“Pense num absurdo, na Bahia tem precedente”. A frase atribuída ao ex-governador Otávio Mangabeira parece sintetizar o que está acontecendo no bairro de Santo Antônio Além do Carmo nos últimos dias. Segundo especialistas, os 20 casos de pessoas mordidas por morcegos em apenas uma semana é uma raridade sem registros no país – caso os animais sejam hematófagos, ou seja, se alimentem de sangue.
O doutor em Biologia e professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Enrico Bernard, conta que existem mais de 180 espécies de morcegos no Brasil, mas apenas três se alimentam de sangue. “Mesmo assim, duas dessas espécies vivem na mata e apenas uma habita em grandes centros, como Salvador. Em 20 anos de pesquisas, não me recordo de ter visto esse número de ocorrências, em humanos, em um espaço tão curto de tempo”, diz.
O professor tem razão. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o último caso de mordidas coletivas de morcegos hematófagos em Salvador foi registrado há cinco anos. Depois disso, houve casos esporádicos. E se engana quem pensa que os bichinhos estão em busca do pescoço de suas vítimas, como indicam os filmes de Hollywood. Os locais preferidos pelos hematófagos são a testa, a orelha, o nariz e os dedos do pé - e foi justamente nos dedinhos que os moradores de Santo Antônio foram mordidos.
O veterinário chefe do Setor de Vigilância Contra a Raiva do CCZ, Haroldo Carneiro, disse que os indícios apontam para o caso de morcegos hematófagos. Anteontem, a equipe capturou um animal da espécie Desmodus rotundus (hematófago). Além disso, as vítimas estavam dormindo quando foram atacadas, o que aponta que as mordidas não foram acidentais, já que os animais não estavam acuados quando atacaram.
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