O caso do homem que foi preso no dia 01 de junho por sequestrar uma menina de 14 anos que conheceu em um jogo online aconteceu em Santa Catarina, mas acendeu um alerta em todo país. Jogos online são fontes de entretenimento e podem ser educativos, mas especialistas da área da educação e da segurança indicam que é preciso atenção às crianças e adolescentes presentes nesses ambientes. Predadores podem se aproveitar desses espaços para se aproximar dos jovens e conquistar sua confiança para então cometer crimes de sequestro, aliciamento e exploração sexual.
A produtora cultural Joelma Stella conta que costuma monitorar o uso do Whatsapp, jogos online e Youtube de seu filho, Caetano Stella, de 10 anos. Foi através dessa constante supervisão que ela notou uma interação fora do comum. “Uma vez uma mulher entrou em contato com ele no WhatsApp, procurando por outra pessoa. Eu disse pra ele dizer que era o número errado, mas mesmo assim ela puxou assunto, perguntou onde ele morava e coisas assim. Então disse pra ele bloquear o contato”.
O caso do filho de Joelma não se desenvolveu ao ponto de se tornar um crime, mas é um alerta dos riscos dos ambientes online. Qualquer denúncia com relação a crianças e adolescentes - mesmo os crimes que forem mediados por jogos online ou plataformas digitais - devem ser feitas ao telefone 181 Disque-denúncia, que irá encaminhar a ocorrência para o Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Criança e o Adolescente (DERCCA), se for o caso.
O Promotor do Ministério Público, Alison Andrade, conta que é possível praticar uma variedade de crimes no ambiente digital e que, por isso, os pais devem se atentar aos jovens. “Quanto mais a criança e adolescente navega pelas plataformas sem monitoramento dos responsáveis e sem proteção dos dados pessoais mais expostos estarão para esses cibercriminosos”.
Houve uma redução de 19% nos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes na Bahia quando comparado o quadrimestre de 2023 com o mesmo período de 2024, de acordo com dados da Polícia Civil. Apesar da queda o número, ainda alarmante, inclui crimes graves como divulgação de cenas de estupro, aliciamento e exploração sexual.
Outro dado relevante é da Safernet - ONG com a missão de defender e promover os direitos humanos na internet - que recebeu em 2023, 71.867 novas denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil online. O quantitativo é o recorde de denúncias desse tipo de crime que a organização recebeu ao longo dos 18 anos de funcionamento da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos.
Perigos
A maioria dos pais desconhece os cuidados necessários para proteger seus filhos de armadilhas em chats e jogos on-line. A delegada Simone Moutinho, titular da DERCCA, explica que é preciso atenção aos jogos ou aplicativos que abrem possibilidade de bate papo ou chat, “porque são completamente perigosos”. Ela indica que os filhos podem ter perfis fakes nas redes sociais ou usar aparelhos de colegas para jogar esses jogos, por isso, é importante que exista um diálogo nas famílias.
Caso os pais notem que o filho está envolvido em algo perigoso, há cuidados que precisam ser tomados. “Converse um diálogo aberto com seus filhos. Então, salve todos os registros como prova e comunique a polícia imediatamente. Essas pessoas desaparecem muito rápido e a demora faz com que a investigação fique mais sacrificada”, explica a delegada.
A escola também possui um papel importante para proteger as crianças desses crimes, como afirma a psicóloga e diretora da Safernet, Juliana Cunha. “É um país com baixo letramento digital, então muitas vezes as pessoas não têm noção desses crimes. É preciso ser feito um trabalho de educação como política pública desde os primeiros anos escolares”.
O promotor Alison Andrade destaca que o projeto “Cidadania Digital”, uma parceria do MP com a Safernet, tem como objetivo ofertar educação digital nas escolas públicas, como forma de orientar as crianças e adolescentes sobre o uso adequado e seguro da tecnologia.
A proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital é uma responsabilidade de todos: pais, escolas, plataformas e a sociedade em geral. A denúncia e o diálogo aberto são as principais armas para enfrentar esses perigos e garantir um espaço mais seguro para os jovens.
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