Bahia

Ivete Sangalo está confirmada para desfilar sem cordas

Em 2016, o carnaval da capital baiana contará com mais de 400 atrações musicais dedicadas ao folião pipoca, entre trios independentes e apresentações nos bairros patrocinadas, principalmente, pelo Governo do Estado, Prefeitura de Salvador e iniciativa privada.

Entre as financiadas por recursos da prefeitura, de acordo com a Empresa Salvador Turismo (Saltur), estão previstas 337 apresentações: 121 em trios elétricos, fanfarras, afoxés e demais agremiações e 216 em shows distribuídos em 10 bairros.

O número de atrações custeadas pela gestão municipal, em 2016, é 15% maior que o do ano passado, quando a prefeitura contratou cerca de 290 artistas. As apresentações patrocinadas pelo Governo do Estado, segundo informações da Empresa de Turismo da Bahia (Bahiatursa), estão em fase de definição.

A relação completa de artistas será anunciada oficialmente em coletiva de imprensa, que deverá ocorrer nos próximos dias. Até então, Ivete Sangalo e Bell Marques foram confirmados para o desfile sem cordas.

As cervejarias também deverão financiar este tipo de desfile. O "Arrastão do Psi", comandado pela banda Psirico e programado para sair no circuito Dodô (Barra-Ondina) na sexta-feira de carnaval, é uma das apresentações patrocinadas pela Ambev, através da marca Skol.

Além das três atrações já confirmadas, o folião que optar por curtir a festa longe dos limites da corda poderá assistir às apresentações de nomes da axé music, como Saulo, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Durval Lélys, banda Eva, dentre outros.

O processo de migração destes artistas de bloco para os trios sem corda criou, de acordo com o especialista em economia do Carnaval e vice-reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Miguez, um novo modelo de negócio para a festa.

Para o especialista, tais apresentações, embora sejam voltadas para o "povo", reforçam o protagonismo dos camarotes. "Esse movimento sinaliza uma mudança, na qual o bloco de corda não é mais o foco. O abadá vai cedendo lugar para a pulseira do camarote", disse.

No entanto, Miguez pondera: a presença de mais trios sem corda reforça a dimensão histórica do trio elétrico. "Do ponto de vista cultural, é interessante que esses artistas partam para um espaço sem hierarquias, retomando a essência da festa".

Financiamento

Para o presidente da Saltur, Isaac Edington, o maior investimento em atrações para o público pipoca é um dos diferenciais deste ano. Com o slogan "Vem Curtir a Rua", a prefeitura vai investir cerca de R$ 3 milhões em cachês de artistas que tocarão em trios sem cordas.

Os recursos para financiar o pagamento a esses artistas, segundo ele, serão retirados dos R$ 35 milhões arrecadados por meio dos patrocinadores oficiais da festa deste ano - banco Itaú, a companhia aérea Air Europa e a cervejaria Schin.

"Os cachês dos artistas que se apresentarão no carnaval de 2016 custarão entre R$ 10 mil e R$ 50 mil, não mais do que isso. Optamos por estipular estes valores para que pudéssemos oferecer uma variedade maior ao público", explicou. Segundo ele, parte das atrações confirmadas são bandas e cantores que já participam de eventos da prefeitura, como o Festival da Primavera e Furdunço: "Por conta dessa relação, muitos, que merecem receber mais, aceitaram ganhar menos para participar da festa".

Grandes blocos

As apresentações dos grandes artistas da axé music em trios independentes, este ano, parecem não ter representado uma real ameça para os tradicionais blocos de corda da capital baiana, de acordo com o diretor e um dos fundadores da Central do Carnaval, Joaquim Nery.

Em 2016, segundo ele, as vendas de camarotes e blocos de trio cresceram 25% em relação ao ano passado. Em 2015, a procura pelos abadás chegou a cair 15%.

Para esse aumento, valeu desde a inclusão da venda de abadás de blocos famosos, como Coruja e Cerveja  & Cia em sites de compras coletivas e promoções.

"Acredito que estamos nos recuperando do ano passando, quando o carnaval concorreu com a Copa do Mundo, por exemplo. Este ano, as vendas foram muito bem e, nos próximos dias, devem crescer ainda mais", disse.

Na opinião de Nery, nem mesmo a divulgação de nomes como Ivete Sangalo entre as atrações dos trios independentes enfraqueceu o interesse do público que procura nos blocos maior conforto e segurança para desfilar.

"A crise econômica do país teve um efeito positivo para a gente. Nos outros anos, as pessoas optavam por viajar durante esse período. Com a alta do dólar, o carnaval tornou-se uma opção barata de diversão", afirmou.

'Democracia'

O presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), Pedro Costa, também concorda que não há competição entre os independentes e os tradicionais blocos. Segundo ele, é a presença de trios sem cordas nos circuitos oficiais da folia que reforça o caráter "democrático" da festa.

"No carnaval, temos público para a rua, para o bloco e para o camarote. Por isso, na programação, procuramos intercalar as atrações e agradar a todos os gostos".