O ministro do STF Alexandre de Moraes, que havia emitido decisão proibindo a divulgação de várias reportagens onde a ex-mulher do presidente da Câmara Arthur Lira, Jullyene Lins, faz graves acusações a ele, voltou atrás e liberou algumas delas.
Alerta: a reportagem a seguir contém relatos de suposta violência (sexual / policial / de gênero) e pode impactar pessoas. A Fórum reproduz por se tratar de interesse jornalístico
Uma, da repórter Constança Rezende, publicada na Folha em 14 de janeiro de 2021, tem o sugestivo título: "Lira me esganou, fez ameaça para mudar depoimento e me usou como laranja, diz ex-mulher de candidato na Câmara". À época, Lira era candidato à presidência da Câmara dos Deputados.
Com tanto medo de Lira, Jullyene pediu à repórter que não fosse informado o local onde a entrevista se deu. E disse que chegou a pedir socorro a Damares Alves, ministra do governo Bolsonaro na época.
A senhora também enviou um pedido de ajuda em janeiro do ano passado [2020] ao Ministério da Mulher. Comecei desde 2019 a mandar vários emails denunciando, relatando o que estava passando, violência psicológica, física, patrimonial. Eu não saía de casa, quando saía era com uma turma de pessoas mais velhas. Porque eu tinha medo de andar na praia se chegasse algum sujeito, um flanelinha e me esfaqueasse. Como ele [Lira] disse, onde não há corpo não há crime, né?
Ele disse isso?
Ele me disse que onde não há corpo, não há crime, que "posso fazer qualquer coisa com você". Nos auges da ira dele, ele fala isso. Isso foi logo quando a gente se separou e me agrediu. Eu também não dirigia carro, tenho medo. E batida de trânsito? Um acidente? Vem um cara, se estranha comigo e me mata? É o que mais a gente vê hoje em dia. Eu sou refém da minha própria casa. Não tenho mais paz.
E o que o ministério da ministra Damares [Alves] fez?
Fui ouvida numa audiência virtual em setembro do ano passado, para ver que não é coisa de agora. Disseram que iriam mandar a documentação necessária a cada setor, como PGR [Procuradoria-Geral da República], MP [Ministério Público] de Alagoas, voltar para a Vara de Família, que a gente sabe que não resolve nada e ficou por isso mesmo. Disseram que iriam entrar em contato e ficou por isso mesmo.
Alguns trechos retirados do vídeo, com denúncias de Jullyene:
Aqui, como Arthur Lira teria reagido quando soube que Jullyene estava se relacionando com outra pessoa, após eles terem rompido o casamento de dez anos e dois filhos que tiveram.
"E ele soube que eu saí. que estava com uma pessoa, me relacionando com uma nova pessoa, e ele foi na minha casa. Quando eu abri a porta, me agrediu, me desferiu murro, soco, pontapé, me esganou. Ele parava, me xingava, me chamava de vagabunda, me chamava de outros nomes horríveis. Aquilo era o machismo puro. Era o sentimento de posse, que eu acho que ele tem até hoje, o sentimento de posse. Tudo tem que estar no domínio dele, no comando dele. Arrogância, prepotência. Ele é assim. A minha sorte foi a babá do meu mais velho que ouviu meus gritos e ligou pra minha mãe."
Aqui, Jullyene narra como e por que mudou seu depoimento no STF negando todas as acusações contra Lira. Ele já a havia ameaçado dizendo que se ela mantivesse o depoimento ele tiraria a guarda dos filhos dela..
"Ele sempre manda alguém dar um recado, fazer alguma coisa, um telefonema. Mas nesse caso ele foi lá na minha casa, entrou, sem eu saber. Acho que ninguém nem sabe, eles vão saber agora, de primeira mão. E me chamou pra conversar e disse, olha, você vê bem o que você vai dizer, não sei o que, porque aí eu resolvo sua vida, porque aí eu deixo tudo, a gente faz logo tudo, mas você tem que me livrar disso. Eu disse, não, mas é o certo, eu vou mentir? Ele deu uma tapa na mesa, ou você fala o que eu quero, ou você vai perder os meninos, porque quem manda aqui sou eu. O que eu quiser eu faço e aconteço. Ou você faz isso, ou você mais nunca, mais nunca, você vai ver seus filhos [Isso foi] uns dias antes de eu ser ouvida A partir disso foi quando meu advogado sumiu. Não achava mais pra saber qual era a orientação pra me dar, porque eu não sabia E aí foi, eu fui, foram me buscar em casa. O motorista dele foi me buscar em casa com o segurança Eu fui até lá, eu não ia inclusive, mesmo sob pena de responder, né, sob pena de alguma coisa, eu não iria pra essa audiência porque eu não sabia o que dizer. Eu fui, eu fui levada, o advogado que me acompanhou, foi do escritório dele [Lira], que defendia ele, disse que era pra eu falar, que eu devia falar, ou quando era pra falar alguma coisa. Se eu ia falar, eu era cutucada por baixo da mesa. E eu saí. Agora, depois disso, eu fiquei destruída. Porque não era eu. É muito desumano, como eu já falei. É muito constrangedor, machuca. Eu entrei em depressão."
Há ainda uma reportagem da Pública em vídeo com a acusação de estupro que Arthur Lira teria cometido contra Jullyene, que ainda se encontra sob censura.
No dia 5 de novembro de 2006, seis meses após terem se separado, Jullyene diz ter sido agredida e estuprada pelo parlamentar depois de ele saber que ela estaria se encontrando com um homem.
"Ele dizia: 'Sua puta, sua rapariga, você quer me desmoralizar?', enquanto puxava meu cabelo e me batia. Quando me deu uma rasteira, eu caí, e ele começou a me chutar", contou Jullyene.
Jullyene fez um Boletim de Ocorrência na polícia registrando a agressão. A ele se juntaram depoimentos de quatro testemunhas e o laudo médico que atestou hematomas nas pernas e nos braços.
Lira foi absolvido no STF (Supremo Tribunal Federal), após Jullyene mudar seu depoimento, segundo ela por ter sido ameaçada por ele: se não retirasse a queixa, perderia a guarda dos dois filhos. [UOL]
Somente no ano passado, Jullyene contou à Agência Pública o restante do que teria se passado naquela noite. A violência não foi apenas verbal nem de socos e tapas.
“Aconteceu uma coisa que eu nunca contei a ninguém, ele disse pra mim: ‘Você está atrás de macho, eu vou lhe mostrar quem é o homem’. Ele me puxava pelo cabelo e dizia: ‘O homem aqui… você é minha mulher, você não vai ter outro homem, você é minha, você é a mãe dos meus filhos. Você quer me desmoralizar, vamos lá para o quarto agora que eu vou te mostrar quem é o homem aqui, você não quer isso? Você não está querendo? Atrás de homem pra quê? Pra fuder? Então vou lhe mostrar agora.” Foi quando o deputado Arthur Lira a teria puxado pelo cabelo e a violentado.
A reportagem da Pública foi censurada e continua fora do ar.
Assista ao vídeo da Folha, anterior à acusação de estupro.
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