Com 218.065 mil pessoas cadastradas no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), a Bahia é o segundo estado do Nordeste com mais doadores de medula óssea – ficando atrás apenas do Ceará. “Ainda tem muita gente que tem medo de se tornar doador, como se fosse um enorme bicho de sete cabeças. Mas não é. Doar é um ato solidário que pode salvar muitas vidas e já salvou a minha”, afirma o transplantado de medula óssea José João de Jesus, de 62 anos.
Diagnosticado com linfoma de células do manto – um tipo de câncer no intestino – José João é de Monte Santo (a quase 400 km de Salvador) e veio para a capital baiana para dar segmento ao tratamento. “Estava sentindo muita dor e uma ultrassonografia mostrou um bolo de carne na minha barriga. Viajei para Salvador para uma colonoscopia e iria operar, mas a biópsia apontou que era câncer”, recorda. Tudo isso aconteceu entre 2022 e 2023, e em maio de 2024 ele recebeu sua medula no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes).
Agora, o transplante de José João faz parte de um feito histórico do próprio Hupes: a marca de 500 transplantes de medula óssea realizados. Um dos mais antigos hospitais a realizarem esse procedimento na Bahia (desde 2010), esse número “mostra uma maturidade do serviço diante de um procedimento de alta complexidade e realizado pelo SUS”, afirma o coordenador do Transplante de Medula Óssea do Hupes, Alessandro de Moura Almeida, ao destacar que se tem “avançado muito nos tratamentos oferecidos a esses pacientes”.
Avanço tecnológico
Esses avanços recaem, sobretudo, na melhora da tecnologia usada nas técnicas de imunossupressão.
Hoje, graças a essas técnicas medicamentosas, é possível realizar o chamado transplante haploidêntico, que é feito com um doador de medula parcialmente compatível.
Para se ter uma ideia, a possibilidade de encontrar um doador compatível entre os familiares de 1º grau é de 25%, de 40% quando se recorre a um banco internacional de medula óssea e cerca de 50% quando se recorre a um doador parcialmente compatível.
“E isso é algo muito significativo, pois melhora e muito as possibilidades desses pacientes. Esse é um avanço que permite que quase todo mundo encontre um doador. Claro que depende muito de cada caso e sua gravidade, ainda mais levando em consideração a grande lista de doenças que o transplante de medula óssea é uma opção, que vão desde leucemia e linfomas, até casos de anemia falciforme”, explica Alessandro de Moura Almeida, enfatizando o quanto tais técnicas “melhoram bastante o desfecho de todo o procedimento”.
Na Bahia, outro fator que tem melhorado e avançado no que diz respeito aos transplantes – em todos os tipos de transplantes! – é a conscientização dos baianos quanto a importância da doação. No primeiro semestre de 2024 foram realizadas 499 doações no estado: 93 doações de múltiplos órgãos e 406 de córneas, apontam dados do Sistema Estadual de Transplantes da Bahia, da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Isso representa um aumento de 24% quando comparado às 401 captações do primeiro semestre de 2023.
Mesmo que esses números sejam muitos bons, o coordenador do Sistema Estadual de Transplantes, Eraldo Moura, sinaliza que o desconhecimento da sociedade ainda é um desafio. “É preciso reforçar informações sobre a segurança e transparência do processo, e o quanto esse ato salva inúmeras vidas. Hoje, estamos buscando reimplantar o transplante pulmonar em Salvador e interiorizar o programa de transplantes na Bahia, principalmente o hepático. Mas dependemos bastante da sociedade para tudo isso, porque o transplante só acontece se tiver doador, então a conscientização da população faz toda a diferença”, afirma.
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