Um dos símbolos do sucesso da Bahia na indústria de energia renovável, a fábrica de componentes para aerogeradores da GE Renewable Energy, em Camaçari, antiga Alstom, tem futuro incerto. A empresa norte-americana anunciou que deixará de produzir as turbinas eólicas no país.
Embora não tenha informado o número de trabalhadores na unidade atualmente, quando a primeira fábrica do tipo na América Latina foi inaugurada, em 2011, foram anunciados 235 empregos diretos e outros 500 indiretos, na fase inicial.
Para o setor eólico baiano, a perda da GE é tão impactante quanto a saída da Ford, no ano passado, foi para a indústria brasileira. Trata-se da maior empresa de energia do mundo, para começo de conversa, e que fazia aqui um dos itens mais importantes na estrutura de produção da energia eólica, o “coração” da operação. O primeiro parque eólico a entrar em operação na Bahia, em Brotas de Macaúbas, por exemplo, tinha equipamentos da fábrica.
O esforço para atrair a fábrica exigiu muita conversa e negociação por parte do governo do estado, tanto do ex-governador Jaques Wagner, quanto do ex-secretário de Indústria e Comércio, James Correia. Foram muitas viagens e conversas para atrair a empresa.
“A Bahia mudou a economia do sertão com as eólicas e todos que investiram tiveram muito retorno. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) projetou US$ 10 bilhões na Bahia até 2023. É um enorme volume de investimentos no setor, mas isso depende muito do governo prover a estrutura necessária”, avisa o ex-secretário. Ele cita licenciamento, regularização fundiária e estrutura para movimentação dos equipamentos. “Tudo está evoluindo, menos a estratégia do governo”, lamenta James Correia.
Não faltou aviso...
Quem conhece o histórico da operação da GE aqui na Bahia conta que a direção da multinacional procurou o governo do estado há aproximadamente dois anos para uma conversa. A própria presidente da empresa no Brasil, Viveka Kaitila, esteve no CAB para tratar do assunto. O comando da empresa sinalizou que enfrentava dificuldades na produção por aqui, mas saiu sem nenhum tipo de sinalização efetiva de apoio.
Na época, a direção da GE pensava em manter a fábrica em Camaçari, porém voltada para o mercado externo. Precisava, entre outras coisas, de estrutura portuária para facilitar o escoamento. E a ideia era que essa estrutura fosse utilizada também pelos demais fabricantes de equipamentos eólicos. A conversa não avançou.
A relação da empresa com o governo, por sinal, foi marcada por algumas idas e vindas. Antes de adquirir a fábrica da Alstom, a GE firmou entendimentos para construir uma fábrica no Sul da Bahia, em Ilhéus, o que nunca aconteceu.
Contratos em andamento
A fábrica tem contratos em carteira e trabalha com contratos de exportação. Internamente, o anúncio é tratado como uma "pausa nas vendas de máquinas com conteúdo local". Mas as áreas de serviços – o que inclui operação e manutenção – e fabricação irão cumprir os contratos e projetos contratados pelos clientes.
Questionada sobre o futuro da unidade, a empresa respondeu, através de uma nota, que compartilhou com os "funcionários na América Latina um conjunto de ações relacionadas à transformação do nosso negócio de Onshore Wind Internacional que visam uma adequação à realidade atual do mercado, preparando o negócio para o futuro".
"Reforçamos nosso total comprometimento em servir nossos clientes e apoiar nossos funcionários na região", conclui a empresa.
A reportagem entrou em contato com o Governo do Estado, mas até a publicação desta reportagem não obteve resposta. A Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) também foi procurada, mas não houve retorno.
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