Tailane ficou três dias de cama e teve manchas vermelhas nas nádegas e no joelho
Uma mulher afirma que teve manchas vermelhas na pele, coceira, febre de até 40,2ºC, dores de cabeça e no corpo após ter contato direto com óleo na praia de Itapuã, em Salvador. A possível contaminação sofrida pela professora Tailane Santos, 28, teria ocorrido na última quarta-feira (06) e a paciente só apresentou melhora nesta segunda-feira (11).
A professora foi duas vezes a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itapuã, na quarta e na sexta. Na primeira visita, a médica que a atendeu não conseguiu diagnosticá-la e passou uma medicação, além de um exame de sangue. Já no segundo atendimento, feito por outro médico, Tailane recebeu o diagnóstico de virose – o que ela questiona, já que, em sua opinião, isso não justificaria a coceira e a vermelhidão que apareceram justamente nos locais do corpo onde teve o contato.
Em entrevista, Tailane disse que a contaminação aconteceu após ela realizar uma caminhada matinal na praia de Itapuã, quando acabou sujando os pés com as manchas. Ao chegar em casa, ela foi lavá-lo. Entretanto, após a limpeza, alguns fragmentos do óleo caíram no chão sem que ela percebesse e a professora acabou sentando em cima do petróleo cru.
“Imediatamente comecei a sentir uma enorme coceira nas nádegas e no joelho. Pouco tempo depois começaram a aparecer manchas. Saí para o trabalho mesmo com o incômodo, porém comecei a passar mal com as dores e vermelhidão no local e de noite fui na UPA, onde a médica só me receitou alguns remédios para cuidar dos sintomas”, contou.
Com uma melhora nos sintomas por conta dos remédios, Tailane voltou a trabalhar na quinta-feira (07). Contudo, ao chegar em casa os sintomas tinham piorado, com febre de até 40,2ºC, relata ela. A recaída fez ela voltar a UPA na sexta, onde recebeu o diagnóstico de virose.
“Esse diagnóstico está incorreto. Uma virose não explicaria a vermelhidão e coceira exatamente nos locais onde tive o contato e justamente após o acontecido. A primeira médica que me atendeu, por exemplo, ficou até besta com a cena e não conseguiu definir o que era aquilo. Ela chegou até a fazer um registro para a Secretaria de Saúde de Salvador”, afirma a professora que ficou de cama de sexta à domingo.
O CORREIO tentou contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), mas só obteve resposta nesta terça-feira (12). Veja, na íntegra, nota divulgada pela SMS:
A Secretaria Municipal da Saúde de Salvador confirma o registro de um caso suspeito de intoxicação exógena relacionado ao contato com petróleo cru detectado em praias de Salvador. A paciente, de 28 anos, apresentou tontura, cefaleia, vômitos, mal-estar, dor de cabeça e vermelhidão em algumas partes do corpo após alegar ter tido contato com a substância, dando entrada na UPA de Itapuã no último dia 06 de novembro. A mesma foi medicada e mantida em observação, recebendo alta no mesmo dia após apresentar melhora no quadro clínico. O caso é acompanhado pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), da SMS, e diante do exposto, a pasta reforça a importância dos cuidados referentes ao contato com o óleo cru. Após qualquer reação, o recomendável é procurar uma unidade de saúde.
Ilhéus
Além do caso de Tailane, que ocorreu em Salvador, na cidade de Ilhéus ocorreram duas suspeitas de intoxicação por óleo. O do turista mineiro Anderson Gabriel Palmela, 38, que teve manchas nas costas e o de uma voluntária identificada como Cláudia, que inalou a substância, provocando náuseas e tontura.
De acordo com o secretário de Saúde do município, Geraldo Magela, apenas o caso de Cláudia foi confirmado como infecção por óleo. O do turista foi, segundo Magela, uma queimadura causada por um outro agente, possivelmente uma água viva ou algum produto que Anderson Gabriel usou.
O turista continua internado em um hospital da cidade apenas por precaução, já poderia ter recebido alta desde sábado (09). Anderson continua acreditando que o que provocou as queimaduras, enjoos e vômitos foi o óleo, mesmo com os resultados dos exames apontando o contrário.
“Já demos toda a explicação a ele, com médicos, fotos mostrando queimaduras reais de óleo, os exames… Cada um tem a sua opinião e não podemos mudar isso. Mas, como trabalhamos com fatos, seguimos na investigação para saber o que pode ter ocorrido com o turista”, explicou Magela.
Fuga
Anderson chegou a tentar fugir do hospital na última segunda-feira (04). "Ele evadiu do hospital, o encontrei na porta. Estava muito agitado, falando nada com nada. Vamos avaliar o que aconteceu e o que provocou esse comportamento", contou, à época, Geraldo Magela.
Minutos antes, o CORREIO conversou com o próprio Anderson Gabriel por telefone. Ele falava frases conexas e alegou ter sofrido uma piora em seu estado de saúde.
"Meu quadro está piorando, eu estou inchando e vomitando. Não paro de vomitar, estou com pressão alta, meu organismo começou a reagir de outra forma. Eu tenho certeza que é por causa do óleo, do derivado do petróleo. Diferente do que falaram, meus exames não estão normais. Tem um que dá sempre alterado e, por isso, tenho que repetir várias vezes", disse.
Relembre o caso
O empresário Anderson Gabriel foi internado na segunda-feira (4), quando apresentou sangue nas fezes. O mineiro deu entrada no Pronto Atendimento da Zona Sul de Ilhéus na tarde do último sábado (2), com queimaduras no corpo após tomar banho de mar na Praia dos Milionários, também localizada no litoral sul. Segundo Gleidson, o paciente relatou que sentiu o incômodo ainda no mar, “que estava limpo”.
Depois de ir para casa e tomar banho, o rapaz percebeu que os sintomas pioraram. “Meu corpo começou a coçar e queimar muito no mar. Quando cheguei em casa, no banho, a água ficou escura no chão e oleosa, mas na praia eu não vi óleo. À noite, quando voltei com o secretário de saúde para mostrar onde estava tomando banho, vimos fragmento de óleo na areia”, relatou Anderson, ao CORREIO.
O empresário mineiro, que está visitando o tio em Ilhéus, deu entrada no Pronto Atendimento por volta do meio-dia de sábado (2), com o corpo marcado por manchas e bolhas. Já na segunda-feira (4), o paciente apresentou quadro de náusea e disse que começaram a aparecer sangue em suas fezes.
Apesar das investigações, o coordenador da Vigilância de Saúde afirmou que não há como relacionar o caso com a presença de óleo nas praias do Nordeste. “A partir da notificação do caso dele, que foi isolado, a Vigilância investiga e alimenta o sistema. Além disso, liga para o Centro de Toxicologia para informar sobre o caso e faz o monitoramento do paciente pelo menos uma vez por dia”, explica Santana.
Desde a chegada do óleo em Ilhéus, na sexta-feira (25), outros dois casos foram registrados, sendo um de uma voluntária que se queixou de reações inalatórias, náusea, dor de cabeça e dor de estômago, e outro de um surfista, mas ambos foram atendidos e passam bem.
“Até agora a gente não sabe ao certo quais são os sintomas. O Estado da Bahia não trabalha com petróleo, então a gente não tem equipe especializada nessa área. Seria o caso de alguém da Petrobras informar a gente como conduzir a situação. Por enquanto, estamos seguindo as orientações da Sesab e do Ministério da Saúde”, afirma Santana. A Marinha e o Corpo de Bombeiros também estão dando apoio, junto com a prefeitura municipal de Ilhéus.
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