A aposentadoria sempre foi uma preocupação para a terapeuta Cláudia Nejme. Às vésperas de completar 60 anos, ela contribuiu para o INSS durante toda a carreira e espera dar entrada no ano que vem no processo para receber o benefício. Porém, mesmo tendo feito uma reserva financeira, ela afirma que terá de continuar trabalhando.
Segundo uma pesquisa do grupo Mongeral Aegon, especializado em seguros e previdência privada, apenas 21% dos trabalhadores autônomos brasileiros estão confiantes em relação a uma aposentadoria confortável. O dado pode ser explicado pela falta de planejamento, uma vez que 34% dos entrevistados dizem guardar dinheiro com essa finalidade e só 8% afirmam ter um plano formal de aposentadoria.
No caso de Cláudia, um imprevisto acabou consumindo parte da reserva de emergência e o benefício que ela prevê receber pelo INSS mal deve bastar para cobrir suas despesas básicas. “O dinheiro da aposentadoria vai ser só um troco. Isso é um décimo da minha renda”, diz.
O conceito de aposentadoria confortável é explicado pelo superintendente de Projetos Estratégicos da Mongeral Aegon, Leandro Palmeira: “É o momento em que se começa a fazer outras atividades e reduzir as horas trabalhadas”. Boa saúde e recursos suficientes para custear as necessidades financeiras são fundamentais, explica.
Responsável pelo estudo, feito com cerca de 5 mil trabalhadores no Brasil, nos Estados Unidos e na Holanda, Palmeira afirma que a situação no País não é muito diferente da do exterior. Lá fora, a falta de planejamento financeiro também é a principal deficiência, diz. “A diferença entre um autônomo e um assalariado é a poupança forçada”, afirma Joelson Sampaio, professor de Finanças da Fecap.
Ele diz que guardar dinheiro para a aposentadoria não significa necessariamente investir em previdência privada, mas fazer qualquer aplicação com o objetivo de garantir determinada renda no futuro. “Para um empreendedor, vender o negócio no futuro ou ter um imóvel também são alternativas. O problema é não ter um plano B”, explica.
O aumento do desemprego nos últimos anos dificulta a mudança de comportamento dos brasileiros em relação a poupar, uma vez que os gastos essenciais se tornaram prioridade. Um exemplo é a inadimplência dos Microempreendedores Individuais (MEIs) - categoria mais básica de trabalhador autônomo - em relação ao recolhimento de impostos.
Dados mais recentes da Receita Federal mostram que, em outubro de 2016, mais de 60% dos 6,5 milhões de cadastrados estavam inadimplentes, um total de 3,9 milhões de pessoas. Consultor do Sebrae-SP, Silvio Vucinic diz que o imposto em dia garante a contribuição ao INSS, de modo que o trabalhador está segurado não só em relação à aposentadoria, mas também quanto a possíveis acidentes de trabalho ou, no caso das mulheres, licença-maternidade.
Como planejar a aposentadoria
Carteira de investimentos - O trabalhador pode fazer aplicações financeiras voltadas para garantir sua renda no futuro. Nesse caso, títulos públicos de longo prazo são uma alternativa.
Patrimônio - Cogitar a venda do negócio, no caso do empreendedor, ou a compra de um imóvel para alugar ou vender no futuro podem ser alternativas para garantir renda na aposentadoria.
MEI - O Microempreendedor Individual já contribui com o INSS ao pagar em dia a guia única de impostos da categoria. Ele pode usufruir de benefícios a partir de um mínimo de contribuições.
Avulso - O trabalhador que não tiver vínculo no setor privado pode fazer contribuições avulsas ao INSS. Nesse caso, pode optar por alíquotas entre 5% e 11% sobre um salário mínimo, ou 20% sobre um valor entre o piso e o teto do INSS, atualmente de R$ 5.531,31. No primeiro caso, exclui-se apenas o direito à aposentadoria por tempo de contribuição.
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