Para começo de conversa, eu acho essa história de "homem com testosterona" um clichê dos mais babacas. Esse negócio de se dizer "imbrochável" ou falar que "tem o saco roxo" como metáfora de "valentia" para mim é típico de homem que não se garante na sua hombridade: ser trabalhador, bom pai, bom filho, bom marido, bom cidadão. De mais a mais, posso dizer que a maioria dos homossexuais que conheço são mais corajosos do que muito hétero.
Alguém, em sã consciência, pode olhar para Nikolas Ferreira e dizer que "tem pegada", como caberia no clichê? Eu não consigo nem sequer encaixar Nikolas e "pegada" numa mesma frase, até porque, em plena lua-de-mel, ele foi capaz de gritar por... Bolsonaro
Mas já que o clichê está sendo usado por alguns homens de extrema direita para se gabar de serem machos, me sinto autorizada a usá-lo e cobrar essa testosterona toda. Me parece irônico, para dizer o mínimo, que homens sem nenhuma identificação com, por exemplo, os cowboys e valentões de Hollywood que fizeram o imaginário da tal "masculinidade", estejam bradando por homens com testosterona.
Em quê o deputado federal Nikolas Ferreira, que usou a expressão em um dos carnagados convocados pelo bolsonarismo, se enquadra no estereótipo do "homem com testosterona"? É mirrado, imberbe e já usou até peruca loira em plenário. Alguém, em sã consciência, pode olhar para Nikolas e dizer que ele é um cara "com pegada", como caberia no clichê? Eu não consigo nem sequer encaixar Nikolas e "pegada" numa mesma frase, inclusive porque, em plena lua-de-mel, ele foi capaz de gritar por... Jair Bolsonaro.
A própria família Bolsonaro contradiz a macheza com testosterona tão necessitada por Nikolas –ou Nikole, como ele se autodenominou no dia da performance de peruca. Flávio Bolsonaro, o senador, desmaiou em um debate (e dizem que teve até piriri); Jair, o pai, toda vez que é envolvido em alguma denúncia, foge para o hospital com dor de barriga ou pernoita na embaixada da Hungria; e que homem "de verdade" é capaz de tratar a própria filha como "fraquejada"?
Prefiro não dar margens à homofobia ao falar de Carluxo, que nunca foi visto com mulher, só com o primo. Mas a imagem dele sentado na cadeirinha do carro presidencial no dia da posse é símbolo de masculinidade para quem? Eduardo Bolsonaro é tão "macho" que tem apelido de Bananinha! Que tipo de "homem com testosterona" é esse que fica conhecido por "bananinha", gente? E quem deu o apelido foi o general Mourão, não foi a gente, não!
Não vou nem mencionar o Jair Renan, um marmanjo de 26 anos que age como eterno adolescente problemático, incapaz de pagar as próprias contas e cuja mamata no gabinete de um senador catarinense foi obtida pelo pai, que pagou também a dívida de 360 mil reais do filho com o banco Santander. Desculpa, mas no meu conceito de "homem com testosterona" está, em primeiro lugar, a pessoa trabalhar e se sustentar.
Quem mais são os "machos com testosterona" do bolsonarismo? O pastor Marco Feliciano, que deve passar horas no cabeleireiro para arrumar aquele topetinho que não sai do lugar nem com vendaval, que teve os dentes consertados com dinheiro público e que só usa paletós bem ajustados ao corpo? Aliás, tá cheio de coaches bolsonaristas que parecem usar ternos de lycra, de tão grudadinhos. Mas não era o Doria o "calça apertada"? Ué? Mudaram de ideia?
Nos anos 1990, quando surgiram os metrossexuais, muitos "homens com testosterona" se indignaram com a mudança de padrão de masculinidade. Foi uma revolução: homens que faziam as sobrancelhas e as unhas, que se preocupavam com o físico, que cuidavam dos cabelos e usavam roupas de marca foram ridicularizados por muitos que duvidavam da "macheza" dos que agiam assim. Pois eu não vejo diferença entre os "homens com testosterona" do bolsonarismo e os metrossexuais. Talvez o fato de que são feios.
Eu desafio os bolsonaristas a me mostrar um só dos mitos deles que se encaixe no clichê do "homem com testosterona" do imaginário popular, que lembre um Clint Eastwood, um Charles Bronson, um Nuno Leal Maia, um Jece Valadão, para usar a imagem dos macho men do cinema e da televisão. O Mauro Cid? O Silviney? O Pazuello? Os Red Pills carecas que estabelecem mil e uma condições para gostar de mulher? Ah, já sei: o delegado de peruca que é deputado federal do Pará! Né?
Até na lua de mel? Eu hein...
Cynara Moreira Menezes (Ipiaú, 1967) é uma jornalista brasileira. Foi repórter em diversos veículos de comunicação, como Folha de S.Paulo, Veja[1] e Carta Capital.[2][3] Atualmente, trabalha no blog Socialista Morena, que fundou em setembro de 2012.[4][5] Por seu trabalho jornalístico, especialmente na temática política, recebeu em 2013 o Troféu Mulher Imprensa, na categoria "Jornalista de mídias sociais"
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