O ministro da Educação, Camilo Santana, em entrevista ao GLOBO, defendeu que o Partido dos Trabalhadores (PT) faça uma autocrítica profunda sobre o atual cenário político e as dificuldades de diálogo com a população mais empobrecida, que deixou de apoiar a legenda em várias regiões do Brasil. Santana foi o único ministro petista a conseguir eleger um aliado em uma capital – Evandro Leitão (PT) foi eleito prefeito de Fortaleza – e acredita que o partido precisa “fazer uma avaliação com muita humildade” sobre suas estratégias.
Santana apontou que, embora o PT tenha construído programas sociais historicamente importantes para os mais pobres, uma parte dessa população deixou de votar no partido. “O PT é o partido que mais criou programas sociais para olhar para os mais pobres, e parte dessa população não votou no PT. Então, precisamos entender a falta de comunicação”, afirmou ele. Para Santana, o problema não se resume à propaganda, mas envolve a maneira como o governo se relaciona com a população.
Avanço da direita e reconfiguração do cenário político
Questionado sobre o avanço de partidos de direita nas capitais nordestinas – tradicionalmente reduto petista –, Santana minimizou, afirmando que “existe essa polarização” e que o país está mais centrado, com uma tendência a centro-direita. No entanto, ele considera que a situação exige um olhar cuidadoso sobre como o partido se posiciona em diferentes regiões. Para o ministro, o PT precisa, com “tranquilidade”, buscar renovação de seus quadros e melhorar a comunicação para fortalecer-se em áreas onde já teve mais força, como o Sudeste.
“A maior parte da densidade eleitoral do PT hoje está concentrada no Nordeste”, destacou Santana. Segundo ele, é essencial compreender as mudanças no cenário político, especialmente em São Paulo, onde o partido foi fundado e que hoje demonstra um afastamento da sigla. Ele acredita que é “um momento importante para o PT fazer uma reflexão” sobre como se conectar novamente com eleitores dessas regiões.
Segurança como prioridade e desafios nas políticas sociais
Para Santana, a questão da segurança pública é uma preocupação crescente e que afeta boa parte da população, especialmente os mais vulneráveis. Ele alerta que “o Brasil não é um país produtor de droga”, mas, devido à entrada de substâncias pelas fronteiras, organizações criminosas têm dominado espaços no território. “Nenhum governador sozinho vai conseguir resolver esse problema”, pontuou, sugerindo que o governo federal deve liderar uma iniciativa conjunta.
Importância de diálogo com o centro e alianças para 2026
Santana enfatizou que alianças com partidos de centro foram essenciais para sua gestão como governador do Ceará e, recentemente, para a vitória de Leitão em Fortaleza. Ele defende que o diálogo e a construção de consensos com siglas como PP, PSD, MDB e Republicanos são fundamentais para a democracia e para o fortalecimento do governo. "Quanto mais a gente conseguir unir e agregar", melhor, disse ele, lembrando que esse modelo de alianças também favorece a governabilidade e facilita a aprovação de projetos essenciais.
Projeto de lei sobre celulares nas escolas e desafios do MEC
Camilo Santana também abordou o recente projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, em fase de aprovação pelo Congresso. Ele se manifestou a favor da medida, afirmando que os estudos apontam prejuízos do uso indiscriminado de dispositivos móveis na educação. “A ideia é essa, restringir totalmente aos alunos mais novos, no ensino fundamental um, e liberar para os mais velhos e do ensino médio com a orientação pedagógica do professor para a aula”, explicou o ministro. Santana espera que o Congresso vote a proposta ainda este ano e que a medida contribua para o foco acadêmico dos estudantes.
Rigor no combate ao vazamento de imagens do Enem
Recentemente, imagens do Enem vazaram em redes sociais, provocando questionamentos sobre a segurança das provas. Santana informou que a Polícia Federal está investigando o caso e afirmou que o ocorrido, detectado por volta das 16h do dia de aplicação, não prejudicou os candidatos. Segundo ele, a maior parte dos alunos já estava incomunicável nas salas de prova no momento do vazamento. Para o ministro, “cada vez mais precisamos ter mais rigor nisso”.
Foco na educação e visão para o futuro do partido
Quando questionado sobre um possível protagonismo maior dentro do PT, Santana afirmou que seu “único foco neste momento é trabalhar muito pela educação”. Ele destacou sua admiração pelo presidente Lula, a quem chamou de “o maior presidente da História desse país”. Embora alguns membros do partido defendam uma liderança nordestina na presidência do PT, Santana acredita que o partido deve representar todo o Brasil e que a liderança de Gleisi Hoffmann deve ser respeitada, assim como a posição de Lula.
Por fim, Santana enfatizou que o PT, mais do que nunca, precisa se aproximar da população e entender suas demandas e prioridades. Ele avalia que uma postura aberta e dialogante pode ser a chave para o partido reconquistar eleitores e manter sua relevância no cenário político nacional.
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