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Opinião

Rogaciano Medeiros é jornalistaRogaciano Medeiros é jornalista

Semana passada, duas das principais personalidades da intelectualidade brasileira abordaram questões que tocam no cerne, no âmago da grave crise política e econômica. Atingem o epicentro das instabilidades que se arrastam desde quando a direita, insatisfeita com a quarta derrota seguida nas urnas, em 2014, resolveu roer a corda e buscar, de qualquer jeito, um atalho para reconquistar o poder central no Brasil.

O economista Márcio Pochmann, professor da Unicamp e ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), chama atenção para o risco de os setores ultraconservadores forçarem ainda mais a barra constitucional e suspenderem as eleições do próximo ano. Entende que somente uma resistência de massa pode conter mais uma cartada suja do golpismo neoliberal.

O jurista Pedro Serrano, que sempre navegou pela Ciência Política, destaca a metamorfose do autoritarismo, sempre procurando meios para parecer um regime democrático. Para isso, ultimamente tem trocado o fuzil pela toga. Como exemplo, cita o Brasil, onde, segundo ele, o Judiciário tem sido usado para encobrir o Estado de exceção.

Na leitura de Serrano, a obsessão da direita em aniquilar Lula não é pessoal. O ódio e o antilulismo têm origem classista. Ou seja, buscam destruir tudo o que ele significa enquanto representação da vontade popular. Também afirmou que a única saída é a resistência organizada do povo, como principal e maior guardião da Constituição.

Por enquanto, com as instituições sob controle, as elites tentam apressar, o máximo possível, a concretização da agenda neoliberal, de forma que os objetivos maiores estejam assegurados até dezembro de 2018. Depois, independentemente do resultado da eleição do próximo ano, o desafio será manter a legislação neoliberal. O que não é tão difícil para o grande capital, diante do enorme poder de "convencimento" do dinheiro.

Essa seria a alternativa menos traumática, sem a exacerbação do arrepio constitucional, pois a ruptura já ocorreu desde o ano passado, com o impeachment sem crime de responsabilidade. No início de 2016, havia dúvidas nas classes dominantes sobre a viabilidade e os riscos de se desprezar a Constituição, a fim de deslocar do poder as forças progressistas. Inclusive, até nas esquerdas existia quem duvidasse que a arbitrariedade chegasse a tanto. Mas chegou.

Fica reafirmado o caráter golpista das elites nativas. Toda vez que se vê rejeitada pela vontade popular, não hesita em agir às margens da lei, de recorrer à força e à excepcionalidade para impor uma falsa hegemonia política. Tem sido assim ao longo da história.

De novo, o Brasil brasileiro parece viver o típico caso do "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Mas, está provado, se unificar e resistir, é possível derrotar o bicho, por mais feio que seja. Só não pode é subestimá-lo. Afinal, como lembra Pochmann, em mais de 500 anos de história, são apenas 50 anos de democracia.

Hoje, no Brasil, estão em disputa duas visões de mundo completamente antagônicas, dentro dos marcos do capitalismo. O projeto neoliberal tem na essência a extinção de qualquer função social do Estado, que deve se resumir em garantir segurança e monitorar o funcionamento das variáveis do mercado. O povo segue caminho oposto, pois necessita de uma democracia social que reduza as desigualdades e ofereça oportunidades. São concepções diametralmente opostas. Uma nega a outra.

Por isso mesmo, somente o movimento popular organizado e de massa é capaz de conter a ofensiva neoliberal, pautada no autoritarismo disfarçado de democracia, sob o beneplácito dos holofotes da mídia associada. O desafio é transferir para as ruas o palco das decisões políticas, esvaziando as instituições, totalmente dominadas pelas elites ultraconservadoras. Só há saída pela via da política, e o antídoto ao neoliberalismo é o povo. O percurso é penoso, mas é possível vencer. E como é.

Rogaciano Medeiros é jornalista

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