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Homem que aluga o imóvel, conhecido como Roque do Ventilador, vinha acumulando entulhos no prédio de dez pavimentos há 10 anos (Foto: Reprodução)Homem que aluga o imóvel, conhecido como Roque do Ventilador, vinha acumulando entulhos no prédio de dez pavimentos há 10 anos (Foto: Reprodução)

Vizinhos já tinham tentado se mobilizar contra homem que alugava imóvel, que é acumulador

Para retirar todo o entulho que estava dentro do prédio de três andares antes deste ser consumido pelas chamas na noite de terça-feira (12), seria necessário encher 30 caçambas, segundo a Defesa Civil de Camaçari. E não é exagero. O homem que aluga o imóvel, conhecido como Roque do Ventilador, vinha acumulando entulhos no prédio de dez pavimentos há 10 anos.

"Eu já tinha feito uma vistoria, já tinha detectado que o prédio estava em ruínas. Há uns 60 dias a gente estava fazendo todo o trâmite pra poder retirar ele (Roque do Ventilador), remover todas as coisas, mas não deu tempo. Porque se tratando de uma pessoa que aparentemente tem um juízo perfeito, embora seja um acumulador, para você entrar no local e fazer toda uma limpeza,  precisa de toda uma autorização judicial, toda uma conversa, envolvendo  psicólogos.  Então, é uma coisa que não é rápida. E antes disso, infelizmente, aconteceu o sinistro", declarou coordenador da Defesa Civil do município, Ivanaldo Soares, manhã desta quarta-feira (13).

O incêndio durou aproximadamente 13 horas e destruiu o prédio, localizado na Rua Padre Paulo Tanucci, bairro de Nova Vitória. O fogo começou por volta das 16h da terça-feira (12) e só foi controlado durante a madrugada desta quarta-feira. Apesar da extensão e da gravidade, não houve feridos. "E graças a Deus, ele (Roque do Ventilador) não se acidentou. A gente conseguiu tirar também uma cachorrinha daí dentro, único animal", disse Ivonaldo, após algumas pessoas relatarem que no prédio ficavam alguns gatos.

Roque do Ventilador chegou a acompanhar o trabalho dos bombeiros e da Defesa Civil. "Ele ficou um pouco e depois sumiu. Acionei o serviço social da Prefeitura, o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social)  e também o pessoal do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial)  para atendê-lo, mas ninguém sabe dele. Ele apareceu ontem à noite até umas 20h, depois foi embora e não apareceu mais", contou.

Explosões

As chamas consumiram os três andares do prédio de Roque do Ventilador, onde funciona uma oficina para conserto de eletroeletrônicos e outros equipamentos. O fogo se estendeu para uma casa que ele alugou como extensão da oficina.

"Havia ventiladores, televisões, computadores velho, geladeira e outros componentes do chão até o teto.  Ele consertava, mas acumulava. Ele mesmo disse que foi um ventilador que pegou fogo logo após ele terminar o conserto, mas  a gente acredita que foi um curto-circuito,  devido às inúmeras ligações clandestinas no prédio", explicou Ivanaldo, acrescentando que só uma perícia poderá apontar a causa do acidente.

Ao lado do prédio que originou o incêndio, há um edifício de dois andares, onde o segundo pavimento é uma residência e o primeiro um estúdio de tatuagem. "Eu e meu marido estávamos no estúdio quando o fogo começou. Na hora foi aquele corre-corre pra retirar as coisas. Colocamos tudo na casa de um amigo aqui perto. Tentamos até ajudar apagar o fogo, mas não teve jeito, já tinha tomado todo o prédio. O jeito foi esperar os bombeiros agirem" , contou a comerciante. As pessoas que moram no andar de cima do estúdio não foram localizadas pela reportagem. "Mas estão todos bem. Ontem mesmo foram para casa de parentes", relatou a comerciante.

A dona de casa Ivonete Santana de Jesus, 36, reside em frente ao prédio que pegou fogo. Ela disse que os moradores viveram momentos de pânico. "Foi uma agonia. Como lá tinha muita televisão velha, vários tubos de imagens começaram a explodir e todo mundo começou a gritar e sair de casa. O medo maior era a explosão de um botijão de gás. Apesar de tanto lixo, sabíamos que ele (Roque do Ventilador) cozinhava lá dentro.  Ninguém conseguiu dormir depois. Era muita fumaça preta. Era sufocante. Algumas pessoas passaram mal", disse ela.

Os moradores da Rua Macali também ficaram em pânico. Isso porque algumas casas  ficam atrás do local do incêndio. "Quando o fogo começou, a gente já estava tenso, pois as chamas estavam concentradas na frente do prédio. Quando foi lá para umas 22h, duas lajes caíram e o fogo se alastrou para o fundo. Todo mundo saiu de casa. A rua ficou cheia de gente. Aqui em casa mesmo, não ficou ninguém", contou um adolescente de 17 anos, que mora com os pais e um irmão.

Parte dos  bombeiros que trabalhava na Rua Padre Paulo Tanucci foi para a Rua Macali e começou a combater as chamas no fundo do prédio. Pouco depois das 2h a situação foi controlada. "Mesmo assim ninguém conseguiu dormir. Coloquei meus filhos na cama, mas não pegaram no sono, mesmo com ventilador, purificador de ar e mesmo colocando toalha molhada nos cantos das portas para a fumaça não passar", contou a dona de casa Joice de Oliveira, 25.

Ela disse que os moradores temiam a tragédia e já tinham se mobilizado para a retirada dos entulhos. "Fizemos há dois meses um abaixo-assinado pedindo à Prefeitura para tirar todo o lixo e nada. Foram três folhas preenchidas. Eu mesma fui ajudar a pegar as assinaturas. Estes dias descobrimos que outros abaixo-assinados foram feitos, mas não tiveram efeito porque é preciso uma decisão judicial para retirar os entulhos, contou Joice.

Os moradores disseram ainda que alertaram a proprietária do imóvel que era alugado por Roque do Ventilador.  "A filha dela passou para a gente que não ia perder o dinheiro do aluguel, R$ 600. Mas depois incêndio,  a dona falou que não sabia dos entulhos. Mas como não sabe? Quem passa na rua logo vê a montanha de bagulho e a filha dela mora aqui no bairro e passa todos os dias em frente ao local do incêndio", disse ela.  A reportagem tentou localizar a dona do imóvel, sem sucesso.

Acumulador

A comunidade disse que Roque do Ventilador nem sempre foi um acumulador. "Ele era motorista caminhoneiro e teve a perda da esposa e do filho. Eu acho que daí se desencadeou  tudo isso", contou Ivanaldo Soares. "Ele ficou muito abatido. Mas piorou quando soube que ela morreu. Então, ele, do nada, começou a juntar as coisas dentro de casa. Foi juntando, juntando, que não teve mais espaço e fez do local um depósito e foi morar em outra casa", completou um morador .

Roque há três anos reside numa avenida de casas a cerca de 15 metros do local do incêndio. A reportagem esteve lá. "Ele não veio até agora. Não sabemos onde ele está", disse um dos moradores. Ele disse que pouco sabia da vida de Roque. "Ele chega e não fala com ninguém. Entra aí e se esconde. No dia seguinte, sai e passa o dia inteiro em frente ao depósito", contou.

A dona de casa Ivone de Jesus disse que Roque do Ventilador é uma tranquila. "É um senhor que não mexia com ninguém. Tudo que a gente tinha para consertar, dava pra ele, que resolvia. Mas o problema é que ele pega as coisas das pessoas que não prestavam mais ou que encontrava na rua e levava para o depósito. Até ontem estava com pena dele, mas hoje não mais. Foram tantos transtornos que aconteceram por dele, que não tenho dó", declarou.

Agressão


Na manhã desta quarta-feira, a dona de casa Ivonete Santana de Jesus acusou um policial militar de ter dado um tapa no rosto do marido dela, o vigilante Emanuel Assis Souza, 33. Ela disse que o marido chegava em casa do trabalho e ele passou por baixo da fita de isolamento usada para evitar que as pessoas circulassem do entorno do local do incêndio, afim de evitar novos acidentes. "Ele furou o cordão porque a nossa casa fica na frente do prédio que pegou fogo. Na hora, o policial xingou ele. Meu marido revidou, xingando também. Foi então, que o policial deu tapa no rosto dele, na frente da família, inclusive do filho pequeno", contou ela.

Minutos depois, Emanuel foi conduzido a uma delegacia após dar entrevista a uma emissora de TV, que fazia matéria sobre o incêndio. "Meu marido contou ao vivo que levou um tapa do policial. Quando a transmissão acabou, o PM jogou na viatura. Eu perguntei ao policial, porque estava fazendo isso e ele me respondeu que, se o meu marido ficasse calado, não falasse do tapa à reportagem, não precisaria levá-lo à delegacia", declarou Ivonete indignada. Até às 13h, ela estava sem notícias de Emanuel.  

A Polícia Militar informou que o 12ª Batalhão foi até o local ajudar no isolamento da área, mas que um homem que se recusou a se identificar tentou "de maneira agressiva" furar o bloqueio, xingando os policiais. A nota não informa o que aconteceu em seguida, sequer citando a condução do vigilante. A PM diz que se algum cidadão se sentir coagido com a ação da corporação, deve fazer uma denúncia na Corregedoria da PM-BA, na Pituba, ou pelo e-mail Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. .

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Vídeo - Prédio pega fogo e outros três precisam ser evacuados no bairro Nova Vitória

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