São Paulo – Conforme previsto, nesta quinta-feira (22), o ex-presidente e inelegível Jair Bolsonaro não respondeu uma série de perguntas da Polícia Federal. Ele recebeu intimação para depor no âmbito da investigação que o acusa de tentativa de golpe de Estado. O advogado do ex-presidente, Paulo Cunha Bueno, justificou a decisão alegando falta de acesso aos autos e classificou o inquérito como “semissecreto”. Contudo, opositores e internautas viram “atestado de culpa” em seu silêncio. Nas redes sociais, a frase “Bolsonaro preso hoje” figurou entre as mais postadas do dia.
Bolsonaro permaneceu no prédio da PF, em Brasília, por aproximadamente meia hora. Chegou pouco antes do horário designado, em um comboio de veículos, e partiu sem conceder entrevista. Logo após a saída do ex-presidente, seus advogados dirigiram-se aos jornalistas. Cunha Bueno afirmou que seu cliente não cometeu nenhum crime, porém argumentou que não é viável responder às questões da Polícia Federal sem ter acesso aos elementos da investigação.
Investigações históricas
Existe certo ineditismo nas oitivas de hoje na PF, como comentou o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP). “Em uma situação inédita na história de nossa República, quatro oficiais-generais do Exército vão depor hoje, simultaneamente, no inquérito que investiga a tentativa de golpe de estado: Augusto Heleno, Braga Netto, Almir Garnier e Paulo Sérgio Nogueira. Que não fiquem impunes”, disse. De todos os investigados, 15 possuem ligações com as Forças Armadas.
Para o dia de hoje, às 14h30, a Polícia Federal agendou o depoimento de 21 investigados sob suspeita de conspirar um golpe de Estado com o intuito de manter Jair Bolsonaro no poder. Os investigadores têm como objetivo, ao marcar os depoimentos no mesmo horário, evitar a coordenação de versões. Essa estratégia é similar à adotada nos depoimentos do inquérito que investiga a suposta venda de joias, envolvendo Bolsonaro e seus aliados.
Uma das justificativas para o silêncio tem relação com a versão das histórias. No processo penal, não há obrigação de produção de provas contra si. Dessa forma, o silêncio é aceito para os investigados (mas não se estende para testemunhas). Os réus acusados de golpismo estão sob medida cautelar que impede o contato de uns com os outros. Então, o silêncio era esperado, uma vez que eles não conseguiram comparar versões de defesa. A mentira também é amplamente possível nesses casos.
Veja a lista dos intimados:
Jair Bolsonaro: ex-presidente
General Augusto Heleno: ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI)
Anderson Torres: ex-ministro da Justiça
Marcelo Costa Câmara: ex-assessor de Bolsonaro, coronel da reserva
Mário Fernandes: ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, general da reserva
Tércio Arnaud: ex-assessor de Bolsonaro, possível integrante do “gabinete do ódio”
Almirante Almir Garnier: ex-comandante da Marinha
Valdemar Costa Neto: ex-deputado, presidente do PL
General Paulo Sérgio Nogueira: ex-ministro da Defesa
Cleverson Ney Magalhães: coronel da reserva lotado no Comando de Operações Terrestres
General Braga Netto: ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, candidato a vice de Bolsonaro
Hélio Ferreira Lima: ex-comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais
Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros: tenente-coronel do Exército
Ailton Gonçalves Moraes de Barros: advogado e ex-major do Exército
Rafael Martins Oliveira: major do Exército
Amauri Feres Saad: advogado que teria atuado na minuta do golpe
José Eduardo de Oliveira: padre bolsonarista, possível assessor da minuta do golpe
Filipe Garcia Martins: ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência
Éder Balbino: especialista em tecnologia que elaborou relatório para questionar urnas eletrônicas
Laércio Virgílio: general-de-brigada reformado
Ângelo Martins Denicoli: major da reserva, ex-diretor do Ministério da Saúde
General Estevam Theophilo: ex-comandante das Forças Especiais.
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