É hoje, a partir das 21h, na Senzala do Barro Preto, sede do Ilê Aiyê, que Alexandra Amorim, a atual Deusa do Ébano, vai transmitir o manto à sua sucessora. A Band’Aiyê vai comandar a festa junto com a dupla de funk melody Lucas e Orelha, vencedora da segunda temporada do reality show Superstar, da Globo/TV Bahia.
A festa que escolherá a 37ª Rainha do Ilê será também uma celebração ao centenário do samba, com a participação de músicos como Roberto Mendes, Nelson Rufino e Raimundo Sodré.
A noite, que é, na verdade, um grande espetáculo, terá, pela terceira vez seguida, direção artística de Elísio Lopes Jr, direção musical de Jarbas Bittencourt e cenografia de Renata Mota. “Nossa intenção é mostrar que a mesma mulher negra que valoriza a sua tradição no palco é a mulher que está na rua, trabalhando, construindo uma vida, que sabe dialogar com o mundo contemporâneo”, diz Elísio.
Além das atrações musicais, esta edição contatá com o ator Luís Miranda, que fará uma performance ao som da música Reconvexo, de Caetano Veloso; e da atriz Regina Casé, acompanhada de Roberto Mendes, que vai recitar um cordel sobre o Ilê Aiyê, a cultura negra e o Recôncavo.
O concurso da Deusa do Ébano teve 139 inscritas neste ano e 15 foram selecionadas para a última etapa. Arany Santana, diretora do Ilê, enfatiza que a rainha do bloco simboliza a luta das mulheres negras por sua afirmação na sociedade: “Para ser a Rainha, não basta saber dançar bem ou ser bonita. É preciso também conhecer a história do movimento negro e do Ilê. A Noite da Beleza Negra é, portanto, um evento social e político muito importante”.
Vovô, presidente do Ilê, destaca a importância das mulheres na história da instituição: “Somos um matriarcado, com toda a programação voltada para a mulher. Até porque mais de 60% dos integrantes são mulheres. Por isso, fazemos outros eventos dedicados às mulheres, como a Semana da Mãe Preta”.
Mãe Hilda
Arany Santana lembra que a força da mulher no Ilê está em suas origens: “Em 1974, quando o bloco saiu pela primeira vez, o Brasil vivia sob a ditadura. E Mãe Hilda (mãe de Vovô) fez questão de ficar na frente do bloco. Ela dizia: ‘se a polícia for prender alguém, que prenda a mim, que não tenho nada a perder’. A mulher é, portanto, uma guardiã da fé e da tradição de matriz africana”.
A atual Deusa do Ébano, Alexandra Amorim, só conseguiu ser eleita na quinta tentativa. “A gente passa por uma seleção rigorosa e precisa ter um preparo não apenas estético. Temos que estar muito preparadas intelectualmente e espiritualmente também”, diz a Deusa, que, em 2014, não conseguiu ficar nem entre as 15 finalistas, mas no ano seguinte não desanimou e foi eleita.
Ialê Marlei, 23 anos, é uma das candidatas à sucessão. Ela tenta o título pela primeira vez. “A minha paixão pelo Ilê vem do ventre da minha mãe. Comecei a dançar há 10 anos e por um só motivo: para me preparar para a Noite da Beleza Negra”. Ialê ressalta que o bloco levanta a autoestima da mulher negra e a transforma em rainha.
Rosana Dias, 26, tenta o título pela segunda vez. No ano passado, não passou da primeira fase, mas não desistiu. “Fui criada em outro bairro, mas sempre vinha ao Curuzu só pra ver o Ilê. E acabei me mudando para o bairro há cinco meses por ter muitos amigos aqui. O Ilê mostra que as mulheres também são capazes de conduzir a sociedade”, diz Rosana.
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