As mensagens de SMS enviadas e recebidas por um aparelho celular, o do executivo José Adelmário Pinheiro, conhecido como Léo Pinheiro, revelam como um câncer se espalhou pelo sistema político brasileiro e levou o organismo à metástase. Este câncer, que fez do Brasil um paciente em estado terminal, se chama financiamento empresarial de campanhas políticas. E se alguém ainda defendia o modelo de doações privadas, que foi felizmente abolido pelo Supremo Tribunal Federal em 2015, é preciso ler com atenção as mensagens do ex-presidente da OAS.
Em 2013, quando o PT passou a defender o fim do modelo de financiamento empresarial, Léo Pinheiro protestou. "Ele disse que tem que acabar com isso [doações privadas], pois as empresas acabam mandando no Legislativo e no Executivo. Ficou louco. Isso é hora de demonizar empresários?", questionava o presidente da OAS, numa mensagem que revela como lhe agradava o modelo de troca – ou de compra e venda – gerado pelo sistema de doações privadas. Afinal, é dando que se recebe.
Quem mais trocou mensagens com Léo Pinheiro nos últimos anos foi o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – curiosamente, quem mais lutou para preservar o modelo de doações privadas. Segundo a Polícia Federal, Cunha fez 27 pedidos ao executivo da OAS. A recíproca foi verdadeira. Pinheiro fez também 26 solicitações ao presidente da Câmara, sobre temas de interesse da OAS tanto no Legislativo como no Executivo. Numa das mensagens, Cunha questionou: "Esqueceu de mim?"
O presidente da Câmara fazia referência a um acerto entre a OAS e o vice-presidente Michel Temer, que teria sido intermediado por Moreira Franco, ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil. Segundo Cunha, a OAS teria dado "5 paus" para o Temer e não estaria honrando compromissos com a turma mais próxima a ele, que incluía políticos como Henrique Eduardo Alves, atual ministro do Turismo, e Geddel Vieira Lima, um dos entusiastas do impeachment.
Ao que tudo indica, as mensagens do aparelho celular de Léo Pinheiro estão sendo vazadas seletivamente, com viés político-partidário, com o intuito de intensificar a crise política e alimentar a chama do impeachment. Não por acaso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou a abertura de inquérito para apurar a origem dos vazamentos, uma vez que as mensagens deveriam estar protegidas por sigilo.
Um dos nomes citados nas mensagens de Léo Pinheiro, o ministro Jaques Wagner, passará a ser, a partir de agora, um dos alvos preferenciais da oposição. Logo ele que, dias atrás, afirmou que o PT "se lambuzou" no modelo de financiamento privado de campanhas. Na realidade, a política brasileira foi sequestrada pelo sistema de doações privadas. E quando a sociedade começou a reagir, Léo Pinheiro protestou: "Isso é hora de demonizar empresários?"
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