticiários para perceber que os ensinamentos de Jesus estão longe de ser prática cotidiana. Basta uma pesquisa no Google para se dar de cara com essa realidade.
Enquanto Cristo ensinou: “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era estrangeiro, e me acolhestes” (Mateus 25:35), pessoas em situação de rua são agredidas, expulsas de cidades, queimadas vivas, tratadas como lixo. Só entre 2020 e 2024, o Disque 100 recebeu quase 47 mil denúncias de violência contra essa população. Apenas neste ano, em Sorocaba (SP), a prefeitura colocou um incontável número de moradores de rua em ônibus e os levou para outros municípios. Em Itajaí (SC), dezenas de pessoas foram retiradas à força de abrigos e abandonadas em uma rodovia, sob escolta da Polícia Militar.
Enquanto Jesus disse: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (João 13:34), líderes religiosos abusam da confiança e da fé de suas comunidades. Também em 2025, pastores foram presos no Amazonas por aliciar adolescentes em uma igreja. Em Brasília, um líder religioso está sendo acusado por cinco mulheres de abuso sexual. Em Guaraí (TO), um pregador foi condenado por estuprar dez meninas. Em Camaçari, há não muito tempo, um pastor foi denunciado por estuprar uma criança que havia ido à casa dele para brincar com sua filha, e a igreja ao invés de acolher a vítima, tentou silenciar a família e proteger o pecador criminoso. Em todos os casos, a religião foi usada como escudo para a prática do crime. É por isso a 'agonia' desse diretor: "às Escrituras, vão às Escrituras".
Enquanto Cristo alertava: “Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor seria que se pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho e se afundasse no mar” (Mateus 18:6), o Brasil segue registrando crimes brutais contra crianças - ainda que Ele não esteja se referindo somente à pessoa duma criança natural, mas estende isso ao crente puro de coração. Nos últimos três anos, foram mais de 164 mil casos de violência sexual contra menores. O país é o quinto do mundo em número de sites com conteúdo de abuso infantil. Na vida real, não é diferente. Um pai jogou o filho de cinco anos de uma ponte no Rio Grande do Sul para se vingar da mãe. Outro sequestrou e matou o filho, um menino de nove anos, em Minas Gerais. Um idoso matou o filho em Goiânia antes de se suicidar. O mandamento “Não matarás” (Mateus 5:21) virou estatística policial.
Enquanto Jesus ensinou: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mateus 7:1) e “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (João 13:34), o Brasil segue liderando, pelo 16º ano consecutivo, o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans e travestis. Em 2024, 122 pessoas trans foram assassinadas no país, a maioria mulheres trans e travestis negras, jovens e pobres, muitas vezes mortas com requintes de crueldade em espaços públicos. Além disso, as denúncias de violência contra essa população aumentaram 45% em relação ao ano anterior, segundo dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. Esses números evidenciam uma sociedade que, apesar de professar a fé cristã, ainda marginaliza e violenta as almas de Deus por terem 'nascido diferente'.
E em diversos casos de todos esses tipos de crime, os autores são autodeclarados "cidadãos de bem, cristãos, defensores da família, dos bons costumes, e dos valores tradicionais". Muitos deles estampam nas redes sociais a famosa e insípida frase “Deus, pátria e família”. Não explicam que deus, nem qual pátria, muito menos que família...
Essa é a realidade do país onde nesse domingo muitos se reuniram para celebrar a ressurreição. Mas que tipo de fé é essa que se ajoelha no domingo para ''refletir'' e vira as costas ao sofrimento alheio e deseja o mal ao próximo na segunda? Para os que comem, e por suposta devoção comem, postas de carne de peixe na mesa, e no mesmo domingo pedaços de carne humana estampados nos jornais. E nenhum peso na consciência mas, no prato, muito molho de indiferença. Oração em favor dos que nada comem, talvez uma ou outra pitada. Talvez.
Jesus não está apenas nos altares nem nos pratos servidos no almoço de Páscoa. Ele está no olhar de quem pede ajuda ao lado, na criança indefesa, na mulher silenciada, no morador de rua invisível, no necessitado de qualquer ordem. Celebrar a Páscoa é mais do que lembrar a cruz. É viver os valores do Cristo morto e ressuscitado e de Seus ensinamentos — e isso exige, além de coragem, compaixão, piedade, misericórdia e compromisso, exige também muita vergonha na cara e temor de Deus.
A fé verdadeira, somente lembrando, não se mede pelo número de cultos frequentados, tão pouco por suposta reflexão num dia de domingo, mas sim pela capacidade de amar o próximo na prática; de proteger os pequenos; de denunciar o mal. Porque a fé que não transforma o mundo é só discurso bonito. E a Páscoa que não ressuscita a humanidade que está morta em nós é apenas mais um feriado no calendário, e disso não passa.
Deuteronômio 15; 11 é a pedida, dê um clique e, boa leitura...
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|