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Michelle e Jair Bolsonaro. Ex-presidente não quer julgamento justo. Ele quer escolher o juiz e tem que ser seu ‘amigo’. Entenda o que há por trás da estratégia e por que ela é uma repetição de atos passados - Foto: Marcos Corrêa - Agência Brasil Michelle e Jair Bolsonaro. Ex-presidente não quer julgamento justo. Ele quer escolher o juiz e tem que ser seu ‘amigo’. Entenda o que há por trás da estratégia e por que ela é uma repetição de atos passados - Foto: Marcos Corrêa - Agência Brasil

O Brasil aguardou atentamente o depoimento simultâneo à PF, na manhã desta quinta-feira (31), de Jair Bolsonaro (PL), sua esposa Michelle e de um grupo de ex-assessores de confiança do líder da extrema direita brasileira. Pouco tempo após comparecerem aos locais estabelecidos, vem a informação de que o ex-presidente, a mulher, o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e o coronel Marcelo Câmara, ex-assistente pessoal, optaram por ficar em silêncio quando questionados sobre fatos relacionados ao escândalo das joias e relógios desviados da Presidência da República para serem vendidos no exterior.

 

O ‘argumento’ para tal decisão tomada pelos diferentes advogados, naturalmente combinado com alguma antecedência, é de que os depoentes não iriam se submeter à competência do Supremo Tribunal Federal no inquérito das joias, uma vez que a PGR já teria se posicionado alegando que o STF não seria o foro adequado para o caso. Eles exigem um “juiz natural”, ou seja, um magistrado que seja o correspondente para instruir a ação segundo a lei brasileira. Nada mais correto e justo, não fosse pelo fato de que o juiz que eles rejeitam é o ministro Alexandre de Moraes.

Trocando em miúdos, Bolsonaro entrou pela sala da PF onde seria ouvido e já disparou que não falaria nada porque Moraes e o STF não representam quem, pela lei, deveria estar com a sua ação penal, de acordo com uma deliberação da vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, uma tese imediatamente acolhida pelos advogados do grupo.

Não precisa ser muito ambientado com o juridiquês para fazer uma leitura mais simples e evidente do fato: o ex-presidente quer escolher o juiz que o julgará e quer, obviamente, um ‘amigo’, uma vez que sabe que o Judiciário está infestado de bolsonaristas. Sobretudo, ele não quer ser julgado por Moraes, o homem que não engole seus rompantes autoritários e pisa fundo na condução dos procedimentos delegados à PF na hora de investigar o antigo ocupante do Palácio do Planalto.

Mas você pode estar se perguntando se isso é tudo na estratégia da equipe de defesa de Bolsonaro e de sua caterva. Não, não é. O ex-presidente está apostando num expediente mais do que conhecido e que foi colocando em marcha durante todo seu mandato, especialmente nos dois anos finais de sua estadia no poder. Para Bolsonaro a tática consiste em enfrentar a autoridade de Moraes e do STF.

Qualquer brasileiro que olhe para os inquéritos que investigam o ex-chefe de Estado verá que sua situação é um caso perdido, seja nos autos do processo sobre a tentativa de golpe após a derrota na eleição ou no episódio da espoliação dos itens preciosos do Estado que estavam sendo comercializados nos EUA. Fora dos círculos dos birutas de sua claque hipnotizada, as teses de defesa de seus advogados são uma piada infantil.

Tensionar a coisa e jogar seus radicais lobotomizados e violentos contra “Xandão” e o STF é uma velha artimanha nada original do ex-capitão que ousou impor-se como ditador no Brasil. Retomar a guerra com a Corte mais alta do Judiciário brasileiro, na cabeça de Bolsonaro, seria um caminho para minar a credibilidade do juiz e do tribunal onde tramitam seus processos, além de servir como intimidação a esses magistrados.

Henrique Rodrigues é jornalista e professor de Literatura Brasileira. É especialista em Estudos Brasileiros pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e tem mais de 23 mil km de sertão nordestino sobre duas rodas. É repórter, editor de colunas e artigos de Opinião e também correspondente da Fórum na Europa.

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