Unequal Scenes é o nome do projeto que Johnny Miller iniciou em 2018, na África do Sul, usando drones para, mais do que registrar, denunciar a desigualdade social em cidades e bairros onde, de um lado vivem poucos cidadãos, em geral brancos, em espaços grandes, arejados, confortáveis, organizados e com toda infraestrutura, enquanto a poucos metros, centenas de milhares, na sua maioria negros, vivem em condições sub-humanas, ou, no mínimo, precárias.
Depois de viajar por diversos países do mundo, entre eles índia, Quênia, México, Estados Unidos, Tanzânia e Namíbia, Johnny chegou ao Brasil em outubro de 2020. Após passar pelas capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, ele agora registra imagens de Salvador.
Na página de Johnny no Instagram, até a data de publicação desta matéria, haviam sido publicadas cinco imagens aéreas que colocam mais à vista aquilo que já é de conhecimento comum: a cidade do Carnaval também é a cidade das disparidades e da exclusão.
Brasil desviado
"O Brasil, infelizmente, não está no caminho certo", lamentou Miller, falando à BBC Brasil, em entrevista concedida em dezembro.
"De maneira geral, as soluções para acabar com a desigualdade envolvem taxar mais os ricos e usar esse dinheiro para redistribuir aos mais pobres. Focar em medidas como bolsas sociais, transporte público e sistemas de saúde. Nos últimos quatro anos, ou dois anos, o governo do seu país parece estar se desviando desse caminho.", avaliou ele.
Aos 39 anos, o fotógrafo e ativista fala com experiência. Além dos dezenas de cidades em que fotografou para o Uniqual Scenes, Miller atua em outros projetos sociais e também trabalha com a ONU Habitat (Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, agência especializada da ONU dedicada à promoção de cidades social e ambientalmente sustentáveis), em programa voltado para reduzir as desigualdades espaciais e a pobreza através de iniciativas de regeneração urbana.
"Num país como o Brasil, algumas pessoas muito ricas detêm mais de 50% da riqueza. O mesmo acontece na África do Sul e nos EUA e isso está piorando. Acredito que isso é um problema e que a mudança climática e a desigualdade serão os maiores desafios do século 21.", aponta ele.
Miller, baseado na experiência com o ativismo social, avalia que as sociedades atuais, baseadas em modelo de exploração, estão longes de ser prósperas e seguras quanto poderiam.
"As pessoas me perguntam: 'Então você acha que todo mundo deve ser totalmente igual?' Não, eu não acredito nisso. Não sou algum tipo de comunista soviético. Mas o que eu acredito é que a proporção entre riqueza e pobreza atualmente está totalmente desequilibrada e além do razoável.", observa.
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