Juiz federal Eduardo Appio (Foto: Reprodução)
Em entrevista ao jornalista Leandro Demori, na TV Brasil, o juiz federal Eduardo Appio trouxe à tona revelações graves sobre os bastidores da Operação Lava Jato. Durante o programa, Appio, que foi titular da 13ª Vara Federal de Curitiba por cerca de quatro meses em 2023, denunciou ilegalidades graves, destacando a existência de uma conta secreta que acumulava mais de R$ 5 bilhões, provenientes de recursos desviados da União.
De acordo com o magistrado, a conta foi mantida sob sigilo desde 2016, com o aval do então juiz Sergio Moro, figura central da operação. "Eu consegui retirar o sigilo dos processos mais importantes, incluindo essa conta bancária que acumulava uma transferência de R$ 5 bilhões. Era um sigilo imposto por Moro", afirmou. Segundo Appio, o objetivo seria a criação de uma fundação privada gerida por pessoas próximas aos envolvidos, que não estaria sujeita ao controle do Tribunal de Contas da União (TCU).
Desvios de recursos e uso de fundações privadas
Outro ponto polêmico levantado por Appio foi a destinação de recursos obtidos por meio de acordos de leniência. Ele relatou que mais de US$ 100 milhões, que deveriam retornar aos cofres públicos, foram desviados para o pagamento de honorários advocatícios da Petrobras nos Estados Unidos. Para o juiz, esse esquema configura lavagem de dinheiro. "Há indícios de que autoridades brasileiras tentaram driblar a legislação ao estabelecer um acordo triangular entre o Departamento de Justiça dos EUA e uma fundação privada em Curitiba", denunciou.
Pressões, ligação telefônica e afastamento
Appio também comentou sobre seu afastamento, ocorrido em maio de 2023, após a suspensão de uma ordem de prisão contra o advogado Rodrigo Tacla Duran, crítico da Lava Jato e de Sergio Moro. O magistrado alegou que, após investigar supostos conflitos de interesse envolvendo o desembargador Marcelo Malucelli, acabou sendo afastado devido a pressões internas.
Segundo o juiz, ele suspeitava que João Eduardo Malucelli, filho do desembargador, fosse sócio de Sergio Moro, o que representaria um conflito de interesse grave, já que o desembargador estava jurisdicionando casos que afetavam diretamente o interesse de Moro. Para esclarecer a questão, Appio admitiu ter realizado uma ligação para o filho de Malucelli, o que acabou sendo usado como justificativa para seu afastamento. "Eu disse: 'Me dá o número do telefone que eu mesmo vou checar essa informação'. Era para entender se era filho ou sobrinho. Se fosse sobrinho, não haveria problema. Sendo filho, problemas graves", explicou.
A conversa foi gravada por uma pessoa próxima a Moro, e, segundo Appio, isso foi suficiente para que o ex-juiz e atual senador articulasse seu afastamento da 13ª Vara Federal. "Moro conseguiu, de fato, me tirar de campo, mas contou com o apoio irrestrito de uma parcela importante do Tribunal Regional Federal da 4ª região", afirmou o juiz.
Reflexões sobre o caso
Appio lamentou não ter tido tempo para aprofundar as investigações sobre as irregularidades na Lava Jato. “Minha permanência na 13ª Vara teria sido essencial para avançar nas investigações. Havia muitos elementos que não foram devidamente explorados, incluindo possíveis interceptações telefônicas ilegais”, concluiu.
As denúncias de Eduardo Appio reacendem o debate sobre a condução da Lava Jato, levantando dúvidas sobre os métodos utilizados por seus responsáveis e a destinação dos recursos recuperados pela operação.
Veja a entrevista completa: vídeo
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