O tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid e o general Walter Braga Netto. Créditos: TV Justiça/Reprodução
Na primeira vez em que deixou a unidade militar onde está preso preventivamente, o general da reserva Walter Braga Netto foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) encarar cara a cara o tenente-coronel Mauro Cid. A acareação, que durou quase duas horas, foi marcada por tensão: o ex-ministro partiu para o tudo ou nada ao chamar o delator de “mentiroso” por duas vezes durante a sessão, conduzida por Alexandre de Moraes.
Segundo o advogado do general, José Luis de Oliveira Lima, Cid permaneceu cabisbaixo durante todo o encontro e não reagiu às acusações. As divergências entre os depoimentos dos dois giram em torno de uma reunião realizada na casa de Braga Netto, em novembro de 2022, e da suposta entrega de dinheiro vivo por parte do general para financiar a tentativa de golpe.
Entregas, versões e contradições
Cid afirmou em delação que Braga Netto o teria repassado dinheiro em uma sacola ou caixa de vinho, no Palácio da Alvorada. A versão, no entanto, mudou ao longo dos depoimentos. Na acareação, teria surgido até um terceiro local possível para a entrega: além das duas garagens do Alvorada, ele mencionou a sala dos ajudantes de ordens. Confrontado, Cid não apresentou nenhuma prova.
“Ele não tem prova de nada”, afirmou o advogado do general. Em depoimento anterior ao STF, Cid havia declarado não se lembrar exatamente do local, mas disse que escondeu o dinheiro “embaixo da mesa, perto do pé”.
Braga Netto nega veementemente qualquer repasse. No encontro no STF, reforçou que as versões apresentadas por Cid são contraditórias e desconexas. O confronto foi requerido pela própria defesa do general, que tenta invalidar as acusações com base nas inconsistências do delator.
Reuniões e contexto do golpe
Outro ponto em disputa diz respeito à reunião na casa do general, com a presença de Cid e dois outros militares. Segundo Cid, houve manifestações de descontentamento com o resultado das eleições e com a atuação das Forças Armadas. Ele diz ter deixado o local antes do fim. Já Braga Netto sustenta que foi apenas uma visita de cortesia e que o tenente-coronel permaneceu até o final.
Na sequência das acareações, será a vez de Anderson Torres confrontar o ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. A sessão deve abordar a participação de Torres em reuniões no Palácio da Alvorada, nas quais Jair Bolsonaro teria apresentado propostas para reverter o resultado das eleições de 2022. Bolsonaro, que está em tratamento de saúde, tem direito de acompanhar as sessões, mas ainda não confirmou presença.
Sessões reservadas e objetivos da acareação
As sessões ocorrem em uma das salas de audiência do Supremo, sem gravação em vídeo, mas com atas que serão divulgadas. O relator Alexandre de Moraes conduz os trabalhos, com participação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, e do ministro Luiz Fux.
Previstas no Código de Processo Penal, as acareações têm por objetivo elucidar contradições sobre fatos ou circunstâncias relevantes quando versões entre investigados ou testemunhas divergem frontalmente. No caso de Braga Netto e Cid, o embate foi direto, incisivo — e decisivo para a linha de defesa do general.
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