Acidente em 2016 matou dez pessoas e deixou mais de 17 feridos (Foto: Mauro Akin Nassor | Arquivo CORREIO)
Gerente regional da rede disse a juiz que não tinha competência para fechar a loja durante a obra
Cristiane, Ednaldo, Fabiana e Aleane. Além de terem sobrevivido à tragédia da explosão de uma das farmácias da rede Pague Menos em novembro de 2016 em Camaçari, eles têm em comum os traumas físicos, psicológicos e ainda lidam com a morosidade da justiça.
“Isso já vai fazer três anos, mas parece que foi hoje. Quando passo na região, vem à mente todo aquele terrível cenário de fogo, de gente pedindo socorro, de pessoas mortas, de bombeiros, de pânico, muito sofrimento", declarou Fabiana Silva do Nascimento, 38 anos. Ela exercia a função de auxiliar de farmácia quando a loja da rede na Avenida Getúlio Vargas, no centro de Camaçari, explodiu, matando 10 pessoas e deixando mais de 17 feridos.
Na manhã desta terça-feira (10), ela e outros três sobreviventes compareceram à audiência no fórum de Camaçari, onde os cinco réus do processo criminal eram esperados pelo juiz Waldir Viana Ribeiro Júnior, na Vara do Júri e Execuções Penais do Fórum Clemente Mariani.
Apenas um dos cinco réus esperados foi interrogado na audiência que apura a tragédia. A gerente regional da rede Maria Rita Santos Sampaio disse que não tinha competência para fechar a loja para que uma obra fosse realizada.
Os outros quatro réus não foram ouvidos porque a defesa de um deles, Augusto Alves Pereira, pediu para remarcar o interrogatório, já que uma testemunha de defesa incluída no processo não tinha sido ouvida – a testemunha, que, atualmente, mora no Ceará não havia sido encontrada no endereço fornecido em Salvador. O pedido não foi contestado pelo promotor Bruno Sanfront, e o juiz deferiu. Ainda não há data marcada para nova audiência.
Os demais alegaram que, como estão no mesmo processo, disseram que a testemunha de Augusto pode ser importante também para eles e pediram para serem interrogados numa outra data, o que foi acatado também pelo promotor e o juiz. Já Maria Rita disse que a testemunha não fazia diferença para seu caso e, por isso, preferiu ser interrogada nesta terça.
Maria Rita foi ouvida das 9h30 até 11h30. “Ela disse que não teria o poder decisório para fechar a loja. No caso dela, o Ministério Público vai apresentar suas alegações finais sobre o que foi produzido no processo, depois, a defesa vai apresentar suas alegações finais, para em seguida eu julgar”, disse o juiz.
Inicialmente, uma fonte do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) havia informado o dia, a hora e a quantidade de réus que seriam ouvidos nesta terça-feira - oito no total. Realmente são oito réus do processo criminal, porém apenas cinco são acusados de homicídio doloso e foram eles os convocados para serem interrogados nesta terça-feira.
Dores
"A gente quer é uma resposta. Chega de tantas audiências. Já são quase três anos dessa tragédia, e o tempo está passando. É um descaso com o nosso sofrimento mental e físico", disse Fabiana, elevando a mão direita a uma das cicatrizes no pescoço - resultado de uma traqueostomia (intervenção cirúrgica que consiste na abertura de um orifício na traqueia e na colocação de uma cânula para a passagem de ar).
"Passei 36 dias internada no Hospital Geral do Estado (HGE). Nesse período, foram 21 dias em coma. Além dos traumas psicológicos, tive a capacidade do pulmão reduzida por causa da inalação da fumaça", diz Fabiana.
Ao lado dela, estava Cristiane, que, na ocasião do acidente, trabalhava como operadora de caixa. Ela nunca sai de casa sem a sobrinha, óculos escuros e uma malha específica para proteger o braço esquerdo do sol. Os cuidados não têm nada a ver com vaidade, até porque a tragédia a tirou. "Sofri queimaduras de 2° e 3° graus no rosto e precisei fazer dois enxertos. Minha autoestima é baixa. As queinaduras também atingiram os nervos do meu braço, limitando a movimentação do meu braço esquerdo", contou ela ao CORREIO, em frente ao fórum.
Eduardo Rodrigues dos Santos, 38, era auxiliar de farmácia e Aleane Ribeiro Lima, 41, operava um dos caixas à época. "Passei quatro meses fazendo tramento psiquiátrico e desenvolvi síndrome do pânico. Hoje, faço acompanhamento psicológico", disse Eduardo.
"No dia do acidente, fechava o caixa quando vi o teto desabar. Só escapei porque pulei para fora da loja. Foi Deus. Infelizmente, outros não tiveram a mesma sorte. E é por nós e por eles que estamos aqui em busca de justiça. Os demais não puderam vir porque não tinham com quem deixar os filhos ou estão tão abalados que não conseguem vir porque as lembranças são as piores possíveis", desabafou Aleane, que também faz tratamento psicológico.
Indenização
Além do processo criminal, os réus foram acionados em processos indenizatórios. Os quatro sobreviventes ouvidos pelo CORREIO entraram com o pedido de indenização separadamente. Três casos já tiveram, no mínimo, a primeira audiência. "Na minha situação, os advogados da farmácia não querem sequer um acordo. Já foram duas audiências", disse Aleane. Já Edvaldo e Fabiana tiveram também audiências, mas sem sucesso. Apenas o caso de Cristiane não teve audiência até agora. "Como desta forma acreditar na Justiça? Olha a minha situação? Não posso trabalhar, não posso fazer nada", bradou ela.
Apesar das ações separadas, o Ministério Público do Trabalho (MPT) pede R$ 10 milhões de indenização pela explosão da loja da rede Pague Menos de Camaçari. O CORREIO procurou saber sobre a movimentação processual, e a assessoria de comunicação do MPT informou que "o processo está instruído e aguardando sentença".
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