Bahia teve pior resultado entre alunos dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio (Foto: Reprodução)
A Secretaria Estadual da Educação (SEC) voltou a contestar dados divulgados sobre o desempenho da rede. Na última quinta-feira (30), foi o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). E nessa segunda (3), o alvo foi o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica 2017 (Ideb). O estado ficou em último lugar nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), ligado ao Ministério da Educação (MEC) e responsável pelos cálculos.
A pasta afirmou que o método utilizado pelo MEC e pelo Inep foi equivocado e desrespeitou os critérios adotados nos últimos 20 anos. “Antes, a avaliação era por amostragem e passou a ser censitária, sendo que, mesmo estipulando a participação mínima de 80% de estudantes por unidade escolar, esse critério não foi seguido à risca pelo Saeb/ Inep, que utilizou as notas das unidades escolares cuja participação dos estudantes foi menor”, destacou a secretaria.
O subsecretário de Educação da Bahia, Nildon Pitombo, explicou que “a Bahia contesta principalmente os resultados do ensino médio. Foram 1.243 escolas que participaram do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), e o MEC registrou apenas 376 unidades de ensino e, desse total, somente 30 mil alunos foram aproveitados para os resultados do Ideb, o que significa dizer que a metodologia censitária não foi seguida”.
Os governadores do Nordeste e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) enviaram documentação ao MEC, contestando os resultados tanto do Saeb quanto do Ideb. Para Nildon Pitombo, “a divulgação dos critérios utilizados para o cálculo das notas do Ideb aconteceu depois da realização desses cálculos, o que não é possível”. Ainda segundo ele, a mudança na metodologia levou os estados a não alcançarem as metas estabelecidas pelo MEC. Atualmente, a rede estadual conta com 898 mil estudantes.
O que fazer
A pedagoga e presidente do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), Cybele Amado, afirma que o resultado do país, como um todo, está muito abaixo do esperado. “A Bahia teve um dos resultados mais difíceis no ensino médio, mas essa questão é um problema nacional”, destaca. Para ela, as pesquisas trazem quatro grandes questões, que podem ser consideradas as mais graves do ensino médio.
“A primeira é que se vive hoje em um mundo onde os desejos, vontades, interesses e perspectivas de trabalho são muito diferentes dos observados em décadas anteriores. Então, o ensino médio atual ainda segue um padrão antiquado, que não acompanhou o pensamento contemporâneo. A necessidade do país é um método aplicado que seja compatível com as transformações e evoluções pelas quais passou a sociedade, e que vá desde o aprendizado dos alunos à forma de dar aula dos educadores”, explica.
O segundo aspecto, de acordo com Cybele, está relacionado ao histórico de aprendizagem do aluno, que deve ser construído desde a educação infantil até o ensino médio. “Durante todo o ensino básico, o estudante deve ser orientado sobre a importância do conhecimento, de buscar cada vez mais respostas e valorizar o pensamento investigativo. Só assim, com uma atuação conjunta dos educadores, esses alunos vão ser motivados a buscarem resultados melhores”, ressaltou.
Ela diz ainda que os jovens do ensino médio de escola pública vivem realidades difíceis e precisam de motivação. "Eu sou a favor de as escolas, mesmo no ensino médio, sejam todas em tempo integral. Hoje, os jovens abandonam o estudo por falta de condições e isso precisa mudar”, explicou.
A pedagoga destaca ainda um aspecto que, para ela, faz parte de uma dimensão sócio-emocional, entre a saída do ensino fundamental e o ingresso no ensino médio. “Essa é uma fase da vida dos jovens na qual eles precisam de muito apoio e suporte das escolas. Não é transferir responsabilidades, mas, sim, atribuir à escola esse papel de incentivo dado aos estudantes”, disse. Para ela, as mudanças do ensino médio, propostas pelo Governo Federal pela lei nº 13.415/17, são “polêmicas, porque apontam perspectivas de criar no centro da base o que precisa ser garantido nas áreas da língua e das exatas, mas, aos mesmo tempo, pretende mudanças que eu acredito que sejam por uma via equivocada, de excluir sociologia, filosofia e as artes.
“A perspectiva do Ideb é servir de aviso para os estados, municípios e federação sobre as dificuldades dos estudantes. A avaliação precisa ser um dispositivo de identificação da proficiência. Se elas estão sendo aprovadas e os índices de Ideb, Saeb ou qualquer outro ainda não mostram que há aprendizagem e fixação do conhecimento, é preciso uma atenção voltada para os educadores e a didática implementada em cada caso concreto”, aponta Cybele.
Na Bahia, a taxa de aprovação de alunos do ensino médio é de 74%, já a média do ensino fundamental é de 77%. A capital baiana alcança média de aprovação de 85,5% nos dois ciclos do ensino fundamental, sendo 91% nos anos iniciais e 80% nos anos finais.
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|