O homem preso pela morte de uma delegada na Bahia, então companheira dele, confessou o crime à polícia na segunda-feira (12). Ele também disse que se defendeu de ameaças feitas pela policial.
O que aconteceu
Tancredo Neves Feliciano de Arruda afirmou que estrangulou Patrícia Neves Jackes Aires com o cinto do carro. "Não sou um monstro, não, não sou um bicho. [...] Ela veio para cima de mim me ameaçando, e eu perdi a cabeça", alegou.
O homem disse que a delegada o ameaçou de morte, além de sua família. "Patrícia não aceitava o término de jeito nenhum, e eu não vou negar que amava ela e tentava ver aquilo dentro dela de novo, mas sempre voltava para o mesmo final de ameaça. Mas eram só palavras, ela nunca tinha feito algo, e, nesse dia, ela puxou o volante", relatou Tancredo.
Segundo Tancredo, o carro foi parar no acostamento da pista, onde os dois discutiram e o crime foi cometido. Depois, ele conta que saiu do veículo sem saber se a delegada estava morta e chamou a polícia.
O homem admitiu que mentiu sobre a policial ter sido vítima de um sequestro. "Fiquei com medo por ela ser delegada, medo da polícia fazer alguma coisa", alegou.
Ele disse que já havia sido ameaçado por Patrícia com uma arma durante uma discussão antes de pegarem a estrada. A ameaça teria ocorrido quando ainda estavam em casa no município de Santo Antônio de Jesus, onde ela trabalhava. Tancredo afirmou que os dois se entenderam e saíram, quando decidiram viajar para Salvador. Foi nesse momento, segundo o homem, que a delegada voltou a ameaçá-lo.
Segundo a Polícia Civil, Tancredo foi encontrado circulando pela BR-324, quando foi levado para à PRF. Horas depois, o carro com o corpo da vítima foi localizado em um acostamento da rodovia, no trecho do município de São Sebastião do Passé, e ele foi preso.
O homem ainda disse à polícia que ele e Patrícia se casariam nesta quarta-feira (14). A delegada-geral da Polícia Civil da Bahia, Heloísa Brito, disse que o casamento teria sido cancelado pela policial na semana passada e remarcado por Tancredo.
Homem já foi detido e denunciado por outras mulheres
Em maio, Tancredo Neves foi preso em flagrante por agredir Patrícia Neves Jackes Aires, confirmou a Polícia Civil ao UOL. Ele foi solto, e a Justiça concedeu medida protetiva, mas o casal se reconciliou.
Homem tem histórico de agressão. Segundo a polícia, o homem tem passagens por lesão corporal, em 2018, danos e ameaça, em 2022, e ameaça e injúria, em 2023. As ocorrências foram registradas em Foz do Iguaçu (PR) e em Feira de Santana (BA). Os agentes ainda investigam outras denúncias nos municípios baianos de Itamaraju e Queimadas.
Ele também foi indiciado pela Polícia Civil por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. O inquérito, aberto em 2022 em Euclides da Cunha, no interior da Bahia, foi concluído e encaminhado ao MP-BA. O UOL entrou em contato com o órgão, mas não obteve resposta. O Conselho Regional de Medicina da Bahia disse que não localizou registro médico em nome do suspeito.
Quem era a delegada
Patrícia Neves Jackes Aires atuava como delegada plantonista em Santo Antônio de Jesus, no interior da Bahia. Agora apontada como vítima de violência doméstica, ela já comandou o Neam (Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher) da 4ª Coordenadoria de Polícia.
Ela era especialista em direito penal e processual penal, além de formada em licenciatura para inglês e português. Nascida em Recife (PE), Patrícia também atuou como professora no estado de origem.
A mãe da delegada, Maria José Jackes Aires, disse que Tancredo Neves era ciumento e controlava até como a filha se vestia. "Ela pegou um áudio dele para a mãe: 'Mãe, vou pegar um remédio para me controlar porque lá vai ter muito homem. Não sei se vou conseguir me controlar'. Então, já era uma forma de ele mostrar a personalidade violenta. Esse áudio só chegou até ela (Patrícia) depois que eles tinham se separado", contou à TV Globo Pernambuco.
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.
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