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 Motosserra de Milei é o equivalente à 'arminha' de Bolsonaro: discurso violento semelhante Motosserra de Milei é o equivalente à 'arminha' de Bolsonaro: discurso violento semelhante

Milhões de argentinos devem comparecer às urnas em 19 de novembro para decidir se o próximo presidente do país será o peronista Sergio Massa ou o ultraliberal de extrema direita Javier Milei. A eleição, no entanto, não deve ser apenas mais um pleito, pois já está afetada pelas propostas do candidato conservador que representam um risco para a democracia e permitem o uso da violência na política. Essa é a opinião de Lucía Wegelin, socióloga argentina que investiga as raízes e as consequências dos discursos de ódio na esfera pública do país.

 

Em entrevista ao Brasil de Fato, a pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Democracia e Autoritarismo da Universidade Nacional de San Martín afirmou que as ideias do ultradireitista, como a dolarização da economia, a liberação de venda de órgãos humanos e até cogitar um “mercado de adoção de bebês”, dominaram o debate público desde a realização das primárias, em agosto, até agora, às vésperas do segundo turno. E o “efeito Milei” já pode ser observado no país, mesmo antes do resultado eleitoral.

“É evidente que suas propostas têm efeitos preocupantes, além do risco que significam para a convivência democrática, porque ele tem esse tipo de discurso que rompeu o limite do dizível. Não quero associá-lo diretamente ao fato, mas o atentado à Cristina Kirchner no ano passado, por exemplo, pode ser lido como um efeito que esse tipo de discurso tem na esfera pública. Isso faz com que um atentado a uma vice-presidenta seja possível, que a violência política volte a ser possível na Argentina, quando o discurso violento é legitimado por candidatos que supostamente estão no jogo democrático”, diz.
Polêmico, Milei estava na TV e fora da política

Conhecido polemista e frequentador de programas de opinião da TV argentina, Javier Milei não era uma figura tradicional do meio político e surpreendeu ao ser o mais votado nas primárias. No entanto, o candidato não conseguiu manter o mesmo desempenho no primeiro turno das presidenciais do último dia 22 de outubro e foi ultrapassado pelo atual ministro da Economia, o peronista Sergio Massa.

Grosseiro no modo de falar e muitas vezes admirado por tal postura, Milei baseou sua campanha em propostas inusitadas e, algumas delas, absurdas. No campo econômico, para solucionar o grave problema inflacionário e de falta de divisas, o candidato propõe o fechamento do Banco Central e a dolarização completa da economia argentina. Já em outras áreas, Milei se diz fiel às ideias do Estado mínimo e de um mercado regulador, a ponto de defender a legalização da compra e venda de órgãos humanos e até mesmo a criação de um “mercado de adoção de bebês e crianças”.

Apesar do choque que declarações desse tipo causam entre os eleitores, Lucía Wegelin acredita ser necessário levar a sério tais propostas e “continuar debatendo sobre elas para evidenciar que são propostas reais e não apenas excentricidades”.
Um desequilibrado que pode se tornar presidente

“Mais do que pensá-lo como um louco, poderíamos pensá-lo como alguém que está desequilibrado e que pode ser presidente. Porque um louco também pode ser um gênio e então teríamos conotação positiva. A estratégia de chamá-lo de louco deve ser melhorada ou ampliada com uma série de razões que mostrem que suas propostas são perigosas”, argumenta.

A pesquisadora ainda lembra que a ex-candidata Patrícia Bullrich, da coalizão de direita Juntos por el Cambio (JxC) que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, também adotou tons ameaçadores durante a campanha. Na última quinta-feira (26), Bullrich anunciou formalmente seu apoio a Milei no segundo turno, o que deve reforçar a transferência de votos ao ultraliberal.

“Algo muito discutido na mídia foi um dos spots de campanha da Bullrich que dizia algo que ela já repetia para a imprensa: ‘o candidato opositor, o kirchnerismo, deve ser eliminado, deve ser apagado do mapa’. Ou seja, a discussão política está fora do eixo, está fora dos limites da convivência. O adversário não é enfrentado com debate de ideias, com propostas e discursos, mas a proposta da Bullrich era eliminá-lo”, afirma Wegelin.
Negacionismo explícito

Para além de temas econômicos e sociais, a socióloga destaca que Milei assume uma postura violenta inclusive com pautas históricas como, por exemplo, negando os crimes cometidos pela ditadura militar argentina (1976 -1983).

“Em um debate presidencial, ele trouxe esse tema em um negacionismo explícito, quando questionou o número de desaparecidos. Não só questionou, ele disse que não são 30 mil desaparecidos, seriam cerca de 8 mil e que faltaria contar as vítimas das guerrilhas. Obviamente, trata-se de outro problema político, porque há vítimas, mas não são crimes de Estado. Os 30 mil são todas as pessoas que passaram por centros clandestinos de detenção durante a ditadura, onde esse tipo de crime está organizado. Não era um excesso, não era uma guerra, estava organizado, planejado e articulado por um Estado nacional”, afirma.

Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.
Milhões de argentinos devem comparecer às urnas em 19 de novembro para decidir se o próximo presidente do país será o peronista Sergio Massa ou o ultraliberal de extrema direita Javier Milei. A eleição, no entanto, não deve ser apenas mais um pleito, pois já está afetada pelas propostas do candidato conservador que representam um risco para a democracia e permitem o uso da violência na política. Essa é a opinião de Lucía Wegelin, socióloga argentina que investiga as raízes e as consequências dos discursos de ódio na esfera pública do país.

Em entrevista ao Brasil de Fato, a pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Democracia e Autoritarismo da Universidade Nacional de San Martín afirmou que as ideias do ultradireitista, como a dolarização da economia, a liberação de venda de órgãos humanos e até cogitar um “mercado de adoção de bebês”, dominaram o debate público desde a realização das primárias, em agosto, até agora, às vésperas do segundo turno. E o “efeito Milei” já pode ser observado no país, mesmo antes do resultado eleitoral.

“É evidente que suas propostas têm efeitos preocupantes, além do risco que significam para a convivência democrática, porque ele tem esse tipo de discurso que rompeu o limite do dizível. Não quero associá-lo diretamente ao fato, mas o atentado à Cristina Kirchner no ano passado, por exemplo, pode ser lido como um efeito que esse tipo de discurso tem na esfera pública. Isso faz com que um atentado a uma vice-presidenta seja possível, que a violência política volte a ser possível na Argentina, quando o discurso violento é legitimado por candidatos que supostamente estão no jogo democrático”, diz.
Polêmico, Milei estava na TV e fora da política

Conhecido polemista e frequentador de programas de opinião da TV argentina, Javier Milei não era uma figura tradicional do meio político e surpreendeu ao ser o mais votado nas primárias. No entanto, o candidato não conseguiu manter o mesmo desempenho no primeiro turno das presidenciais do último dia 22 de outubro e foi ultrapassado pelo atual ministro da Economia, o peronista Sergio Massa.

Grosseiro no modo de falar e muitas vezes admirado por tal postura, Milei baseou sua campanha em propostas inusitadas e, algumas delas, absurdas. No campo econômico, para solucionar o grave problema inflacionário e de falta de divisas, o candidato propõe o fechamento do Banco Central e a dolarização completa da economia argentina. Já em outras áreas, Milei se diz fiel às ideias do Estado mínimo e de um mercado regulador, a ponto de defender a legalização da compra e venda de órgãos humanos e até mesmo a criação de um “mercado de adoção de bebês e crianças”.

Apesar do choque que declarações desse tipo causam entre os eleitores, Lucía Wegelin acredita ser necessário levar a sério tais propostas e “continuar debatendo sobre elas para evidenciar que são propostas reais e não apenas excentricidades”.
Um desequilibrado que pode se tornar presidente

“Mais do que pensá-lo como um louco, poderíamos pensá-lo como alguém que está desequilibrado e que pode ser presidente. Porque um louco também pode ser um gênio e então teríamos conotação positiva. A estratégia de chamá-lo de louco deve ser melhorada ou ampliada com uma série de razões que mostrem que suas propostas são perigosas”, argumenta.

A pesquisadora ainda lembra que a ex-candidata Patrícia Bullrich, da coalizão de direita Juntos por el Cambio (JxC) que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, também adotou tons ameaçadores durante a campanha. Na última quinta-feira (26), Bullrich anunciou formalmente seu apoio a Milei no segundo turno, o que deve reforçar a transferência de votos ao ultraliberal.

“Algo muito discutido na mídia foi um dos spots de campanha da Bullrich que dizia algo que ela já repetia para a imprensa: ‘o candidato opositor, o kirchnerismo, deve ser eliminado, deve ser apagado do mapa’. Ou seja, a discussão política está fora do eixo, está fora dos limites da convivência. O adversário não é enfrentado com debate de ideias, com propostas e discursos, mas a proposta da Bullrich era eliminá-lo”, afirma Wegelin.
Negacionismo explícito

Para além de temas econômicos e sociais, a socióloga destaca que Milei assume uma postura violenta inclusive com pautas históricas como, por exemplo, negando os crimes cometidos pela ditadura militar argentina (1976 -1983).

“Em um debate presidencial, ele trouxe esse tema em um negacionismo explícito, quando questionou o número de desaparecidos. Não só questionou, ele disse que não são 30 mil desaparecidos, seriam cerca de 8 mil e que faltaria contar as vítimas das guerrilhas. Obviamente, trata-se de outro problema político, porque há vítimas, mas não são crimes de Estado. Os 30 mil são todas as pessoas que passaram por centros clandestinos de detenção durante a ditadura, onde esse tipo de crime está organizado. Não era um excesso, não era uma guerra, estava organizado, planejado e articulado por um Estado nacional”, afirma.

Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.

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