O luto durou mais de um mês, e agora a Chapecoense está de volta às atividades no futebol. O time catarinense iniciou a pré-temporada na manhã desta sexta-feira (6), e o episódio se tornou ainda mais marcante por causa da presença nos vestiários do zagueiro Neto, um dos seis sobreviventes do acidente aéreo que matou 71 pessoas. Ele vestiu a camisa do clube, conversou com os outros jogadores, mas ainda não tem data prevista para voltar a jogar.
O ano será emblemático na história do time de Chapecó (SC), tanto pela reconstrução da equipe quanto pela participação inédita na Copa Libertadores da América. O técnico Vagner Mancini e 30 jogadores (contando com Neto) se apresentaram nesta sexta.
As principais novidades do elenco são os atacantes Wellington Paulista, que jogou a Série A do ano passado pela Ponte Preta, Rossi, ex-Goiás, o lateral-esquerdo Diego Renan, cujo contrato com o Vitória não foi renovado, e os meias Osman, ex-América Mineiro, e Dodô, do Atlético Mineiro e que jogou o Brasileirão pelo Figueirense. O atacante Wesley Natã, que esteve emprestado ao Bahia em 2016, retornou à Chapecoense.
Em entrevista coletiva, o zagueiro Neto falou da tristeza de retornar ao clube sem os companheiros que estavam no avião da Lamia que caiu na madrugada de 29 de novembro, na Colômbia. “É uma situação muito difícil. Vivi muito tempo com companheiros que se foram, mas Deus tem um propósito para todas as coisas e me escolheu para que algo fosse feito. Tenho que recuperar, porque tenho lesões importantes e uma hora ou outra eu teria que vir para cá e lembrar de tudo. É duro às vezes porque tinha gente que conhecia desde os 17 anos e ficamos sentidos com isso tudo. Tem uma hora que temos que encarar a realidade. Eu queria estar com eles, não aqui sozinho. Mas eu tenho que encarar isso. Sempre vou lembrar da gente entrando no avião”, ressaltou Neto.
Ele destacou que ainda se recupera mentalmente e não tem previsão de retorno ao trabalho. “Primeiro tenho que recuperar minha saúde, minha mente, vir aqui é o que vai me dar força. Eu fiquei 10 dias apagado, em coma, então para me contarem a verdade foram mais cinco dias. Quinze dias depois eu não sabia de nada. Para mim está sendo tudo meio novo, mas tenho que encarar, não tem para onde correr. Ou encaro e represento eles como eram ou vou me afundar em depressão. Eu tenho saudade, mas só penso coisas boas. A gente comentava muito entre a gente que não imaginávamos ir à final e falávamos que íamos ficar para a história. E a gente ficou na história de certa forma. Eu tenho que melhorar a minha mente. Vira e mexe eu me pego chorando quando lembro do que vivi aqui dentro”, contou.
O zagueiro também explicou como se sente fisicamente: um caco. “Quando eu falo que estou um caco, minha esposa fala que eu não me vi antes. Para mim, eu estou muito mal. Tenho quase 10 kg para recuperar ainda. Eu me sinto frágil, lesão no pulso. Eu não sabia nem ficar em pé e engolir comida. Quando entrei no chuveiro pela primeira vez parecia o mar do Caribe de tão bom. Eu acho que estou melhorando bem. Tive uma lesão importante no joelho, na coluna, mas nada que seja cirúrgico. Foi algo muito grave e graças a Deus ainda tenho chance de voltar a jogar bola”, relembrou.
O médico da Chapecoense, Carlos Mendonça, declarou que a apresentação de Neto não é uma mera formalidade e que ele vai começar tratamento, com um tempo pré-estipulado de mais 120 dias para plena recuperação. Os outros jogadores sobreviventes são o lateral Alan Ruschel, que levará cerca de três meses para calcificar a coluna, e o goleiro Jackson Follmann, que teve parte da perna direita amputada e não poderá continuar a carreira.
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