Essa jornalista que vos escreve entrou na faculdade na primeira turma do ProUni. O ano era 2004 e todos fizemos o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sem saber que dali há dois meses o Governo Federal, gestão do PT, vale ressaltar, lançaria o Programa Universidade para Todos (ProUni), dando bolsas integrais ou parciais em faculdades e universidades privadas, tendo como parâmetro a nota adquirida no Exame.
De lá para cá, o Enem se tornou sinônimo de esperança e realização de sonhos para muitos jovens, que passaram a ter a chance real de cursar uma faculdade, sem nem mesmo ter que se preocupar com a dívida adquirida ao longo do curso, como acontecia com o Programa de Financiamento Estudantil (Fies).
No entanto, desde o início da gestão Bolsonaro, o que era sonho tem virado pesadelo para milhares de jovens brasileiros. Neste ano, o Governo Federal, mais uma vez caminhando na contramão do desenvolvimento, tratou de afastar o sonho ainda mais: com uma taxa de inscrição de R$ 85 e vários pedidos de isenção negados, por ausência no exame 2020 - no meio da pandemia - o Enem teve o menor índice de inscrições desde 2007.
Em outras palavras, além de ter perdido boa parte das aulas do ano letivo de 2019 e ter esses prejuízos estendidos para 2020, seja por falta de acesso à internet ou por falta de oferta de opções para manutenção da qualidade de ensino na rede pública, os jovens tiveram ainda que lidar com a barreira financeira, imposta por quem deveria trabalhar pela inclusão.
De acordo com dados da Agência Brasil, a quantidade de inscritos ficou 34% abaixo do que foi registrado na edição de 2020. A baixa pode ser ainda maior, já que a confirmação de inscritos é feita somente após o pagamento do boleto de inscrição, que venceu nesta segunda-feira (19).
Em entrevista ao Uol, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe) e ex-diretora de educação do Banco Mundial, Claudia Costin, atribui a baixa adesão a dois fatores: falta de dinheiro para pagar a taxa e insegurança, por causa do baixo índice de aprendizado obtido em 2020 e 2021. "Quem vai acabar prestando, na maioria, são aqueles que tiveram continuidade dos estudos porque tinham as ferramentas necessárias, alunos de famílias de classe média e alta, além dos estudantes de escolas particulares", diz Costin
Para a Frente Parlamentar Mista da Educação (FPME), a queda no número de inscritos é "uma tragédia anunciada". Para os parlamentares, o número de assemelha ao total de inscritos que faltaram na edição de 2020. "Apesar dos esforços da Frente, vários estudantes ficaram sem a isenção. Sem a possibilidade de arcar com os custos, eles foram impedidos de se inscrever no exame, ficando mais distantes do acesso à educação superior num momento de agravamento da diminuição de renda das famílias brasileiras", disse, em nota a frente de congressistas
"O que estamos, vendo do ponto de vista da entrada dos estudantes no ensino superior, é um retrocesso. No caso do Enem, para 2009. No ProUni, para 2013. É, infelizmente, uma tragédia anunciada", afirma o presidente da Frente, o deputado federal Israel Batista (PV-DF)
O cenário atual se assemelha muito ao que era comum para jovens secundaristas até o fim dos anos 90 e início dos 2000: sem dinheiro para cursar faculdades particulares e sem conseguir acesso às públicas, cujas vagas eram, em ampla maioria, ocupadas por jovens de classes média alta.
E permanece a pergunta: que Brasil é esse, acima de tudo?
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