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Marco Cepik, novo diretor adjunto da Abin, e o general Augusto Heleno. Cepik deu entrevista ao jornal carioca O Globo e respondeu questionamentos sobre aparato criminoso instalado no órgão pelos bolsonaristas. Créditos: Redes sociais e Presidência da República Marco Cepik, novo diretor adjunto da Abin, e o general Augusto Heleno. Cepik deu entrevista ao jornal carioca O Globo e respondeu questionamentos sobre aparato criminoso instalado no órgão pelos bolsonaristas. Créditos: Redes sociais e Presidência da República

O novo diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Marco Cepik, que assumiu o lugar de Alessandro Moretti, após a instalação de um clima insustentável no governo por conta de graves suspeitas que recaíam sobre ele no escândalo criminoso da ‘Abin paralela’, deu uma entrevista ao jornal carioca O Globo e falou, dentro do possível, quais são suas impressões no que diz respeito à contaminação da agência após a descobertas feitas nos últimos dias pela Polícia Federal.

Questionado sobre o que se sabe, de fato, até aqui em relação ao uso da estrutura da Abin para realizar arapongagem clandestina de opositores e críticos do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Cepik confirmou vários episódios que ocorreram à margem da lei e citou casos específicos nos quais há farto teor probatório.

“Havia pessoas operando dentro da Abin e de outros órgãos públicos, nas polícias, para avançar a agenda do presidente de maneira irregular nesses órgãos. Estamos falando do uso de ferramentas e de procedimentos na gestão Ramagem na Abin. Mas existem, também, processos na Polícia Rodoviária Federal, e na própria Polícia Federal. Tudo isso é consistente com as declarações do presidente à época, que disse não confiar no sistema de inteligência brasileiro e que tinha a inteligência dele. Esta rede de colaboradores do presidente [Bolsonaro] era informal, aparentemente, mas ela se manifestou em relatórios, e algumas ações que agora estão vindo à luz. Existe uma preocupação legítima da cidadania quanto a isso. Espero que o resultado das apurações comprove ou não essa hipótese investigativa, e que os fatos e as condutas dos indivíduos sejam apurados e que eles respondam por isso”, explicou.

O repórter que o entrevistou também perguntou sobre uma possível participação de Bolsonaro, o que para a quase todos os analistas parace óbvio. O novo número 2 da Abin tergiversou, falou sobre como funcionam os processos legais para apurar essas supostas condutas, mas não citou nada relevante.

“O tempo da política e a ansiedade da cidadania para ter respostas sobre isso são um pouco diferentes dos tempos da investigação, da apuração e do juízo. Teremos de aguardar o final das investigações da Polícia Federal, o inquérito, e eventualmente a tradução disso num procedimento judicial para ter certeza. Não vou me antecipar. A Polícia Federal tem insistido, e a sindicância, de fato, apurou, que houve utilizações irregulares, mas a gente não sabe a extensão. As condutas individuais estão sendo averiguadas. Há indícios, e para saber se esses indícios vão se comprovar ou não, teremos de aguardar os resultados dos trabalhos apuratórios, tanto da Corregedoria em sede administrativa, quanto da Justiça, do inquérito policial, e depois do eventual processo de juízo”, disse.

Um assunto do qual Cepik se esquivou também é sobre a suposta participação do general da reserva Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão ao qual a Abin estava vinculada à época do governo Bolsonaro, e que foi intimado a depor na Polícia Federal na próxima semana.

“Não posso me manifestar quanto ao quotidiano administrativo do comportamento do general Heleno, que era o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O fato é que a Abin estava, naquele momento, subordinada à estrutura do GSI e, portanto, havia uma relação de autoridade entre o ministro e o diretor da Abin, Ramagem. Ele [Heleno] pode dizer que não esteve envolvido com o FirstMile, ou com a decisão disso ou daquilo, mas ele era o ministro-chefe e essas dúvidas da sociedade devem ser esclarecidas. Qual era o papel dele? Isso, como seria com qualquer agente público, deve ser esclarecido. Por omissão ou cometimento do ato, qual foi seu envolvimento nos atos que estão sendo investigados?”, explicou, ainda que sem explicar muita coisa.

Já em relação a militares das Forças Armadas no processo de desestabilização da democracia brasileira, o diretor-adjunto foi um pouco mais direto.

“Na CPMI do 8 de janeiro foram identificadas uma série de manifestações pró intervenção que envolviam também elementos das Forças Armadas. O quanto isso era tolerado, institucionalizado ou do conhecimento dos comandos é algo que deve ser investigado. Em relação à Abin, a CPMI demonstrou que a Abin cumpriu sua função legal e constitucional de alertar os riscos, monitorar e chamar a atenção para a possibilidade de que aqueles atos se consumassem. É sobre isso que posso falar. Sobre a Polícia Federal, o Exército, ou outros órgãos citados no relatório da CPMI não posso me manifestar”, opinou Cepik.

Para o novo número 2 da Agência Brasileira de Inteligência, o que o órgão precisa é voltar à sua essência e colocar-se como é de fato, um aparelho civil e que está a serviço do Estado brasileiro, não de interesses privados ou políticos.

“A Abin é uma agência civil, a maior parte dos servidores ingressou nos últimos concursos públicos. O que você teve foi a subordinação durante alguns anos ao GSI, que sim estava bastante militarizado, e, assim, o vínculo direto de assessoramento ao presidente era mediado por essa estrutura. A transferência da Abin para a Casa Civil era uma necessidade. Os funcionários da Abin são civis, técnicos, concursados, e agora têm a responsabilidade de aperfeiçoar os processos para o assessoramento presidencial. Não há que se falar de desmilitarização da Abin. As novas diretorias são pessoas que construíram as novas prioridades e a reestruturação de processos internos na agência. A maior parte dos cargos foram assumidos por servidores, com compromisso com o serviço público. É a retomada de um processo de profissionalização da Abin, contínuo desde a legislação de 1999, que sofreu um baque no governo passado. Essa é minha opinião pessoal, e respondo por ela”, concluiu Cepik.

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