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Há pouco mais de uma semana, no dia 30 de dezembro de 2015, a morte brutal e injustificada de um indígena de 2 anos de idade, da etnia Kaingang, de Santa Catarina, chocou o país. Vitor Pinto estava no colo da mãe, na rodoviária de Imbituba, quando um jovem passou por eles, acariciou o rosto da criança e, em seguida, cortou-lhe o pescoço com um estilete.

A família de Vitor mora na aldeia Condá, no município de Chapecó, a pouco mais de 600 quilômetros de distância de Imbituba. Todos os anos, indígenas de aldeias do interior do estado se dirigem às cidades litorâneas para vender artesanato durante a temporada de verão.

De acordo com Jacson Santana, representante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da região Sul, os Kaingang têm problemas com a falta de terras, então a "solução é sair para vender artesanato no litoral, que garante a sua subsistência".

O delegado de polícia da comarca de Imbituba, Raphael Giordani, um dos responsáveis pelo caso, disse hoje (7), em entrevista à Agência Brasil, que o suspeito do crime, Matheus de Ávila Silveira, de 23 anos, está preso temporariamente e pode ter a prisão preventiva decretada nos próximos 15 dias. "Tudo indica que foi ele". A prisão temporária vence no dia 31 de janeiro e pode ser prorrogada por mais um mês.

Segundo o delegado, ainda no dia 30, um suspeito de ter cometido o crime foi preso e liberado em seguida, pois tinha álibis que mostravam que não havia sido ele o culpado. No dia seguinte (31/12), após uma denúncia feita à Polícia Militar por meio do Disque-Denúncia, Silveira foi encontrado e encaminhado à delegacia. A denúncia era de que ele havia assumido, diante de algumas pessoas, que teria cometido o crime.

"Um policial militar o encontrou e verificou que as características físicas eram compatíveis. Havia indícios na vestimenta e em acessórios, que eram iguais aos da imagem [registrada pelas câmeras da rodoviária]. Na residência dele, no quarto, foram encontrados vários objetos iguais aos da imagem", explicou o delegado.

"Não dá pra ver ele executando o corte no pescoço da criança [na gravação das câmeras]. Ele se aproxima andando, se abaixa. Quando a criança levanta o rosto, ele passa o estilete e sai correndo. A mãe se assusta e vê ele correndo", relatou Giordani.

Antecedentes

Segundo o delegado, o crime pode ter sido premeditado pelo fato de Silveira usar luvas em um dia quente, com temperatura de aproximadamente 33 graus Celsius na hora do crime, por volta das 12h.

"Tudo leva a crer que se trata de uma pessoa perturbada. Ele tem antecedentes. Foi preso há alguns meses, em flagrante, por violência doméstica. Ele havia agredido o pai e a mãe", disse o delegado. De acordo com o policial, em depoimento, os pais de Silveira se mostraram relutantes em reconhecer o filho nas imagens e disse que ambos estão muito abalados.

Quanto à hipótese de crime com motivações étnicas, o delegado disse que não há indícios que levem a este entendimento.

O menino indígena foi enterrado em sua aldeia, em Chapecó, no dia 1° de janeiro. "Eles [os pais] são evangélicos, por isso a tradição não se sobressai", disse o representante do Cimi ao explicar que não foram realizados rituais tradicionais no sepultamento da criança.

No dia 31/12, a Fundação Nacional do Índio (Funai) divulgou uma nota de repúdio, exigindo que a "Polícia Civil do Estado de Santa Catarina envide todos os esforços e meios necessários para a elucidação do fato ocorrido, de modo a se fazer justiça contra tão odioso crime".

O líder Kaingang Idalino Fernandes disse que a família está chocada. "É uma situação que ninguém explica". O indígena também reclamou da falta de terra e recursos para os 800 moradores da aldeia Condá. "Não temos como sobreviver".

Guarani Kaiowá

Segundo informações da Funai, ontem (6), mais uma criança Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, morreu por falta de atendimento médico. É a décima morte infantil desde 2007 pela mesma causa. O menino, de um ano, era da aldeia Kurussu Ambá. A Agência Brasil tentou contato com lideranças Guarani Kaiowá e com representantes da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) do estado, mas não obteve respostas.

 

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