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Imagem de arquivo de Sayyed Hassan Nasrallah em discurso na televisão do Líbano (Foto: REUTERS/Aziz Taher)Imagem de arquivo de Sayyed Hassan Nasrallah em discurso na televisão do Líbano (Foto: REUTERS/Aziz Taher)

Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, morreu soterrado por toneladas de bombas disparadas por caças israelenses, enquanto se reunia com alguns de seus comandantes no subsolo de um prédio no bairro residencial Dahiya, em Beirute, na sexta-feira. A operação de assassinato, chamada em Israel de “Nova Ordem”, pode levar o Oriente Médio a uma grande desordem, maior da que já se encontra.

As últimas palavras públicas de Nasrallah foram uma promessa de vingança a Israel pela explosão dos pagers e walkie-talkies usados para a comunicação das forças do Hezbollah, o Partido de Deus: “Esta retribuição virá”, disse ele em vídeo gravado transmitido pela televisão no Líbano, em 19 de setembro. “Sua maneira, tamanho, como e onde — essas são coisas que certamente manteremos para nós mesmos, nos círculos mais estreitos, mesmo entre nós”.

Quem foi Hassan Nasrallah

Nasrallah, 64, comandou o Hezbollah por 32 anos. Morreu acompanhando a impressionante penetração dos serviços secretos israelenses em sua organização, a milícia mais poderosa do Oriente Médio, armada e treinada pelo Irã, e com experiência de combate na guerra civil da Síria. Mesmo sem nunca aparecer em público, protegido por numerosos seguranças, seus passos foram seguidos de bem perto, como também os de vários de seus comandados, assassinados um a um numa sequência de ataques israelenses a Beirute, nos últimos dez dias.

O último confronto do Hezbollah com Israel começou em 8 de outubro de 2023, um dia depois da invasão de palestinos do Hamas a cidades, kibutzim e a um festival de música do lado israelense da fronteira com Gaza. Por “solidariedade” ao Hamas, o Hezbollah começou a atirar mísseis contra o norte de Israel, forçando o deslocamento de 60 mil de seus residentes para o sul. Os contra-ataques israelenses ao sul do Líbano também provocaram a fuga de cerca de 100 mil libaneses para o norte. Foi, em princípio, uma guerra de desgaste, calibrada para não degenerar em guerra aberta, como a última travada entre os dois inimigos, em 2006, que durou 34 dias.  

Nasrallah, chamado também de Abu Hadi, ou Pai de Hadi, em homenagem a um de seus três filhos, Hadi, morto aos 18 anos, em setembro de 1997, num confronto com soldados israelenses, entrou para o Hezbollah em 1982, durante a invasão de Israel ao Líbano contra a OLP, a Organização de Libertação da Palestina, liderada por Yasser Arafat.

Em 1983, a Organização Islâmica da Jihad, a precursora do Hezbollah, matou 241 soldados americanos e 58 paraquedistas franceses acampados em Beirute, como parte de forças multinacionais convocadas para o Líbano, explodindo dois caminhões-bomba com motoristas suicidas. Nasrallah assumiu o comando depois do assassinato de Abbas al-Musawi por mísseis disparados de helicópteros israelenses, em Nabatiye, no sul do Líbano, em 1992.  

Bom orador, religioso xiita saído de um seminário em Qum, no Irã, Nasrallah cresceu rapidamente dentro do Hezbollah. Um líder carismático, a barba esbranquiçada sob o turbante preto do clero islâmico, ele transformou seu grupo no maior poderio militar do Líbano, mais que o próprio exército libanês, dando-lhe ainda uma extensão política importante, um estado dentro do estado, com representantes no parlamento e no governo.  

O Hezbollah não atuou só na Síria, onde garantiu o poder ao ditador Bashar al-Assad, em 2011, ameaçado por uma guerra civil, mas também na América do Sul. Em 1994, a explosão da Associação Judaica Argentina (AMIA), com 85 mortos, foi atribuída ao grupo. A Polícia Federal no Brasil prendeu vários suspeitos de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e contrabando ligados ao Hezbollah, que teria plantado bases na Tríplice Fronteira e na Venezuela.

Uma das principais recentes ações do serviço secreto israelense foi a invasão de uma fábrica de armas em Masyaf, na Síria, próximo à fronteira libanesa. Ali eram produzidos armamentos que antes eram enviados ao Hezbollah por avião ou caminhões, muitos destruídos antes de chegar ao destino. Comandos que desceram por cordas de helicópteros entraram na fábrica, pegaram computadores e documentos, minaram com explosivos todas as dependências, e foram embora, em dez minutos, vendo do alto a destruição e o incêndio causados. Foi um dos mais duros golpes desferidos contra o Hezbollah e Guardiões da Revolução Islâmica do Irã.

Confirmado o assassinato de Nasrallah, Israel concentrou mais tropas na fronteira do Líbano, e entrou em estado de alerta máximo. O líder supremo do Irã, aiatolá Khamenei, convocou os muçulmanos a confrontar Israel.

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