Um grupo de paleontólogos desenterrou os restos esqueléticos fossilizados de um tipo desconhecido de crocodilo, com a parte abdominal bem preservada. Um fator que chamou a atenção dos especialistas foi a presença de partes de um dinossauro ornitópode juvenil dentro da área do estômago do réptil pré-histórico.
Evidências apontam que o fóssil se trata de um Confractosuchus sauroktonos, uma espécie de crocodilo de água doce tão antiga quanto o período Cretáceo. A descoberta ocorreu em Queensland, na Austrália, onde o animal viveu cerca de 145 milhões de anos atrás, segundo os pesquisadores. O material foi publicado na revista científica Gondwana Research na sexta-feira (11).
Entre os restos fossilizados do animal, estão um crânio quase completo com dentição e esqueleto pós-craniano sem a cauda e os membros posteriores.
Dentro do estômago do crocodilo de 2,5 metros de comprimento, os especialistas identificaram que animal parcialmente digerido era um jovem ornitópode, espécie de grandes dinossauros herbívoros. "Coletivamente, os restos ornitópodes compreendem três vértebras dorsais, dois centros sacrais, três centros caudais distais, ambos fêmures proximais, tíbia esquerda e vários outros elementos; todos presumivelmente de um único indivíduo", diz o artigo. "Esses conteúdos intestinais representam estranhamente os primeiros restos esqueléticos registrados de ornitópodes da região e podem representar uma nova espécie".
De acordo com o Museu Australiano da Era dos Dinossauros (AAOD, na sigla em inglês), responsável pela descoberta, essa é a primeira evidência de um crocodilo predando um dinossauro na Austrália.
A princípio, a amostra do Confractosuchus sauroktonos foi preservada em uma massa da rocha sedimentar siltito. No entanto, o fragmento sofreu impactos estruturais que, consequentemente, revelaram vários ossos pequenos do esqueleto da outra criatura.
Para identificar os ossos dentro do crocodilo, os especialistas usaram raios X e microtomografias. O processo também contou com recursos avançados de computadorização, para produzir uma reconstrução em 3D dos ossos. Como 35% do crocodilo foi preservado, os pesquisadores conseguiram recuperar a maior parte do crânio do réptil. Com estes esforços para o reconhecimento do crocodilo, até então desconhecido, foi possível também descobrir que a presa dentro do estômago era um filhote, de cerca de 1,7 kg.
"Enquanto o Confractosuchus não era especializado em comer dinossauros, ele não ignoraria uma refeição fácil, como um jovem ornitópode como este encontrado em seu estômago", declarou Matt White, pesquisador associado ao AAOD. "É provável que os dinossauros constituíssem uma parte importante dos recursos da teia alimentar ecológica no Cretáceo".
White acredita que esta descoberta rara pode abrir portas aos pesquisadores para novas informações sobre a fauna que vivia no território australiano no passado e suas condições de sobrevivência. "Dada a falta de espécimes globais comparáveis, esse crocodilo pré-histórico e sua última refeição continuarão a prover pistas para as relações e comportamentos de animais que habitaram a Austrália há milhões de anos."
O Confractosuchus sauroktonos é o segundo crocodilo revelado na região da Formação Winton, depósito geológico milenar no estado de Queensland. No assentamento, foi identificado um pterossauro de 96 milhões de anos em outubro de 2019, além de outros importantes fósseis.
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